Há um ano, na Suécia, tudo foi Ronaldo. Agora na Dinamarca a história foi bem diferente, mas o final acabou por ser semelhante. Durante 90 minutos, registámos todas as ações do capitão da seleção portuguesa. Foi dele o segundo toque no jogo, foi também dele a ação que recolocou a equipa nacional no trilho do Euro 2016. O final feliz, num movimento «à Ronaldo».   

Ronaldo começou sobre a esquerda. Danny andava da direita para o meio e Nani um pouco mais atrás, sobre o meio, próximo de Moutinho e Tiago. Foi assim nos primeiros minutos. Depois do susto em França, notou-se que Portugal se preocupou sobretudo em manter-se equilibrado a defender. 

 
Ao contrário do que sucedeu em França, Portugal entrou bem organizado. O campo bem preenchido, nenhuma opção de passe para o adversário

Cristiano sofreu uma falta aos cinco minutos, ainda antes de ter uma verdadeira ação na partida. No mesmo minuto um toque para trás. Aos sete uma recuperação e um passe para Nani. Logo a seguir, entra pela direita e remata para boa defesa de Schmeichel, o filho.

Aos onze reaparece na esquerda, a tocar a bola. Aos 13 joga de calcanhar e permite o remate de Danny, para nova defesa do guarda-redes dinamarquês.

Por esta altura Ronaldo começou a movimentar-se mais. Às vezes no meio, uma ou outra vez até sobre a direita. Quando lá vai, normalmente fica. Isto tem como reflexo exigir de Nani sérias preocupações táticas. É preciso fechar o flanco esquerdo. O jogador do Sporting oferece-se muitas vezes para essa tarefa. Tiago, o médio desse lado, garante uma noite relativamente tranquila ao esquerdino do Benfica. 

 
Com o passar do tempo, Ronaldo começou a vaguear. Neste lançamento a favor de Portugal vai tentar ir buscar a bola. Nani tinha sido obrigado a fechar à esquerda no lance anterior. Resultado: tudo fechado, confusão

É precisamente sobre a direita que Ronaldo volta a rematar, aos 17 minutos. Aproveita um mau passe dos dinamarqueses, mas a ação não sai perfeita. A bola passa em frente à baliza.

Aos 21 minutos, outro remate. É o terceiro. É de longe e sai ao lado. No total, Ronaldo fez seis remates, três dos quais à baliza. Um deu golo, mas já lá vamos.

Aos 22 minutos, toque curto. Aos 25, toque para a direita. Aos 26, outra vez pela direita, talvez a mais bonita jogada de Portugal.
Ronaldo trabalha bem e cruza para Nani rematar de cabeça. A bola sai ao lado.

Estamos perto dos 30 minutos quando consegue um corte de cabeça e sofre uma falta. Segue-se um passe para Cédric. Comete uma falta. Combina com Danny. Nos últimos minutos da primeira parte desaparece do jogo. É apanhado fora-de-jogo. Intervalo.

A segunda parte começa com Ronaldo a desperdiçar um contra-ataque. O passe para Pepe sai demasiado longo. Fora-de-jogo, aos 48 minutos. Reaparece aos 51 minutos, na melhor oportunidade de Portugal. A bola sobra para Danny, que serve o avançado do Real Madrid. Com tempo e espaço, na área, muita gente deve ter levantado os braços. Schmeichel foi um deles e ocupou tanto espaço que conseguiu defender. Enorme, o guarda-redes.

 
Por norma, depois deste frame costuma haver festa. Desta vez foi o guarda-redes a ganhar o duelo

Um, dois, três toques. Um passe para Moutinho aos 60. Um mau passe aos 63 e outros aos 66. A segunda parte de Ronaldo é errática. Portugal muda duas vezes de sistema tático. Sai Nani, depois sai Danny e por fim Tiago. Aparecem por ali João Mário, Éder e Quaresma.

Aos 72 minutos torna-se útil a cortar uma bola de cabeça num canto. Segue-se um passe para trás e um remate aos 77 minutos. É o quinto. De pé esquerdo, por cima. Durante nove minutos desaparece. Um toque para Eliseu aos 86. Um toque para o lado aos 88. Um toque para trás, aos 89. Fora-de-jogo aos 90.

Cinco minutos de compensação.

A coisa não parece agradável.
A Suécia parece, afinal, muito distante da Dinamarca.

No primeiro minuto dos descontos, Ronaldo em fora-de-jogo. Depois uma falta que origina um livre frontal para a Dinamarca. Ronaldo vê amarelo. É o único da partida.

Aos 90 mais três e qualquer coisa Ronaldo foge pela direita, vai à linha e cruza para trás, em direção a Quaresma. O extremo portista não consegue segurar. A jogada segue, Cédric sofre falta. Falta um único minuto. 

90 mais quatro minutos e 24 segundos. O livre é batido para a área, por Quaresma, mas não funciona. Ricardo Carvalho faz rodar, da esquerda para trás. Eliseu arrisca um passe longo. Krohn-Delhi (muito obrigado...) coloca de cabeça em Moutinho. O homem do Mónaco vê Quaresma na linha, pela direita.

Ronaldo está na esquerda, com o lateral direito dinamarquês. Enquanto todos olham para Quaresma, movimenta-se para a zona central da área. Aproxima-se de Éder.


Ronaldo está lá ao fundo, junto ao lateral direito dinamarquês.Tudo parece controlado...

Quando a bola sai do pé direito de Quaresma estão dois para dois no limite da pequena área.


Ronaldo movimentou-se depressa. Está a adivinhar. O lateral ficou lá atrás.

Se a bola sair bem.


Éder vai atacar o poste mais perto do lado onde está a bola

Saiu.


Afinal é Ronaldo quem se antecipa. Ele percebeu tudo bem mais cedo do que os outros...

A festa pode começar.

Na Dinamarca, Ronaldo foi um pouco mais disciplinado do que em França, onde jogou onde quis. 

Sobretudo nos primeiros 20 minutos e na parte final, manteve-se mais posicional. 

Não por acaso, quando a equipa ficou mais definida no campo jogou melhor. 

As movimentações do avançado do Real Madrid pelo campo trouxeram mais dano do que benefício.  Ronaldo não é alguém que possa movimentar-se incógnito. Os defesas vigiam-no em permanência. Ao procurar com insistência a direita e até o meio está a prejudicar a equipa quando a bola fica para o adversário e não acrescenta grande valor. Neste jogo, o extraordinário empenho de Tiago e Nani (não por acaso ambos substituídos, por esgotamento...) ajudaram a manter o onze de Fernando Santos equilibrado. Mas é um esforço que não faz sentido.

Como se viu no lance do golo, Ronaldo é mais forte do que todos os outros nos movimentos da esquerda para o meio. Com e sem bola. Junto à relva ou no ar. É assim que deve jogar.