*Por Bruno Ferreira, editor de desporto da TVI e especialista em ciclismo

É o grande herói do momento. Um super herói que “dispara” em cada triunfo.
Alberto Contador Velasco somou este domingo, em Santiago de Compostela, a 3ª vitória numa Vuelta.

Um feito extraordinário.
Tal como os heróis se superam em momentos de dificuldade, foi um "Super Contador" que entrou nesta edição, a 69ª, da Volta a Espanha em Bicicleta.
A condição física de Contador foi tema durante vários dias, o ciclista espanhol preparou a época com o objectivo de triunfar no Tour, mas desistiu na 10ª etapa, a 14 de Junho, devido a uma queda onde fez uma fissura da tíbia.

O resto da época estava em perigo e a Vuelta colocada de parte. A Tinkoff-Saxo protegeu o ciclista. Foram escassas as informações e aparições publicas de “El Pistolero". A 14 de Agosto, um mês depois da queda no Tour e a nove dias do início da Vuelta, Contador quebra o silêncio e revela que vai participar entrar na prova.



Se nos primeiros dias, ainda existiram algumas dúvidas, certo é que Alberto Contador foi melhorando quilometro após quilometro. Esteve sempre entre os primeiros e conquistou a liderança na 10ª etapa num contra-relógio onde foi superior aos principais adversários. Nessa altura iniciava-se a segunda semana de prova e as chegadas em alto nas Astúrias antecipavam dias de dificuldade extrema para o pelotão. Foram etapas onde as dúvidas deram lugar às certezas. Contador levantou-se da bicicleta, defendeu a liderança e atacou os adversários. Pedalada a pedalada assumiu-se como o maior entre os melhores. Christopher Froome ainda tentou, atacou muito, mas o espanhol respondeu sempre da melhor maneira. Na etapa rainha da prova - a 16ª - com a chegada aos Lagos de Somiedo o britânico da Sky atacou cedo, mas Contador ficou sempre na roda. No ultimo quilómetro disparou para a vitória sem qualquer resposta do vencedor do Tour em 2013. Na ultima hipótese para conquistar a liderança - um dia antes do final - Froome atacou em Puerto de Ancares, mas Contador foi, de novo, mais forte.

O espanhol chegou a Santiago de Compostela com mais de 1m30s de vantagem sobre o seu mais directo adversário. O contra-relógio de 10 quilómetros serviu para a consagração do melhor da Vuelta. A chover e com o piso molhado, foi gerir a vantagem, para receber uma monumental ovação em frente à Catedral de Santiago.

Final da época em grande para “El Pistolero”, que renunciou à participação nos Mundiais, mais uma vitória para um currículo impressionante: Três vitórias na Vuelta, duas no Tour, uma no Giro - para referir apenas as grandes voltas.

Después de Contador

Christopher Froome trabalhou muito. O ciclista britânico tentou, mas não conseguiu fazer melhor. Ficou em 2º repetiu a classificação conquistada em 2011. É esperar para ver o que faz até ao final da época… mas é certo que ficou aquém das expectativas e dos objectivos definidos por ele e pela equipa da Sky. A vitória na volta à Romandia e na volta a Omã são insuficientes para este ciclista de eleição.

Alejandro Valverde deu tudo o que tinha para dar nesta Vuelta. Entrou na competição para dar suporte a Nairo Quintana, mas até andou de vermelho durante 4 dias. A desistência prematura do colombiano deu-lhe a hipótese de discutir a prova. O último lugar do pódio mostra que está em forma. Pode ser um dos candidatos à conquista do titulo de campeão do mundo de estrada.

Joaquin Rodriguez foi o 4º melhor e adiou mais uma vez a conquista de um grande volta, continua a ser um enorme trepador mas fica a dúvida se alguma vez chegará ao lugar mais alto do pódio numa grande volta.

Fábio Aru fecha o top 5. É um ciclista para o futuro. Aos 22 anos participou pela 1ª vez na Vuelta conquistou duas etapas. Este ano já tinha sido 3º no Giro. Na Astana terá de crescer na companhia de Vincenzo Nibali - vencedor do Tour 2014- e aprender com o campeão italiano.

Los Portugueses

A “armada” portuguesa teve três homens nesta volta. Dois ciclistas e um director desportivo.
André Cardoso, Sérgio Paulinho e José Azevedo foram dignos representantes da Bandeira Nacional que por diversas ocasiões apareceu em grande plano nas etapas de alta montanha.
O ciclista da Garmin Sharp certamente recebeu o carinho dos seus compatriotas nesses dias de extrema dificuldade. Cardoso ficou em 25ª, um excelente resultado que podia ser melhor (em 2013 foi 16º), mas a sua missão foi trabalhar para Daniel Martin que terminou em 7º da geral.
Sérgio Paulinho apareceu em diversas ocasiões a marcar o ritmo da corrida, sempre ao serviço de Contador, termina a corrida na posição 57 entre os 159 que chegaram a Santiago de Compostela. À partida em Jerez de la Frontera eram 198.

Finalmente destaque para José Azevedo. Conquistou o 1º lugar na classificação por equipas. A Katusha falhou o pódio, mas colocou três ciclistas nos 15 primeiros lugares da tabela - Rodriguez 4º, Daniel Moreno 11º e Giampaolo Caruso 15º. É mais um triunfo de José Azevedo como director desportivo nesta prova. Em 2013 esteve ao lado do vencedor Christopher Horner.

Recuerdos

John Degenkolb - O camisola verde, vencedor dos Sprints e de 4 etapas nesta edição da Vuelta.
Luis Leon Sanchez - Vencedor da montanha, um contra-relogista que surpreendeu. Esteve nas fugas certas e conquistou a camisola branca com círculos azuis.
Adan Hansen - Aos 33 anos conquistou a 1ª vitória numa etapa (19ª) da Vuelta. Arrancou para a vitória a 5 quilómetros da chegada, um feito extraordinário para um ciclista que pelo 3º ano consecutivo participa nas 3 grandes voltas.
Alessandro de Marchi - Foi o mais combativo do Tour e voltou a mostrar-se na Vuelta. Entrou em diversas fugas e conquistou a vitória aos sétimo dia de corrida.
Winner Anacona e Przemyslaw Niemiec - A Lampre-Mérida ficou sem o líder antes da prova começar - Horner devido a doença - mas estes dois ciclistas brilharam ao conquistarem cada um uma vitória em etapa.
Dário Cataldo - Após queda aparatosa e desmaio voltou à bicicleta e pedalou até ao final da etapa. Queria continuar mas os médicos não o deixaram. É apenas um exemplo da capacidade destes atletas de eleição.

Muitos outros podiam merecer destaque ficam apenas alguns dos que animaram e muito os 21 dias desta prova com 3230 quilómetros.

Adiós Vuelta

Além de Horner que não chegou a começar, outros saíram cedo de mais ou mostram-se pouco nesta Vuelta.
Quintana que conquistou o Giro esta época foi forçado a abandonar após andar com a Vermelha, Thibaut Pinot também cedo regressou a casa, Peter Sagan fez o mesmo. Nacer Bouhanni venceu duas etapas, caiu num sprint e depois abandonou. Rigoberto Uran teve problemas respiratórios e disse adeus à volta. Carlos Alberto Bettencourt terminou, mas no penúltimo lugar... Como seria se estivessem em forma ou se estes nomes tivessem ficado até ao final?

Certo é que Contador dominou.
Terminou a Vuelta em 81h25m05s, por curiosidade, Andrea Guardini concluiu a prova no último lugar em 159º a 5h22m23s do vencedor.

A Vuelta terminou. Foi a melhor das três grandes provas por etapas. Teve espectáculo e emoção até ao final. Decidiu-se apenas na última montanha.

Para os apaixonados pelo ciclismo, os mundiais estão a chegar. São em Espanha (Ponferrada) no final do mês, a 28 de Setembro.
Rui Costa que esteve ausente desta Vuelta tem como objectivo revalidar o titulo de campeão.
Seria um feito inédito.

Hasta Ponferrada!