Colin Kaepernick de joelho no chão e não de pé para ouvir o hino dos Estados Unidos, antes dos jogos da NFL. Começou como um gesto isolado, tornou-se símbolo e deixou ainda mais clara a divisão profunda na América, com consequências indisfarçáveis para o desporto mais popular do país. O então jogador dos San Francisco 49ers quis protestar contra a violência policial sobre a população negra, depois de uma série de casos. «Não vou perfilar de pé e mostrar orgulho por uma bandeira e um país que oprimem os negros. Para mim isto é maior do que o futebol e seria egoísta da minha parte olhar para o lado.»

Isto foi há um ano e não passou, longe disso. Kaepernick teve seguidores e críticos. O debate subiu de tom quando Donald Trump entrou na conversa a dizer mal de Kaepernick, da NFL e de quem quer que não concordasse com ele. Quando no final de setembro o presidente norte-americano disse que os donos das equipas deviam processar os jogadores que ajoelhassem no hino, mais de uma centena de jogadores responderam ajoelhando no hino.

No meio disto, Kaepernick está sem emprego. O «quarterback», de 29 anos, deixou os 49ers em março, antecipando o fim do contrato. Desde aí não voltou a conseguir arranjar equipa. E esta semana anunciou que avançou em tribunal com um processo contra a NFL, por conluio. A sua tese é de que as equipas estão em conjunto a boicotá-lo.

Mesmo sem Kaepernick em campo, o arranque da nova época da NFL, em setembro, voltou a trazer o «Taking a knee», que já ganhou estatuto de movimento, para a ordem do dia. Há mais jogadores a fazê-lo e até já chegou ao futebo. Na Alemanha, os jogadores do Hertha Berlim fizeram-no na semana passada. Também já passou a fronteira do desporto. Ainda na quinta-feira a cantora Justine Skye, que interpretou o hino antes do jogo de estreia em casa esta época dos Brooklyn Nets, da NBA, terminou a atuação com um joelho no chão.

Havia alguma expectativa para ver se o movimento que começou na NFL seria seguido na NBA, cuja época arrancou na semana passada, mas até agora não teve repercussão, numa Liga cujos regulamentos aliás prevêm sanções para os jogadores que não ouçam o hino de pé.

No meio disto, as audiências da NFL estão em queda. Não é de agora, já tinham caído na época passada, mas esta temporada, segundo dados divulgados pelo «Guardian», já perderam 7.5 por cento em comparação com as primeiras seis semanas da última temporada. Os observadores atribuem a queda em boa parte ao «caso Kaepernick», que dividiu opiniões entre a população norte-americana.

Trump está a capitalizar essa divisão para fazer barulho. Esta semana voltou à carga, depois de uma reunião entre donos de clubes e representantes de jogadores para tentar encontrar um consenso, que não chegou a conclusões definitivas. Ficou-se por uma garantia de respeito pelo hino e declarações de intenções para «agir sobre a desigualdade» nas comunidades. Que é real. Embora seja difícil encontrar dados oficiais sobre a violência policial, um levantamento feito pelo jornal «Guardian» através de uma base de dados apelidada «The Counted» apontava para que só em 2016 tenha vitimado 1.093 pessoas. Sendo um quarto delas afro-americanos, que não representam mais de 12 por cento da população dos Estados Unidos.