O Maisfutebol desafiou os jogadores e treinadores portugueses que atuam no estrangeiro, em vários cantos do mundo, a relatar as suas experiências para os nossos leitores. São as crónicas Made in Portugal:

Bernardo Vasconcelos, Alki (Chipre)

«Olá,

Hoje vou recordar a minha passagem pelo futebol holandês, em 2004 e 2005. Decorria o tão atribulado mês de janeiro e jogava no Torrense por empréstimo do Alverca. Era o melhor marcador da Zona Sul da 2ª Divisão.

Num domingo, recebi uma chamada de um empresário para que fosse no dia seguinte à Holanda para fazer um jogo-treino. Pelos vistos, tinham ido ver o meu jogo no dia anterior e não decepcionei!

Lá fui eu, sem saber muito bem ao que ia. Fiz o jogo-treino na segunda-feira e no dia seguinte estava a assinar contrato com o RKC Waalwijk. Vim a Portugal, voltei logo a seguir e no sábado estava a defrontar o Roda com 25 mil pessoas nas bancadas!

O meu treinador era o Martin Jol, que está agora no Fulham. Um bom treinador, marcado por ser um homem frio e reto.

Na equipa estava o Virgílio Teixeira, que falava um português de emigrante, visto nunca ter vivido no nosso país. Ajudou-me na adaptação à equipa e cidade.

Como companheiro tinha ainda o Boulahrouz, agora do Sporting. Eu jogava (e jogo!) como ponta-de-lança e ele como extremo-direito. Sim, não estão a ler mal, não era defesa! Bom jogador.

Cumpri os seis meses na Holanda e fui aliciado para regressar a Portugal, para concretizar o sonho de jogar na primeira Liga. Assinei pela U. Leiria mal a época terminou, recusando algumas propostas mais vantajosas.

Chegou o tão ansiado primeiro treino e o treinador Vítor Pontes comunica-me que o senhor João Bartolomeu tinha contratado jogadores sem o seu consentimento, que queria um plantel de 22 jogadores e já tinha 28, e que eu não tinha as características que ele queria. Por isso, não contava comigo!

Desorganização, injustiça, incompetência, não sei, mas decidi ficar. A vida dá muitas voltas e acredito sempre no meu valor. Mas a verdade é que sempre fui posto de parte, raramente convocado e menos ainda joguei.

Em janeiro, resolvi voltar ao RKC pois a situação era inaceitável. Novamente, a época correu-me bem e só tenho a dizer bem do clube e das pessoas que o geriam. Era um clube muito organizado, joguei em estádios sempre cheios e obtive êxitos profissionais.

Waalwijk era uma cidade pequena, acolhedora, que fica a 45 minutos de Amsterdão e outros 45 de Bruxelas. Um privilégio viver no centro da Europa!

Em relação às pessoas, são um pouco frias mas muito correctas e nada é deixado para amanhã.

Do futebol holandês gostava só de realçar o apoio da federação aos jogadores de futebol. Todos os jogadores têm um fundo para onde vai 50% do seu salário, ficando a render juros. Quando terminam a carreira têm direito a esse fundo, mas nunca na sua totalidade. Para além dos jogadores se habituarem a não ganhar fortunas, ainda têm uma bela poupança quando deixam de jogar.

Por fim, escrevo sobre os três golos que marquei no Chipre em janeiro. O primeiro foi para a Taça, no terreno do Anorthosis (1-1). Os últimos dois, no empate entre o meu Alki e o Doxa (2-2), acabaram por ser completamente abafados pelo magnífico golo com um «salto de escorpião» do meu amigo Ricardo Fernandes. Parabéns fraquinho!

Até breve,

Bernardo Vasconcelos»


szólj hozzá: alki-doxa 2-2