«Domingo à Tarde» é uma rubrica do Maisfutebol, que olha para o futebol português para lá da liga e das primeiras páginas. Do Campeonato de Portugal aos Distritais, da Taça de Portugal aos campeonatos regionais, histórias de vida e futebol.

«As coisas estavam, a nível desportivo, a correr lindamente. Depois comecei a aperceber-me que algo estava a passar-se de errado comigo, por causa do número limite de inscrições.»

Em menos de meio ano, a carreira de Henrique foi um vaivém até ao ponto de partida. A acabar contrato com o Boavista, o defesa disse adeus à pantera no fim da última época. A Portugal, idem. Semanas depois, o futuro acabaria nos cipriotas do Pafos. Mas de forma fugaz. Problemas e alegadas promessas contratuais terminaram com rescisão unilateral de contrato.

«Lá, só podem inscrever 15 jogadores acima de 22 anos. Fui-me apercebendo que estavam sempre a contratar e acabámos por estar 16 jogadores acima dos 22 anos na equipa. Pensei que fosse ser inscrito. Estava para ser, segundo eles. Houve rescisão de um extremo esquerdo, que se chateou com o treinador. Inventaram uma desculpa para mim e contrataram outro extremo para colmatar essa saída. Fizeram uma rescisão unilateral, sem justa causa. Agora, as coisas estão a ser tratadas pelo Sindicato e, em princípio, o processo vai ser encaminhado para a FIFA», detalha Henrique, ao Maisfutebol.

Um cenário inesperado, «não o previsto» para Henrique, que chegou a ter propostas para Hong Kong e Índia, mas a perspetiva familiar também pesou. Tanto quanto no regresso a Portugal.

Lourosa como ponto de recomeço

Na volta, o Lusitânia Lourosa como atual capítulo. Primeiro, a treinar. Depois, a oportunidade a jogar.

«Voltei a Portugal. Não queria estar parado. Como o Lourosa fica perto de minha casa, falei com alguns jogadores com quem já tinha jogado. Se havia possibilidade de ir lá treinar para manter a forma. Abriram-me as portas, estive lá cerca de mês e meio. Se quisesse ficar a jogar, também estariam dispostos. Ao início, tinha expetativas para outras divisões. Mas estava farto de estar à espera e como foram os primeiros a abrir as portas, achei por bem dar uma ajuda e também estão a ajudar-me. Acabou por ser bom para os dois», atira o jogador de 32 anos.

Henrique voltou à competição a 28 de outubro, no clube da série B do Campeonato de Portugal. Agarrou a titularidade, já fez três jogos e apontou um golo, na vitória ante o Águeda, por 2-0.

A vitória do Lourosa com golo de Henrique:

«A equipa está forte, estou feliz por voltar a jogar e é isso que me deixa feliz. Tive uns tempos complicados», ilustra.

O Lourosa, recém-promovido ao Campeonato de Portugal, está no quarto lugar, a dois pontos da zona de play-off de subida. Segue-se o líder Gondomar, ainda sem derrotas, na próxima jornada.

«O objetivo é ganhar todos os jogos. Esperamos ganhar e impor a primeira derrota ao Gondomar. O principal objetivo do Lourosa é subir de divisão», atira Henrique, natural de Fafe, onde iniciou a carreira.

Um desafio diferente

Depois das divisões profissionais, entre Desp. Aves, Feirense, Académica, Arouca, Penafiel, Feirense e Boavista, além de passagens no estrangeiro por Jagiellonia (Polónia) e Blackburn Rovers (Inglaterra), Henrique está um patamar abaixo, mas com ambição firme. E pensamento na família, em particular na filha, que tem meses de vida.

«Ainda apareceram coisas para o estrangeiro, mas não foram do meu agrado. E a família pesou. Com receio de voltar a acontecer o mesmo, preferi dar conforto à família, pelo menos até janeiro. Depois, logo se vê», antecipa.

O compromisso entre Henrique e o Lourosa foi claro ao início. «Se aparecesse uma coisa melhor na abertura do mercado a nível desportivo, deixariam sair. Se não aparecer, vou continuar lá», garante o próprio, num «desafio diferente» no qual aprende e procura passar experiência.

«A margem de erro acaba por ser maior nesta divisão, mas a responsabilidade é muita. Está a correr bem. Uma das minhas partes é transmitir experiência e tranquilidade em campo. As pessoas têm-me ouvido», nota.

Depois de um de «muitos tombos», Henrique diz-se «mais do que preparado» para reconstruir carreira. «Custou, mas já estou noutra luta», remata.