Fernando Santos irritou-se com as perguntas sobre Cristiano Ronaldo.

O selecionador começou a mostrar algum desconforto com o tema logo na primeira pergunta, quando o nome do capitão foi mencionado. Ouviu o resto da questão, sim, mas não evitou um sorriso irónico, acompanhado por um abanar da cabeça em sinal de reprovação.

Pouco depois, quando um jornalista espanhol insistiu, Fernando Santos interrompeu-o para dizer que não falava mais de Ronaldo. E até desafiou o repórter a fazer uma pergunta sobre o jogo.

Esta irritação do selecionador é de todo incompreensível. Ou antes, só há uma explicação possível: um enorme mal-estar em relação à possibilidade de ferir alguma qualquer suscetibilidade.

Seja como for, não chega. É demasiado curto.

O mito em torno de Cristiano Ronaldo, vale a pena recordá-lo, tem sido em grande parte alimentado pelo selecionador e pela própria Federação. Porque lhes dá jeito. Dá-lhes naturalmente jeito ter um o jogador mais mediático do mundo e arrecadar muito dividendos (e largos milhões de euros) com os contratos de publicidade, patrocínio e jogos particulares que isso significa.

Foi aliás o próprio Fernando Santos que repetiu vezes sem conta que Ronaldo é o melhor jogador do mundo e que é o único atleta da seleção com lugar garantido no onze.

A partir daí não pode irritar-se tão facilmente.

Não pode, no fundo, usar a bandeira que é Ronaldo quando lhe dá jeito e defender que o capitão é um jogador exatamente igual aos outros quando já não lhe dá jeito que seja de outra forma.

Numa altura em que, pela primeira vez, um treinador olha para Cristiano como um jogador que pode não jogar sempre os noventa minutos, tirando-o de campo com o jogo a decorrer, é natural que haja uma curiosidade dos jornalistas em explorar esse facto. Que é completamente novo.

Mas disso a imprensa não tem culpa. Nem disso nem do facto de Fernando Santos ter receio de entrar em confronto com Maurizio Sarri ou com Ronaldo. Os jornalistas só fazem o trabalho deles: exatamente na mesma dimensão em que o fizeram nos milhares de vezes que elogiaram Cristiano.

Por isso aquela irritação do selecionador só lhe fica mal. A impressão que deu é que é mais fácil para Fernando Santos entrar em confronto com um jornalista: é mais fácil para ele entrar em confronto com o elo mais fraco, portanto.

Saiu muito mal na fotografia.