Com a derrota por 2-0 na Alemanha, diante do Wolfsburgo, o apuramento do Sporting tinha ficado muito longínquo. O jogo desta quinta-feira, em Alvalade, serviu para mostrar como essa distância, afinal, chegou a ser bem mais curta do que parecia possível - e do que sugere o empate final sem golos.

A análise estatística feita pelo Centro de Estudos do Futebol da Universidade Lusófona, em exclusivo para o Maisfutebol aponta várias circunstâncias anormais, num jogo que facilmente poderia ter resultado em desfecho diferente.



A primeira «anomalia» prende-se com a dificuldade sentida pelo Wolfsburgo para ter a bola em seu poder. Só durante 15 minutos da primeira parte (entre os 15 e os 30) os alemães cresceram no jogo, ganhando confiança com boas circulações e trocas de passes mais demoradas. Ainda assim, este curto período de «conforto» não resultou em situações de perigo: apenas três remates alemães antes do intervalo, que nunca chegaram a inquietar Patrício.

Outro dado invulgar é a intensidade da pressão do Sporting, que permitiu à equipa de Marco Silva fazer mais de 40 por cento das suas recuperações de bola no meio-campo dos alemães. E mais de metade das perdas de bola dos leões aconteceram na última zona de construção ofensiva, isto é, nas proximidades da área de Diego Benaglio. A completar este desenho de total ascendentes territorial, talvez o dado mais surpreendente neste capítulo: o Wolfsburgo perdeu 14 por cento das suas posses de bola na primeira fase de construção, isto é, na zona defensiva mais recuada.



O número é invulgarmente alto para uma equipa com a qualidade da alemã, que teve um duplo efeito no decorrer da partida. Por um lado, permitiu ao Sporting, passo a passo, subir as linhas de pressão e ganhar confiança, pelo menos enquanto o físico ajudou. O posicionamento de William, mais adiantado do que o habitual, e também por isso mais rematador, foi a melhor ilustração dessa realidade. Por outro lado, cada perda de bola foi retirando segurança aos alemães, limitando-lhes as saídas pelos flancos e obrigando-os a jogar demasiadas vezes em bola longa à procura de Bas Dost, situação que a defesa do Sporting resolveu quase sempre de forma confortável.

A terceira «anormalidade» deste jogo prende-se com a quantidade de vezes que o Sporting conseguiu situações favoráveis de finalização. Os leões consumaram 20 remates, mas este número é por vezes um engano, se os remates são feitos em condições desfavoráveis, com poucas hipóteses de êxito. Não foi esse o caso do Sporting: dessas 20 tentativas (dez em cada parte), oito resultaram em ocasiões claras de golo, um número que costuma ser mais do que suficiente para uma equipa conseguir dois golos em 90 minutos.



Do outro lado, a expressão ofensiva do Wolfsburgo traduziu-se em apenas oito remates (cinco na segunda parte), dos quais apenas um foi situação real de golo – o remate de De Bruyne ao poste, no início da segunda parte. Depois, nos minutos finais, em que o Sporting aceitou o risco de partir o jogo, os alemães voltariam a ter algum espaço para explorar saídas rápidas mas, à exceção do lance em que Jonathan comete grande penalidade não assinalada sobre Dost, não conseguiram aproveitá-los de forma eficaz.

Última nota para um dado que se repetiu em relação ao jogo da primeira mão: o acerto defensivo do Sporting nas situações de bola parada, que eram um dos aspetos mais apontados como potencialmente favoráveis aos alemães. Entre cantos e livres nas proximidades da área, as duas equipas tiveram exatamente o mesmo número de situações (sete) e criaram exatamente o mesmo número de remates (três). Um acerto que ajudou a manter o Sporting na luta pelo apuramento até bem tarde – mas que, para mal dos leões, não foi acompanhado pelo acerto de finalização: nas oito situações claras desperdiçadas perante Benaglio o leão perdeu a última chave para uma felicidade que, afinal, estava mais perto do que parecia.