Em Portimão, o Sporting Glória ou Morte Portimonense já foi o clube mais representativo da cidade. Fundado em 23 de outubro de 1919 - completou recentemente 95 anos -, nas décadas de 20 e 30, rivalizava com o Portimonense Sporting Clube. Agora, longe vão os tempos de glória, com uma sede digna, que era um marco na cidade e importante fonte de receita de um clube nascido da vontade de pescadores e operários da indústria conserveira e que, atualmente, tenta evitar a morte suplicando por aquilo que o distinguira, outrora: uma sede.

Agora, sem atividade desportiva, a direção presidida por Nuno Velasques luta por ter instalações próprias, pois só assim estarão reunidas condições para que o Glória ou Morte volte ao desporto. Enquanto tal não acontece, são a música e os bailaricos que mantêm o clube vivo. «Os bailaricos estão na origem do clube e depois surgiu o futebol», recorda Francisco Reis, de 75 anos, sócio do clube desde os 10.

Os bailes são um regresso às raízes; tal como a atual sede, emprestada pela Câmara Municipal de Portimão. «O Glória ou Morte foi fundado por pescadores e não queremos sair da zona ribeirinha porque foi aqui, nesta zona, que nasceu o clube», reforça Nuno Velasques referindo-se à lota velha da cidade, o local provisório que vai servindo de quartel-general.



Quanto ao estanho nome da coletividade, «Glória ou Morte», ninguém sabe como surgiu. «Ninguém sabe, só mesmo os mais antigos é que saberiam, mas, desse tempo, já não está nenhum vivo. Até temos a caveira no emblema, e por cá continua», dizem à vez Francisco Reis e Francisco Velasques, ambos de 72 anos, o último pai do atual presidente da direção.

A origem do nome é inalcançável, mas a questão da sede continua prioritária: «Não vamos voltar a ter nenhuma modalidade desportiva enquanto não tivermos sede própria. Este local é emprestado pela Câmara. Sempre que quisermos fazer aqui algum evento temos de avisá-los e assim é difícil dar continuidade a um trabalho.» «Temos em vista ter uma sede própria e quando isso acontecer vamos retomar o futebol e a capoeira. Aqui não temos condições para conseguir dar continuidade a um trabalho condigno», garantem ao Maisfutebol.

Essa necessidade da sede é tão vital para a sobrevivência do Glória ou Morte que já foi pedida ajuda às gentes de Portimão: «Fizemos uma petição pública para ficarmos com a lota. Só que a Câmara tem muitos projetos para o edifício e nenhum passa pelo clube.» «A nossa luta é essa, não queremos isto dado. Pretendemos usufruir do espaço e fazer com que o município também beneficie com isso trabalhando em conjunto com a Câmara Municipal.»

«Estamos disponíveis para tudo o que nos pedem. E ainda neste ano fomos o único clube da cidade a fazer as marchas populares (no concelho, fomos nós e a Mexilhoeira Grande) indo buscar coisas que já tínhamos», dizem os sócios. «Não queríamos a lota dada, mas sim uma cedência de espaço em que pudéssemos fazer as nossas atividades. Neste momento isso está a acontecer... E não está….», referem os associados contando que o vasto espólio do Glória ou Morte está espalhado pela cidade e, maioritariamente, «encaixotado numa escola».



Recuando aos anos 20 e 30, Francisco Reis e Francisco Velasques recordam os momentos altos do clube no futebol e a rivalidade com o Portimonense. «O Sota [José da Luz] foi o primeiro jogador de Portimão a jogar no Benfica. Fez a formação no Glória ou Morte e depois foi para Farense. Depois do Benfica e Vitória Guimarães, voltou para Portimão, para jogar no Portimonense.».

E não se esquecem ainda do título de campeão do Algarve (1931/32), cinco anos antes do primeiro conquistado pelo Portimonense. E como era a rivalidade? «Era como um Olhanense–Farense, em que no jogo não se podiam ver, mas depois estava tudo bem», assegura Francisco Reis. «O Glória ou Morte ficou desligado do futebol a partir dos anos 90. O futsal acabou há cerca de dois anos, mas pretendíamos fazer uma equipa de seniores este ano. Só que os planos correram mal», acrescenta Francisco Velasques.

No entanto, o futebol ainda marca a vida do Glória ou Morte, que nos seus estatutos tem um singular ponto acerca do Estádio Municipal de Portimão. «Um dia em que queiramos fazer um jogo de futebol temos o direito de usufruir do campo do Portimonense pelos estatutos. Os estatutos já estão muito velhinhos, mas dá para perceber algumas coisas e esse ponto até nos despertou a atenção. Não sei se eles sabem, mas, como o estádio é municipal, se tal algum dia isso vier a suceder é a câmara que tem que nos ceder esse usufruto», observou Nuno Velasques.



Com 300 sócios, 60 dos quais pagantes, a direção do Glória ou Morte tem que ser criativa, para arranjar dinheiro. «O clube sobrevive através de algum dinheiro do presidente e dos diretores e com as quotas dos sócios, que pagam 15 euros (os não reformados) e 10 euros (os reformados) por ano. Fazemos uns bailes, em que é chapa batida, chapa lambida. Há dois anos começámos com os arraiais atrás da lota, que é uma das principais fontes de receita para as nossas atividades», revela Nuno Velasques.

Os bailes organizados pelo clube nos Santos Populares, em junho e julho, são um marco importante na atividade recreativa da cidade, mas os bailes de Carnaval são o expoente máximo: «Este ano, pelo Carnaval, fizemos muitos sócios: recuperámos alguns que tinham saído e entraram muitos de outras coletividades.» «Acho que isso se deve ao dinamismo que esta direção tem. E as pessoas gostam do ambiente. Porquê no Carnaval? Porque o Carnaval é o forte do Glória ou Morte. Sempre foi. E posso dizer que somos a única coletividade em Portimão que faz os seis bailes de Carnaval. O Clube União faz quatro, o Boa Esperança faz três e a Vencedora faz dois. Nós continuamos com a tradição de fazer os seis bailes!», diz o dirigente com orgulho lembrando também a importância recreativa e cultural do clube a que preside: «O primeiro a ter um grupo de teatro na cidade.»

Ciente de que só dispondo de instalações próprias poderá devolver o estatuto de que o Glória o Morte já disfrutou em Portimão e no Algarve, Nuno Velasques não descansa enquanto não o conseguir. «Enquanto presidente do Glória ou Morte, quero uma sede nova e não me vou embora daqui até consegui-la. Só se me mandarem embora porque vamos ter eleições em março. Mas vou apresentar uma lista», garantiu.