Carlos Queiroz fala da relação com Cristiano Ronaldo, admite que só falou com antigo pupilo (com quem trabalhou durante seis anos) uma vez depois de sair da seleção, mas diz que não esquece o passado: e ambos têm um passado muito grande.

Voltaria a trabalhar com Cristiano Ronaldo?
Sem dúvida. Impondo, como sempre fiz, as minhas decisões e as minhas regras. Eu não sou prepotente, mas há uma coisa que nenhum jogador não pode dizer: que eu não uso as três palavras fundamentais. Sim, talvez e não. O Cristiano sabe que comigo não dá para ser apenas sim e talvez. Quando é preciso dizer que não, digo que não. Por isso é que a nossa relação foi sempre ótima, boa, amiga.

Amiga até que ponto?
Há muitas coisas da minha privada que o Cristiano sabe e muitas coisas da vida dele que eu sei, e nunca contámos. Olhe, por exemplo a decisão de abrir as portas do Manchester United para ele ir para o Real Madrid foi tomada em minha casa, no meio da minha família. Quando as dúvidas se levantavam, consegui juntar em minha casa o Alex Ferguson e o Cristiano. Com os três ali sentados foi decidido que o Cristiano ficaria mais um ano no Manchester e no ano a seguir iria para o Real Madrid.

O Alex Ferguson não queria deixar, certo?
Não é não querer deixar, os treinadores têm de defender os seus interesses. Mas em termos de relação, não tenho nenhuma razão para não voltar a trabalhar com Ronaldo.

Uma relação longa...
Eu estive horas e horas a trabalhar com ele no fim dos treinos, como estive horas e horas atrás dele para ir para casa porque tínhamos jogo no dia seguinte e ele precisava era de descansar. Essa é a minha função. O Cristiano não me deve nada, não temos contas a acertar porque, na relação profissional, eu fiz o que tinha a fazer e ele fez o que tinha a fazer.

E na relação pessoal?
Não há nada a apontar para que não possamos trabalhar juntos. Não é uma andorinha que faz a primavera, nem um corvo que faz uma tempestade.



Muitas vezes cria-se a ideia que a seleção é Cristiano Ronaldo e mais dez...
Na Suécia também há esse grande debate relativamente a Ibrahimovic.... É normal que o jogador que veste o estatuto de melhor do mundo transporte para a seleção essa bandeira. E é bom que essa bandeira seja a porta que nos leve ao sucesso. Não pode é ser princípio e fim.

O que é que isso quer dizer?
Ninguém pode estar acima da ideia de equipa. Quando algum jogador pensa isso, então está a mais. Não pode conceber-se a seleção sem Ronaldo, mas também não é possível aceitar que a seleção possa estar a mando de Ronaldo. Se assim for, ele vai ser o principal prejudicado, e logo a seguir a própria equipa e todos nós.

Cristiano Ronaldo é prejudicado por essas ideias que se fazem?
Já tivemos momentos muitos bons de Ronaldo em que as coisas correram sempre bem. Não é por um resultado em que ele possa não ter estado tão bem, como aconteceu no Brasil e na África do Sul, que vai ensombrar tudo o resto. Se aconteceu alguma coisa de mal, há que corrigir. Eu conheço muito melhor do que muitas pessoas o Cristiano e sei que ele está interessado nisso: é um jogador que vive para o sucesso.

Voltou a falar com Ronaldo desde que saiu da seleção?
Tive uma conversa com ele telefonicamente.

Logo a seguir?
Uns dias depois.

Foi para se entenderem?
Foi uma conversa telefónica em que eu lhe disse o que pensava. Tomámos caminhos diferentes e nunca mais aconteceu nenhum diálogo com ele.