Ponto forte: capacidade para controlar o jogo
A grande mudança alcançada por André Villas-Boas no Zenit está relacionada com a forma como incutiu à equipa russa a capacidade de controlar o jogo. Isto é conseguido através de uma circulação de bola muito sólida e da forma rápida como o Zenit reage às perdas de bola. A equipa do técnico português tem sido capaz de gerir o ritmo do jogo a seu gosto, e adequá-lo ao resultado em vigor. O poder de explosão está agora melhor estruturado.

Ponto fraco: flancos desprotegidos no momento da perda
Os extremos do Zenit (Hulk e Shatov, normalmente) têm tendência para procurar zonas interiores, e não raras vezes os três médios ofensivos aparecem a pisar os mesmos terrenos, ao centro. Esta é uma postura que costuma criar desequilíbrios ofensivamente, mas que acarreta também riscos defensivos no momento da perda de bola. Se o adversário for rápido e conseguir escapar ao primeiro momento de pressão pode libertar jogadores pelos corredores.

A figura: Hulk
O brasileiro vai «partilhando» este estatuto com Danny, mas neste início de época tem sido mais influente do que o português. Hulk é o melhor marcador da equipa, com sete tentos, e o elemento com mais assistências: seis. Tem jogado preferencialmente pela esquerda, mas sempre com liberdade para aparecer em zonas interiores, junto de Rondón, ou para combinações com Danny. 

Onze habitual:



LODYGIN: apenas cinco golos sofridos esta época, em onze jogos, mas ainda assim revelando alguma intranquilidade, nomeadamente em lances pelo ar, sejam remates para zonas superiores da baliza ou mesmo a resposta a cruzamentos. O último jogo, com o Dinamo Moscovo, é exemplo disto mesmo.

SMOLNIKOV: elemento muito fiável, parece cada vez mais querer arrebatar a titularidade a Anyukov no lado direito da defesa, embora seja também alternativa a Criscito como lateral esquerdo. Rápido e agressivo, gosta de subir no terreno, até por ter rotinas de médio-ala.

GARAY: foi eleito pelos adeptos do Zenit o melhor jogador de agosto, o que atesta a forma rápida como conquistou São Petersburgo. Bem conhecido dos portugueses e dos adeptos do Benfica em particular, veio dar muita segurança e tranquilidade à defesa do Zenit, embora até esteja a jogar como central pela direita, e não pela esquerda, como acontecia no Benfica.

LOMBAERTS: o central belga tem falhado alguns jogos deste início de época mas será, ao que tudo indica, o parceiro preferencial de Garay no eixo defensivo. É provável que fique um pouco na sombra do argentino, mas destaca-se também pela tranquilidade que exibe em campo e por uma boa técnica a iniciar a construção de jogo.

CRISCITO: resistiu à chegada de Ansaldi, e o argentino até acabou por ser cedido esta época ao Atlético de Madrid. Talvez seja o elo mais fraco do «onze», mas parece estar com novo fôlego, até pelos dois golos já apontados.

JAVI GARCÍA: também dispensa apresentações em Portugal e em particular no Estádio da Luz. Recrutado ao Manchester City veio dar aos centrais a proteção que estava a faltar, assumindo-se como a referência equilibradora a meio-campo.

WITSEL: disse recentemente que Villas-Boas o libertou, e a contratação de Javi García só veio reforçar esta ideia. Está muito menos preso defensivamente, e por vezes até aparece à frente do «duplo pivot», como médio mais adiantado na zona central.

SHATOV: centrar atenções apenas em Hulk e Danny será um erro crasso perante a qualidade deste médio ofensivo capaz de jogar pela ala ou a «10», e que nesta segunda época em São Petersburgo parece fixar-se em definitivo no «onze». Muito evoluído tecnicamente, encaixa muito bem no tridente com Danny e Hulk.

DANNY: com André Villas-Boas tem aparecido como «10», mas com tendência para cair um pouco para a esquerda, procurando combinações curtas e rápidas com Hulk, que faz o movimento contrário. Com dois golos e três assistências já esta época, continua a mostrar uma influência que muitas vezes passa despercebida em Portugal.

RONDÓN: contratado a meio da época passada conquistou logo a titularidade e justificou-a com oito golos em doze jogos. Esta época leva seis tentos em dez encontros, pelo que continua a apresentar-se como um ponta de lança bastante completo, que segura bem a bola na frente (os passes longos são sempre para ele) e que sabe responder às inúmeras solicitações para tabela dos médios criativos, sem esquecer a comprovada eficácia no momento de finalizar.

Outras opções:

Faizulin começou a época como titular no «duplo pivot» de meio-campo, mas a chegada de Javi García tende a mudar esse estatuto, e de qualquer forma o médio russo falha o jogo da Luz devido a castigo. A outra opção para esta zona do terreno é Tymoschuk, o experiente médio ucraniano, já em final de carreira (35 anos). 
Kerzhakov é a alternativa a Rondón para o lugar de ponta de lança, e uma opção muito válida, como atesta o registo de carreira construído até ao momento. Esta época já marcou três golos, embora dois tenham sido de grande penalidade. Refira-se, no entanto, que no último jogo Villas-Boas apostou em Arshavin para a frente de ataque, embora o antigo jogador do Arsenal seja uma opção sobretudo para as alas, para além de Ryazantsev.
O português Neto é a «sombra» de Garay e Lombaerts, e tem aproveitado sobretudo algumas ausências do belga para aparecer de início, respondendo à altura. Anyukov, de 31 anos, tem perdido algum espaço para Smolnikov, mas ainda assim continua a ser utilizado com alguma regularidade no lado direito da defesa. É um elemento experiência e que fecha bem junto dos centrais, mas que apresenta já evidentes dificuldades em velocidade e que apoia pouco o ataque.

Análise detalhada:

O Zenit perdeu o primeiro jogo da época, no Chipre (para a Liga dos Campeões), mas desde então apresenta um registo cem por cento vitorioso, confirmando os bons sinais que já tinham sido deixados na reta final da temporada passada, quando André Villas-Boas assumiu o comando técnico da equipa.
Em São Petersburgo o treinador português parece, de resto, estar a ter maior facilidade a incutir as suas ideias do que teve em Londres. No Zenit identificam-se sinais do autoritarismo que o FC Porto de Villas-Boas tinha, procurando assim sempre o controlo do jogo com uma posse de bola consistente, e reagindo à perda da mesma de forma extremamente rápida e pressionante.

Esses são princípios que se vão identificando, embora num plano ainda inicial, e mesmo com uma disposição tática diferente. O Zenit tem apresentado um esquema de 4x2x3x1, embora a contratação de Javi García venha dar à equipa uma referência para jogar à frente da defesa, libertando um pouco mais o outro médio (normalmente Witsel).

As características dos centrais e dos médios mais defensivos dão qualidade à primeira fase de construção de jogo, fazendo depois a bola chegar ao trio de médios ofensivos (Shatov, Danny e Hulk), especialista depois em fazer acelerar o jogo, tanto com a bola controlada como em tabelas curtas e rápidas. Estes três jogadores costuma aparecer muito próximos uns dos outros, sobretudo na zona central, o que promove a projeção ofensiva dos laterais, sobretudo Smolnikov, embora a equipa surpreenda mais com o jogo interior do que na exploração dos flancos (imagens A e B da galeria acima apresentada).  Se com Luciano Spaletti o Zenit era uma equipa mais talhada para o contra-ataque, agora consegue conservar essa qualidade, até pela velocidade de Hulk e Danny, mas evoluiu consideravelmente ao nível do ataque organizado, encontrando espaços através de uma paciente circulação de bola. 

A defender, em vez de procurar um bloco coeso em linhas recuadas, nota-se essencialmente a tal intenção de estar o menos tempo possível sem a bola. Ou seja, tentar recuperá-la logo depois de a perder, com uma reação rápida e pressionante de quem está por perto.

Quando o adversário sai em ataque organizado o Zenit procura tapar as linhas de passe logo na zona do meio-campo, para forçar o jogo direto, ou então encaminhar o opositor para os corredores, e aí pressionar de forma a forçar o erro. Por vezes Danny forma uma primeira linha defensiva ao lado de Rondón, mas a sua missão principal apresenta-se quando a bola chega ao lateral: aí tenta evitar um passe interior, formando uma linha com o extremo desse lado, que sai ao portador da bola, e com o ponta de lança (imagem C).