Marco Silva foi despedido.
Pelo Watford.
Por um Watford em 10º lugar! Por um Watford que luta pela permanência. Por um Watford que tem apenas reminiscências de classe, aqui e ali, e participa na melhor liga do planeta.
E que só pode aspirar à permanência.
E que está em 10º lugar, precisamente a meio da tabela.
No comunicado, lê-se que o treinador português perdeu o foco.
Terá perdido o foco porque um clube com mais recursos, o Everton, o queria, depois de despedir Koeman. Ofereceu prata ao Watford, Marco atirou a decisão para a board. Que disse
Not a chance!
Perdeu o foco, apesar da equipa fraca, do 10º lugar e da luta pela permanência.
Perdeu o foco e deixou de marcar golos, fazer grandes defesas, enfim, ele sozinho deixou de ganhar jogos. Assim, não iam lá! Não podia mesmo ser.
Talvez o que tenha perdido seja o compromisso total dos jogadores, nessa pequena traição de desejar algo um pouco melhor para si, depois de ter ajudado os outros a crescer. Nada que não recuperasse com o tempo, o fim do assédio e, sobretudo, vitórias. Talvez com ainda mais compromisso.
Afinal, a relação estava assim tão deteriorada?
Sim, o Watford despediu Marco Silva.
E contratou Javi Gracia.
Ex-Málaga, ex-Rubin Kazan, e dificilmente próximo treinador do Everton ou de qualquer equipa do género, embora o futebol, já se saiba, costume dar muitas voltas, sobretudo em torno de si mesmo.
O foco será mantido, o objectivo também. Até provavelmente a permanência, e aí o mérito será do espanhol.
O espanhol que apanhou a equipa no 10º lugar, a meio do caminho.
O espanhol que provavelmente verá agora alguns dos jogadores mais importantes regressar de lesões.
Para Marco Silva, depois do Hull e do Watford, fica a lição. É a altura de apontar um pouco mais acima, para projectos mais longos.
Ou todo o trabalho feito pode não chegar.
Talvez um ou outro jornalista ao explicar o despedimento tenha chegado, por caminhos diferentes, à mesma conclusão
Marco Silva não pode continuar a ser inimigo de si próprio.
É verdade, mas ao nível da escolha, e não do trabalho realizado.
What for, Marco?
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«ERA CAPAZ DE VIVER NA BOMBONERA» é um espaço de crónica, publicado de quinze em quinze dias na MFTOTAL. O autor usa grafia pré-acordo ortográfico.