Quase um ano depois do mágico momento proporcionado pelo pé direito de Éder e que deixou um «cantinho à beira-mar plantado» em pleno êxtase, Portugal volta a uma fase final de uma competição, precisamente na condição inédita de campeão da Europa em título. Para o baile de debutantes da equipa das Quinas nesta prova, a «convidada» é a veterana seleção do México, que parte para a sétima participação na Taça das Confederações, tendo arrebatado o troféu na quarta edição, em 1999.

Os mexicanos chegam à Rússia motivados por uma campanha excelsa no apuramento para o Campeonato do Mundo, encontrando-se isolados na frente do grupo da CONCACAF, com 14 pontos conquistados em seis partidas. A superioridade da seleção tricolor parece indiscutível, não só pelo nível individual dos jogadores como também pela ideia de jogo e pela forma como a equipa rende coletivamente.

Uma equipa construída à imagem do treinador

Juan Carlos Osorio, treinador colombiano com passado ligado aos maiores clubes do país natal (Millonarios, Once Caldas e Atlético Nacional) e com uma passagem pelos brasileiros do São Paulo, é o responsável técnico da seleção mexicana desde outubro de 2015 e desde então soma um registo de 71% de vitórias nos 24 jogos disputados neste período (entre jogos oficiais e de preparação). Se o caminho para o Mundial da Rússia parece desbravado e a equipa tem também boas hipóteses de vir a conquistar a edição da Gold Cup no presente ano, o técnico cafetero vive ainda debaixo de um manto de críticas, consequência da humilhação sofrida às mãos do Chile, na Copa América Centenário (0-7).

Osorio, conhecido por ser um seguidor das ideias de Sir Alex Ferguson (com o qual conviveu enquanto trabalhava… para o rival Manchester City), promove a introdução de conceitos modernistas e inovadores no selecionado mexicano, incentivando os jogadores a procurar sair em apoio desde trás, com um jogo posicional acima da média, buscando envolvimentos com os jogadores nas entrelinhas, criando uma forma de defender as bolas paradas bem específica e implementando um 3-4-3 losango a fazer lembrar o Barcelona de Cruyff (outro treinador que norteia o pensamento futebolístico do selecionador mexicano).

Desde que chegou ao comando técnico do México, já utilizou vários sistemas (4-3-3, 4-2-3-1, 4-4-2, 3-5-2, 4-1-4-1, além do já mencionado 3-4-3). Nos encontros mais recentes, tem sido verificável a aposta num 4-3-3 (com variante 4-2-3-1), com destaque para o posicionamento mais recuado do portista Héctor Herrera (joga aqui como pivot de construção). Contestado no Dragão durante parte considerável da última temporada, continua a desempenhar um papel relevante no conjunto nacional mexicano.

Este México é notoriamente perigoso no aproveitamento de transições rápidas (em particular, devido à capacidade de condução dos médios interiores e aos arranques dos homens mais adiantados), mas também possui mais-valias claras em ataque organizado. A construção é efetuada, por norma, a partir de um dos centrais, que busca um passe entrelinhas para o apoio frontal de um dos avançados (Chicharito Hernández, Raúl Jiménez ou Carlos Vela) ou uma bola mais longa, potenciando a profundidade ou uma segunda jogada.

Além dos centrais, também Héctor Herrera assume protagonismo relevante numa fase inicial de construção, elaborando o jogo com critério e desgastando-se menos num jogo de ida e volta constante. A tendência do médio «azul-e-branco» é virar o jogo para o flanco direito, situação em que o México também é exímio, atraindo o adversário para um dos lados e virando o centro do jogo rapidamente para o lado oposto, onde aparece um recetor com condições para criar um desequilíbrio numa jogada individual.

Os médios interiores são também fundamentais numa tentativa de condicionamento dos médios opostos, permitindo que se abram espaços para as ruturas dos velozes Carlos Vela ou Hirving Lozano (ou do avançado-centro que esteja em campo). O México procura elaborar com rapidez e estimulando constantemente desmarcações nas costas da defensiva contrária. Portugal terá de exibir então um controlo da profundidade excecional, impedindo o conjunto mexicano de capitalizar esse momento em que é particularmente perigoso…

A nível defensivo, a equipa vai alternando entre momentos de pressão mais ativa em zonas adiantadas e entre um recuo para um bloco médio, no qual vai controlando as investidas do rival mais à distância. Aqui, a seleção de Fernando Santos deve mostrar-se expedita a atacar o espaço entre a linha defensiva e a de meio-campo e a procurar um futebol de toque, rápido e com constantes movimentos de desmarcação dos avançados, além dos já habituais (e sempre temíveis) cruzamentos para a área adversária.

Finalmente, há que ter em conta a forma como a seleção tricolor se protege a nível defensivo e como ataca as bolas paradas. E se no primeiro momento, a formação mexicana privilegia uma cobertura «escassa» (com o mesmo número de defensores para o número de atacantes, com um homem solto a cobrir o primeiro poste), abrindo espaço a antecipações do adversário, no segundo momento ataca habitualmente os cantos na área oposta (e livres laterais) com cinco unidades, deixando dois jogadores livres para a meia-distância. No entanto, uma nota importante: por norma, a equipa mexicana deixa três jogadores na frente para o contra-ataque, portanto se a tal estratégia «arriscada» a defender a bola parada resultar, pode deixar o adversário em dificuldades. Aliás, foi assim que o México empatou o recente jogo face aos Estados Unidos e marcou também o primeiro golo na vitória frente à República da Irlanda (jogo de preparação).

Os jogadores do México, um-a-um

Guillermo Ochoa: O habitual titular de há uns anos a esta parte. Vem de uma boa época no Granada (apesar dos muitos golos sofridos). Espetacular, o que nem sempre é positivo para a equipa, possui reflexos notáveis e revela notória agilidade entre os postes.

Carlos Salcedo: Pode desempenhar várias funções nesta equipa, ainda que vá começando habitualmente na lateral-direita. Robusto, com presença a nível defensivo e capaz de apoiar nos momentos ofensivos, sobretudo à largura. Transferido nos últimos dias da Fiorentina para o Eintracht Frankfurt.

Miguel Layún: Pode jogar nas duas laterais e ainda mais adiantado, como médio-ala ou interior. Vem de uma temporada frustrante no FC Porto mas continua a ser um elemento importante para Juan Carlos Osorio. Com um pé direito bem calibrado, providencia várias assistências para os companheiros e incorpora a equipa com critério no processo ofensivo. A nível defensivo, soma algumas desconcentrações e falhas posicionais que podem comprometer a equipa nesse momento do jogo.

Diego Reyes: Grande temporada no Espanyol, leva-o a ser tido em conta para esta Taça das Confederações. Titular nos últimos embates da seleção mexicana, tem-se destacado pelo que oferece no momento inicial da construção de jogo, fornecendo passes essenciais para o progresso com bola da equipa. Forte no jogo aéreo, pode ser também uma arma apontada à baliza contrária.

Héctor Moreno: Confirmado como reforço da Roma a partir da próxima temporada, é o esteio da defensiva azteca. Seguro na saída de bola, com boa visão de jogo, rápido e forte no desarme, consegue condicionar de sobremaneira os avançados contrários, movendo em algumas circunstâncias uma marcação impiedosa.

Oswaldo Alanís: Central canhoto, pode ainda jogar descaído na lateral esquerda. Somou minutos nas últimas partidas, mostrando competência em início de construção e limitações claras quando deslocalizado para o corredor esquerdo. Perigoso no aproveitamento de bolas paradas na área contrária, dado que possui um jogo aéreo bastante efetivo.

Rafael Márquez: O veterano da equipa. Não somou minutos nos últimos jogos, embora seja sempre um nome a ter em conta. Experiência, voz de comando, critério na saída com os pés, embora a agilidade e os reflexos não sejam os mesmos doutros tempos…

Luis Reyes: O lateral-esquerdo do Atlas pode ser uma boa alternativa nessa posição, além de poder desempenhar funções de médio-centro ou ala-esquerdo. Capaz de apoiar o ataque com eficácia, lança bons cruzamentos e possui disponibilidade física para fazer a ida e volta por todo o corredor.

Nestor Araujo: Central importante na atuação defensiva e que demonstra capacidade de sair em condução, com a bola nos pés. É veloz e consegue superiorizar-se nos despiques físicos, embora ainda tenha algumas falhas de concentração em momentos importantes…

Andrés Guardado: Um dos elementos mais importantes da equipa, apesar de não ter atuado nas partidas mais recentes da Tricolor. Experiente, com grande critério no passe e uma qualidade de cruzamento acima da média, pode reentrar na equação de Juan Carlos Osorio para esta competição, tanto jogando cmais recuado como mais adiantado, como médio-interior.

Héctor Herrera: O jogador pouco esclarecido, errático e até apático em algumas partidas no FC Porto dá lugar a um elemento fresco de ideias, clarividente no passe e essencial na garantia do equilíbrio defensivo do meio-campo na seleção. A razão? O posicionamento mais centralizado, assumindo quase uma função de «6» de construção, que lhe permite uma visão mais ampla do campo e o deixa desgastar-se menos do ponto de vista físico.

Jonathan dos Santos: Médio com boa amplitude de movimentos, criterioso no passe e com capacidade de chegada à carreira de tiro, vindo desde trás, é um sério candidato à titularidade nesta Taça das Confederações.

Marco Fabián: Dotado tecnicamente, com boa visão de jogo e facilidade de remate, este médio-ofensivo destro pode ser um dos elementos mais determinantes na segunda fase de construção do jogo ofensivo mexicano, tanto através de movimentos com como sem bola.

Giovani dos Santos: Médio criativo ou segundo avançado, rompe bem entre linhas e mostra-se determinante no último passe e remate. Bem possível que possa desempenhar função de médio-criativo juntamente com o irmão Jonathan.

Jürgen Damm: Veloz, com uma técnica notável e hábil no um-contra-um, parte para este torneio como um suplente de luxo desta seleção. Assistente e finalizador de excelência, pode continuar a fascinar os diversos «scouts» de clubes europeus neste torneio.

Javier Aquino: Extremo veloz, vertical, com finta e capaz de explorar diagonais, habitualmente a partir da ala esquerda. Provável opção de banco.

Hirving Lozano: Um dos maiores talentos do futebol mexicano na atualidade. Astuto a atacar a profundidade, promove ações de desequilíbrio no um-contra-um com bastante facilidade e entra bem em zona de finalização. Além do mais, abastece os companheiros da frente com passes para golo de forma regular.

Carlos Vela: Atravessa um dos melhores momentos da carreira. Extremo incisivo a procurar diagonais, de fora para dentro, este esquerdino cria desequilíbrios com facilidade, quer em condução, quer entrando no espaço livre. Notável rematador.

Chicharito: Atacante experiente, rápido, intuitivo, capaz de se antecipar aos defesas contrários ao primeiro poste e de entrar nas suas costas, prepara-se para poder assumir a titularidade neste torneio. Sabe jogar de costas para a baliza e possui uma calibragem no remate acima da média.

Raúl Jiménez: Tem mobilidade, caindo nas alas quando necessário (em particular, na direita) e oferece bons apoios frontais entrelinhas (como foi visível, com notoriedade, no embate recente frente às Honduras). Forte fisicamente, o avançado do Benfica demonstra fineza na execução e capacidade para discutir lances por alto. Vai discutir a titularidade com Chicharito.