A Espanha que conquistou o mundo com o seu futebol rendilhado tem agora colada outra etiqueta: chata. Saturação, frustração ou apenas inveja? A crítica já não é de agora, mas ganhou novo ânimo no Euro 2012. Há hashtags no Twitter para quem quer falar da #boringspain, os jogadores são questionados recorrentemente sobre o assunto.

Foi assim nesta terça-feira com Iniesta e Del Bosque, na véspera da meia-final com Portugal. «O futebol é grande porque nem todos gostam do mesmo jogo, nem todos concordam na avaliação de um jogo. Temos o nosso estilo, o nosso jogo, fomos bem sucedidos com este estilo, ganhámos dois títulos assim. Quando se vê uma equipa sempre a atacar e que não deixa espaço ao adversário, não é tão atraente como se fosse um jogo aberto, como se fossem duas equipas a querer vencer o jogo. Mas este foi o estilo que nos levou ao sucesso», disse o médio espanhol.

Xabi Alonso alinhou no mesmo tom, quando lhe perguntaram o que tinha a dizer sobre o facto de muitos adeptos considerarem o jogo da Espanha aborrecido: «É uma opinião e é tão válida como outra qualquer. Mas o que quer que as pessoas digam nós não vamos mudar.»

A ideia de que ver jogar a «Roja» se tornou entediante está por todo o lado. O «El Pais» publicou uma reportagem sobre a forma como os jogadores da Alemanha viram o jogo dos quartos de final com a França, no sábado, e conta que houve comentários como «Não têm profundidade», ou «Por que jogam sem avançados?»

O jornal espanhol diz também que no campo alemão foi amplamente citado um comentário lido no jornal «Guardian», que dizia isto: «Ver a Espanha é como ir à escola: sabes que deves lá estar para aprender, mas estás à espera que toque a campainha para te ires embora.»

Em Itália, o título do «La Repubblica» sobre essa vitória da «Roja», por 2-0, ia pelo mesmo caminho. «Bom, soberbo e imbatível, mas os campeões são uma chatice.» O que é curioso vindo de Itália, a pátria do futebol contido e calculista.

Para fora, no entanto, o discurso dos adversários que continuam em competição no Esuro 2012 é de respeito. O capitão da Alemanha, Philip Lahm, diz que a Espanha «ainda é a equipa a bater», e «define a referência» para todas as outras: «É fantástica a forma como trabalham a bola e mantêm os adversários longe da baliza.» O madridista Mesut Ozil alinha pelo mesmo tom: «Aborrecida? A Espanha não tem que provar nada a ninguém.»

As críticas subiram de tom neste Euro 2012 perante um onze espanhol sem ponta de lança de raiz, e que deixa a ideia de estar pouco virado para a baliza. Não é novidade, a Espanha em 2010 foi o campeão do mundo com menos golos marcados de sempre, um total de oito até ao título. Mas os números também servem para desconstruir a teoria. No Euro 2012 esta Espanha só tem menos golos marcados que a Alemanha e também é a segunda equipa com mais remates enquadrados com a baliza. Continua a ser uma máquina para a qual os adversários não têm conseguido encontrar antídoto. Goste-se ou não.