O Rio Ave está, pela primeira vez, nas provas europeias, fruto da presença na final da Taça de Portugal 13/14, e pode até chegar à fase de grupos da Liga Europa, caso passe o «play-off» com o Elfsborg, depois de ter eliminado o Gotemburgo.

Apesar da derrota com o Benfica, o caminho ficou aberto pelo facto do conjunto da Luz ter tido acesso à Champions. Algo que não aconteceu há 30 anos quando, em 1984, o Rio Ave chegava à primeira final da sua história, frente ao FC Porto.

O capitão dessa equipa de há três décadas era Duarte Sá. Entre 1973 e 1986, o lateral-esquerdo e central só conheceu um clube na carreira: o Rio Ave. «Eterno capitão», somou entre 79 e 88, 155 jogos e marcou dez golos.

Em grande entrevista ao Maisfutebol, Duarte Sá não tem dúvidas: este é o maior momento da história do Rio Ave, que completa 75 anos de existência como clube.

Na antevisão do jogo de quinta em Boras, frente ao Elfsborg, Duarte Sá (natural de Vila do Conde, hoje com 61 anos, sempre ligado à terra natal, onde desempenha as funções de secretário-geral de armadores de pesca), compara esta equipa de 2014 com a de há três décadas, lembra dificuldades de base que o Rio Ave tinha e que foi superando e recorda a influência de Mourinho Félix, pai de José Mourinho e técnico da equipa que chegou à final de 84.


Imaginava, nessa altura, que o Rio Ave chegaria à Europa?
Obviamente que não, era uma realidade que nos escapava. Quando fomos campeões da III, nem sequer pensávamos em chegar à I, para ser franco. Quanto mais à Europa! O passo mais importante foi mesmo chegarmos à I Divisão. É certo que chegámos a descer, mas regressávamos sempre e depois de ficar na I Divisão, ir à Europa acabou por ser um passo mais pequenino. Podia até já ter sido há 30 anos, caso o FC Porto tivesse sido campeão em 1984.


Que jogadores destaca dessa equipa de 1984?
Curiosamente, essa equipa de 1984 não é a mais forte do Rio Ave. A de 1981/82 era mais forte, tinha melhores jogadores. Mas como o Rio Ave é um clube modesto, não conseguia manter os melhores elementos. Hoje o Rio Ave tem outras comodidades, outras condições. É diferente. Cresceu do ponto de vista organizativo, de infra-estruturas. E a parte desportiva veio por arrasto. O que aconteceu na época passada já não me surpreendeu.



Entrevista com Duarte Sá, o «eterno capitão»:





Em 1984, o Rio Ave não tinha dimensão para chegar a uma final?
Era muito mais pequeno. Cresceu demasiado depressa. Como disse, em 1977 fomos campeões da III! Em poucos anos chegámos muito alto. Perdemos o Quim, para o FC Porto. Perdemos o Casaca, para o Boavista…


Dibo criativo, João Tomás muito eficaz

Qual foi, para si, o melhor jogador que passou pelo Rio Ave desde a sua altura, desde os anos 70/80?
Não consigo responder a essa pergunta. Não consigo, mesmo, até porque uma escolha dessas seria sempre também uma escolha «contra» outros… E isso eu não consigo fazer, quando falo do Rio Ave.


Ok, pergunto-lhe então sobre dois jogadores que foram marcantes em fases diferentes: Dibo e João Tomás…
São dois casos curiosos. Dibo tinha um talento incrível, fazia coisas do arco da velha com a bola. Era um artista. Mas do ponto de vista do rendimento desportivo, deixava muito a desejar. A nível de criatividade, imaginação, qualidade técnica, talvez o melhor que vi no Rio Ave. No resto, de forma alguma. Quanto ao João Tomás, não era brilhante tecnicamente, mas com uma incrível capacidade de fazer golos… do nada. Quase que os inventava. O João era muito eficaz.


Para acabar, o que torna o Rio Ave especial?
Essa proximidade com o mar, a ligação aos pescadores, o facto de ser uma zona piscatória, dá um caráter muito marcante a este clube. Os adeptos do Rio Ave vivem o futebol com grande fervor, com grande paixão.