Autor: Troels Henriksen*

A autoestima de Niclkas Bendtner levanta questões. Na primavera de 2010, o jogador e o Arsenal foram visitados por um psicólogo que, entre outras coisas, quis medir a autoestima dos jogadores. Os resultados eram de um a nove. Bendtner teve dez.

O avançado é um enigma. Muitos não entendem porque é que ele tem tanta confiança em si mesmo. Para Bendtner, contudo, não importa o que os outros pensam dele. Antes do Mundial de 2010, em entrevista ao Jyllands-Posten, o jogador explicou a sua lógica.

«Um exemplo: se um defesa enfrentar um dos melhores avançados do Mundo e ele achar que não é assim tão bom, então vai certamente tremer. Eu penso sempre que vou ser melhor que o central adversário, seja ele quem for.»

Nicklas Bendtner, ao vivo, não é uma pessoa arrogante. Acredita em si mesmo, apenas. Ele cresceu na ilha de Amager em Copenhaga. Começou a jogar futebol com 4 anos e, aos 16, deixou o FC Copenhaga para rumar ao Arsenal.

O talento e a confiança estiveram sempre lá. Mas nem tudo foi fácil para Bendtner.

Em 2009, o jogador viu-se envolvido num acidente de carro dramático. O seu Aston Martin foi parar a um campo agrícola, a caminho do treino. Bendtner garante que não estava em excesso de velocidade nem teve culpa. Um carro atravessou-se no caminho do jogador e ele não conseguiu evitar o acidente.

Bendtner ficou em estado de choque. Esse acidente viria a atormentá-lo durante várias temporadas. Umas semanas mais tarde, soube-se que ele tinha magoado a virilha no despiste. De cada vez que corria e rematava, sentia dor. Ainda assim, Bendtner continuou a jogar pelo Arsenal, com recurso a comprimidos para as dores.



Quando ele se apresentou na seleção para disputar o Mundial de 2010, mal conseguia correr. Jens Bangsbo, preparador físico da Dinamarca, criticou o Arsenal por não ter comunicado a lesão.

«Cada clube tem os seus argumentos. Eles podem dizer que não se importam se o Nicklas fica sem jogar nos próximos meses, porque precisavam dele num par de jogos. O futebol internacional é assim mas é certo que continuar a jogar não lhe fez bem.»



A Dinamarca não esteve bem no Mundial e Bendtner também não, sobretudo por causa da lesão. O acidente de carro e os jogos em esforço nesse período, bem como em 2010/11, ajudam a explicar o ponto de estagnação na sua carreira, em contraste com a sua autoestima.



Ele rumou por empréstimo ao Sunderland, na presente época, e acumulou alguns desempenhos interessantes em campo. Fora dele, nem tanto. Em Dezembro, terá estado envolvido num desacato com outro homem após a vitória da Dinamarca frente à Suécia.

Para além disso, Niclkas Bendtner foi condenado por excesso de velocidade - apanhado a 166 kms/hora numa autoestrada - e, finalmente, foi preso por suspeitas de destruição de carros em Newcastle com Lee Cattermole, seu companheiro de equipa no Sunderland. Todas as queixas viriam mais tarde a ser retiradas.

Em suma, não foi um bom ano para Bendtner fora dos relvados. Contudo, os dinamarqueses esperam que o último incidente tenha levado a uma mudança de comportamento por parte do jogador. Depois disso, ele emitiu um comunicado a prometer uma concentração total na sua vida desportiva.

Desde então, ele tem estado afastado de problemas fora de campo, tem jogado sem sentir as dores que o incomodaram por ano e meio. Voltou a marcar golos e, neste verão, deverá perceber finalmente se pode ser o jogador que ele sempre acreditou que seria.

* Troels Henriksen é jornalista do Jyllands-Posten. Este artigo está integrado na Euro2012 Network, uma cooperação entre alguns dos melhores meios jornalísticos dos 16 países participantes na competição.