O discurso é ambicioso e carregado de uma fé inabalável. Sissoko, avançado-revelação da Académica, acredita que pode mostrar ainda mais e, em pouco tempo, atingir um plano de verdadeiro destaque. Por enquanto, vai fazendo as delícias dos adeptos da Briosa, e de todos aqueles que, em geral, gostam de futebol. No sábado passado, foi a figura da grande vitória sobre o F.C. Porto.

«Estivemos muito concentrados e motivados. Apresentámos um sistema novo, que permitiu bloquear os pontos fortes deles, e aproveitámos também para acelerar sempre que tivemos oportunidade. Mas se me dissessem antes do jogo que ganharíamos por 3-0, não acreditaria», confessa, em conversa com o Maisfutebol.

Autor da assistência para o primeiro golo, o marfinense diz que sempre acreditou que passaria por Maicon, para fazer depois cumprir aquilo que mais gosta: assistir os colegas. Já tinha sido assim na Luz, quando meteu a bola para o remate vitorioso de Danilo, e parece ser um dos traços da personalidade deste jovem de 19 anos: a generosidade.

«Sissoko vai sair em Janeiro», diz agente

É por isso também que ficou conhecido, desde a infância, como «Dou-Dou», do francês «doux», que significa, neste caso, meigo ou doce, porque também se destaca pela tranquilidade e bondade genuína. «Gosto muito de ajudar os outros, valorizar os meus colegas e fazê-los brilhar. Se os ajudo, sei que estarei também a ajudar-me e iremos, certamente, entender-nos melhor», advoga.

Os melhores sentimentos, aprendeu a cultivá-los em Abidjan, onde cresceu, como muitos miúdos, a jogar à bola nas ruas. «O futebol sempre foi a minha a minha paixão. Nunca liguei muito a outras prendas que não fossem bolas. O bairro era complicado mas respeitavam-me por ser bom jogador. Era pequeno e já desafiava os mais velhos. Ainda hoje, quando lá vou de férias, fazemos torneios patrocinados por personalidades locais», conta.

Esteve na mira do Benfica e do Sporting

Sissoko veio para Portugal aos 17 anos, depois de sete anos no famoso Cissé Institut, dirigido pelo antigo jogador da Naval que lhe dá o nome. Passou nove meses no Senegal, local mais próximo para conseguir o indispensável visto e é aqui que o destino o começa a aproximar de Coimbra. «Houve a possibilidade do Benfica e do Sporting, mas havia trâmites burocráticos que não cumpriram ao passo que a Académica se empenhou a fundo para me ter cá», revela.

Depois de uma época nos juniores, passou para o plantel principal na última época, mas as oportunidades com Jorge Costa desvaneceram-se rapidamente com José Guilherme e Ulisses Morais. Agora, com Pedro Emanuel, a aposta foi firme e o jovem africano participou em todos os jogos, com exibições em crescendo e cada vez maior confiança naquilo que faz. Entre potenciais interessados está, para já, o Marselha.

«Nem sabia que tinha sido observado no sábado. Não me preocupo com essas coisas. Deixo-as nas mãos do Cissé e do meu empresário, mas, claro, fico contente aos saber dessas notícias. Dão-me ainda mais motivação para trabalhar. Como qualquer jogador, gostaria de jogar num grande clube. O campeonato francês, naturalmente, agrada-me», confessa.

«Dentro de dois anos, penso que toda gente vai ouvir falar de mim», atira, sendo de seguida confrontado com a inevitabilidade de ter de estar, por essa altura, num grande clube. «É para isso que trabalho todos os dias», retorque, num jeito desempoeirado. «No futebol, há que aproveita o momento. Se me aplicar a fundo, penso que chegar a um grande não será um milagre», reitera.