O Mónaco é uma equipa que dispensa apresentações. É o clube que tem reunido, ao longo dos anos, o maior número de portugueses em solo gaulês. Para além disso, protagonizou uma temporada extraordinária coroada com a conquista do título francês.

O campeão francês começou a época com a perda da Supertaça, jogo em que foi derrotado por 2-1 frente ao Paris-Saint Germain. A partir daí, iniciou uma série de quatro triunfos consecutivos travados apenas pela goleada sofrida diante do Nice. Seguiu-se um empate frente ao Leipzig, na Alemanha e um regresso às vitórias na principal competição interna. Recebe o FC Porto num bom momento, moralizado pelo facto de ter encurtado distâncias para o rival da capital na última ronda da Ligue 1.

Porém, é importante salientar que este Mónaco orientado por Leonardo Jardim é diferente daquele que encantou o Velho Continente no último ano. Mendy, Bakayoko, Bernardo Silva e Mbappé já não defendem as cores do clube do Principado e a equipa está em fase de reconstrução.

Os resultados espelham o bom trabalho realizado pelo treinador português numa equipa jovem, apesar da visível perda de qualidade no processo ofensivo. O Mónaco caracteriza-se por ser uma equipa pragmática e que convive bem sem ter bola durante o jogo. Usa preferencialmente os corredores para atacar e é frequente a procura de cruzamentos. Através de uma boa ocupação das zonas de finalização, têm conseguido finalizar com sucesso esse tipo de lances. Ao mesmo tempo, é uma equipa que não consegue encurtar as distâncias entrelinhas, ora quando tenta pressionar o adversário na primeira fase de construção, ora quando perde a bola em zonas adiantadas.




No plantel do Mónaco há velhos conhecidos e com grandes ligações a Portugal: João Moutinho e Falcao. Em comum, está o facto de terem escrito em conjunto uma parte da história do FC Porto, adversário esta terça-feira. Para além dos ex-portistas, há ainda Rony Lopes, Diego Benaglio e Fabinho, jogadores que passaram por terras lusitanas nos primórdios das respetivas carreiras.

Nos restantes elementos do plantel,  existem ainda jogadores de qualidade mundial e que merecem especial atenção: Stevan Jovetic e Thomas Lemar.

Leonardo Jardim montou a equipa em 4x4x2 na grande maioria dos jogos disputados até ao momento embora tenha alternado quase sempre o parceiro de ataque de Falcao. Ao que tudo indica, Jovetic é quem faz companhia ao colombiano. O montenegrino tem bastante mobilidade e capacidade para jogar entrelinhas. Por vezes, assume-se mesmo como organizador de jogo.

Porém, num dos jogos de maior grau de dificuldade – frente ao Leipzig – optou pelo 4x3x3, acrescentando Tielemans à dupla Moutinho e Fabinho. Nesse sistema Falcao, o artilheiro-mor da equipa, assume-se como o único avançado dos monegascos.

 

Médios demasiado baixos. Tielemans entrelinhas mas escondido do jogo.


Uma das principais limitações do adversário do FC Porto está na primeira fase de construção, sobretudo devido ao posicionamento dos médios que baixam simultaneamente para pegar jogo. Um pouco à imagem do último adversário dos dragões na Liga milionária. O facto de Sidibé ainda não ter atingido o nível exibicional da última época, condiciona um pouco a saída na primeira fase de construção. O outro lateral usado por Jardim, Almamy Touré, não tem a mesma facilidade em romper linhas. Por isso, os monegascos procuram sistematicamente o lateral esquerdo, Jorge, para sair em construção.

Mesmo as saídas pelos laterais são poucos eficazes, o que obriga muitas vezes os centrais a recorrerem a um jogo mais direto.

Uma vez mais, médios não se mostram.

Nesta primeira fase de construção, por vezes, os dois médios (Moutinho e Fabinho) baixam para receber de frente para o jogo. Contudo, acabam por pisar terrenos muito próximos, o que impede a progressão da equipa de forma apoiada e obrigam os centrais a fazer passes longos para os homens mais adiantados.

Outra das lacunas desta equipa é o facto de terem dificuldades enormes para jogar em zonas interiores. Tanto Rony Lopes como Rachid Ghezzal não têm a capacidade de Bernardo Silva para jogar entrelinhas. Desse modo, tem que ser Thomas Lemar a fletir da esquerda para o meio para procurar dentro do bloco adversário. Nesse momento particular do jogo, o jovem francês revela enormes facilidades para acelerar o ritmo de jogo e romper linhas, sobretudo em condução.

Quando a bola não entra nas costas dos médios contrários, é comum ver Glik e Jemerson, os habituais titulares, lançarem bolas para os dois homens mais adiantados, como já referido. Aquando desse momento, os médios encurtam o espaço para a linha média e procura rapidamente ganhar a dita segunda bola. Quando a ganham, já dentro do meio-campo adversário, tentam servir os laterais ou alas de forma a sair um cruzamento para a área.


 

Com apoios dentro, Fabinho prefere jogar para fora. Procura constante pelos corredores laterais.



A grande virtude desta equipa é saber explorar aqueles que são os seus pontos fortes, ou seja, promover situações vantajosas para os jogadores que ocupam os flancos conseguirem tirar cruzamentos. No interior da área é comum ver três ou quatro jogadores em zonas de finalização, com destaque para El Tigre, intratável, quer nos movimentos de arrasto, quer a concluir as jogadas.

É importante referir que o Mónaco nem sempre chega ao último terço com qualidade. Porém, quando Moutinho, Lemar, Rony Lopes, Ghezzal ou Jovetic conseguem, decidir de frente para os marcadores mais diretos, o nível de jogo ofensivo da equipa sobe substancialmente para outros patamares.  

 

Todos os jogadores atrás da linha da bola. Imagem frequente da equipa de Jardim.

Em suma, é uma equipa que convive bem sem ter bola e que, quando a tem, nem sempre encontra o melhor caminho para criar perigo. Em certos momentos parece uma equipa taticamente rígida, com pouco espaço para rasgos individuais ou coletivos. Quiçá por estar ainda em construção.

Bolas paradas

O Mónaco é uma equipa que procura aproveitar o quinto momento do jogo, bolas paradas entenda-se, para chegar ao golo. E com algum sucesso, diga-se de passagem, fruto do poderio aéreo de jogadores como Glik e Falcao. Aliás, os dois são as referências nas bolas paradas ofensivas. Por vezes ensaiam o canto curto, para desmobilizar equipas que marcam à zona, embora nunca tenham sido bem-sucedidos quando tentaram.

No capítulo defensivo, a formação de Jardim opta por fazer uma marcação mista, ou seja, três homens em fila, na zona da pequena área, com os restantes a marcarem homem a homem. Naturalmente, contra equipas fortes no jogo aéreo, os franceses acabam por conceder oportunidades de golo.

Organização e transição defensiva

Linha média e linha avançada pressionam mas a linha defensiva mantém-se demasiado baixa. Espaço enorme entrelinhas.

Defensivamente, o Mónaco sofre demasiados golos em transição. Tem claras dificuldades em defender alto. Não pela qualidade dos seus intérpretes, mas pela forma como a equipa não sobe em bloco e não encurta linhas para antecipar uma saída rápida. Essas dificuldades ficaram bem patentes no jogo frente ao Nice e ao Leipzig, encontros nos quais sofreu golos em transições.

Com os dois médios perto dos homens da frente e com pelo menos um lateral envolvido no processo ofensivo, a linha defensiva permanece baixa, o que cria um fosso enorme entre a linha média e os homens que ficam mais por trás. É comum ver os médios fazerem «piscinas» atrás dos adversários quando a equipa não consegue reagir rapidamente à perda de bola.

Um ponto que pode ser explorado pelo FC Porto que possui homens rápidos como Brahimi, Corona, Marega ou até o próprio Aboubakar para sair em transição.
 

Equipa mal organizada. Rony Lopes não fecha espaço interior. Visível distância entre linha média e a linha defensiva.


Outro erro, prende-se com o espaço que existe no momento de organização defensiva entre os alas e os médios. Tanto Rony Lopes como Ghezzal, ou até mesmo Diakhaby, não são rigorosos a fechar o espaço interior, deixando muitas vezes espaço para a bola entrar entrelinhas. Uma lacuna que pode ser muito bem aproveitada por este FC Porto, que coloca Brahimi e Corona bem dentro do bloco contrário.

A pressão na saída de bola adversária é uma deficiência que pode vir a ser explorada se houver qualidade e acima de tudo verticalidade na circulação de bola. Leonardo Jardim pede aos dois avançados para pressionarem os centrais na saída de bola com o outro médio, por norma Moutinho, a encostar no médio defensivo contrário. Ao mesmo tempo, os extremos caem nos laterais. Até aqui tudo correto, porém, porventura por falta de rotinas, os extremos tentam sair na pressão aos centrais o que acaba por desmontar toda a organização.

 

Tentativa de pressão alta com Moutinho a juntar-se aos homens da frente. Fabinho e a linha defensiva demasiado baixos com os alas demasiado abertos.


A linha mais recuada – médio defensivo incluído – não avança e não encurta o espaço entrelinhas. Mantém-se baixa e permite que os médios/extremos recebam dentro do bloco contrário, livres de marcação e de frente para o jogo. Ou seja, se a bola entrar em perfeitas condições no homem livre, a organização monegasca desintegra-se como um puzzle.

Os dragões podem, obviamente, explorar este espaço entrelinhas. Por exemplo, colocando os extremos por dentro ou até mesmo fazendo baixar um dos homens da frente para receber nesse mesmo espaço e criar dúvida. Contudo, devem evitar procurar passes em profundidade para as costas da defesa do Mónaco ou mesmo passes diretos para os avançados. Nesse aspeto, Glik e Jemerson são fortíssimos e conseguem anular facilmente essas tentativas.

Em suma, caso os portistas façam uma ocupação racional do espaço, circulem a bola a toda a largura (sem esquecer o passe vertical), sustenham o jogo lateral ofensivo adversário e explorem o espaço entrelinhas têm condições para voltarem a ser felizes frente ao Mónaco. 

A FIGURA: Falcao



Reencontrou a sua melhor versão no Mónaco. É o capitão e a principal referência ofensiva da equipa. É impressionante a forma como se mexe,  dentro de área, sempre na procura de encontrar espaço livre para atirar a contar. Ao mesmo tempo, tem um papel fundamental na forma de jogar da sua equipa. Segura bem de costas para a baliza e é muito bom a jogar em apoio frontal, embora seja pouco solicitado pelos seus companheiros neste último aspeto. Atravessa um momento de forma excecional - 11 golos em sete jogos - e será, porventura, a maior ameaça para o FC Porto. Para além do colombiano, é importante destacar Thomas Lemar. O internacional francês partirá do corredor esquerdo, mas possui liberdade para procurar jogo entrelinhas e, dessa forma, romper as linhas adversárias. Além disso, apresenta uma qualidade de cruzamento notável.