A aldeia de Albox, em Almería, anda mais contente: o filho mais querido está também ele feliz. Fala-se de Diego Capel, claro, o jogador de rua com nome de praça. A história é contada pelo amigo Luis Sanchez-Parra. «Foi uma pessoa com uma infância muito humilde», diz.«Cresceu a jogar futebol na rua.»

«Andava sempre com a bola debaixo do braço. Quando era criança passava horas a chutar a bola contra as paredes, partia muitos vidros e os vizinhos chateavam-se com ele a toda a hora. Era um rapaz rebelde. Para o homenagear, deu-se o nome dele à praça onde jogava.»

Hoje esse pedaço de Albox chama-se Praça Diego Capel. «Fica a dez metros da casa dos pais.» Luis Sanchez-Parra lembra-se bem desses tempos: é nove anos mais velho, mas já na altura tinha de levar com o miúdo irrequieto. «Nessa altura ele ia ver os meus jogos, agora sou eu que vou ver os dele.»

«Andava sempre atrás de nós. Tínhamos uma equipa de futebol de salão e insistia em ir connosco na esperança que faltasse alguém. Se não faltava ninguém, ia-se embora todo chateado. Era um miúdo à nossa beira, tinha oito ou nove anos, mas preferia jogar connosco do que com os da idade dele.»

«Capel sabe que Milla conta ele para os Olímpicos»

Dentro de campo, Capel já tinha o jeito de jogar que hoje o torna famoso. «Pegava na bola, metia os olhos no chão e corria como um louco. Era muito rápido», conta. «Se perdia a bola, corria outra vez como um louco para a recuperar. É um filho do futebol de rua e dos ringues de bairro.»

O futebol sempre esteve no horizonte do jovem, mas a família estava primeiro. Por isso quando o Barça o foi buscar a aldeia vizinha de Olula del Rio, três meses depois do miúdo começar a jogar futebol federado, Capel não se entusiasmou. Esteve em La Masia, mas desistiu: tinha saudades da família.

Regressou a Albox e começou a jogar futebol de salão num clube de nome Oriente. «Foi o melhor marcador a nível nacional de futebol de salão.» O resto já é conhecido: passado uns anos o Sevilha veio buscá-lo, estreou-se no futebol profissional aos 16 anos e na selecção principal aos 20.

Em Albox deixou o coração. «É adorado aqui por toda a gente. Eu fundei o clube de Albox quando ele começou a jogar no Olula, exactamente porque não havia onde os miúdos jogarem futebol federado. Desde então ele sempre ajudou o clube. É como um herói para nós», adianta Luiz Sanchez-Parra.

«Quando estava no Sevilha trouxe a equipa B a fazer um jogo para gerar receitas. Dá-nos equipamentos, dinheiro, participa em jantares, faz sorteios. Todos os anos fazemos um totobola do campeonato de veteranos em que o prémio é a camisola do Diego e ele faz questão de vir cá entregá-la ao vencedor.»

Capel é o jogador mais pontuado pelo Maisfutebol

Este ano a camisola a sortear, já se sabe, é a do Sporting. Por isso Albox segue Capel para todo o lado. «Já estamos a organizar uma excursão de um autocarro para o próximo ano. Vamos a Lisboa ver um jogo e fazer um amigável com os veteranos do Sporting. O Diego está a ajudar-nos em tudo.»

Enquanto essa data não chega Luis Sanchez-Parra continua a seguir o amigo sempre que pode. «Falamos quase todos os dias. Somos como irmãos. Às vezes vou a Lisboa com um primo dele e as nossas namoradas ver um jogo. Em Dezembro vamos lá passar uns dias a casa dele, uma semana de férias.»

O Sporting já entrou na vida de Albox. E Capel levou um pouco de Albox para Lisboa. «Levou o pai e a mãe. Eles gostam de Lisboa», conta o tio Carioca. «Aqui toda a gente é do Sporting: fez o Diego feliz outra vez», adianta Luis Parra. No fundo, Alvalade recuperou o menino de rua, com nome de praça.

Conheça a praça Diego Capel: