*Enviado-especial ao Euro 2016

A primeira vitória deu quartos de final. Com sofrimento, no prolongamento, depois de uma bola no poste, e três oportunidades falhadas por Vida. A fantástica Croácia, que corria como underdog e era a maior candidata à final do lado de cá do quadro, ficou pelo caminho. Portugal terá agora a Polónia pela frente, em Marselha.

Como se de um jogo de xadrez se tratasse, tal a calma com que ambos os ataques abordaram cada jogada. À espera do momento, a rodear o rei, a assobiar para o lado, para o xeque, passo a passo, sem pressa. Toque no relógio para mudar de vez, à voltar àquela mesma paciência, quase enervante, à procura de um espaço, de um erro, de um golpe que desequilibrasse o tabuleiro a seu favor. Esse erro, o mais grave, já surgiu quase no fim, e sorriu para Portugal.

Fernando Santos fez quatro alterações no onze que começou frente à Hungria. Raphäel Guerreiro recuperou o lugar que é seu desde o primeiro minuto deste Euro 2016, depois de debeladas as questões físicas, Fonte substituiu o mais desgastado Ricardo Carvalho, e o mesmo terá acontecido na troca entre Adrien e João Moutinho. A consequência imediata da saída do médio do Monaco foi a entrega dos cantos e livres a João Mário, que dividiu essa missão com Raphäel.

É de uma bola parada, um livre lateral, que nasce a primeira grande oportunidade do jogo e para Portugal: aos 26 minutos, João Mário passou por cima, Raphäel cruzou com o seu belo pé esquerdo e a bola caiu para as costas de Vida, onde apareceu Pepe. O central cabeceou por cima.

Dois erros, e algum perigo

Sempre muito controlada, a Seleção descontrolou-se em dois momentos. À passagem da meia-hora, uma bola perdida por Nani a meio-campo apanhou a defesa desequilibrada e Perisic com espaço pela direita. Raphäel foi atrás, fez a contenção, o avançado do Inter fletiu para dentro e rematou, mas ao lado. Aos 40, um Fonte atento cortou um cruzamento muito perigoso de Strinic, depois de o lado direito da defesa lusa ter ficado a descoberto.

Cédric, uma das novidades, ajudou a anular Perisic, que levava oito golos entre fase de apuramento e fase final, e apresentava-se em grande forma. O extremo esteve mal em todo o jogo, exceto na bola que enviou ao ferro no final do prolongamento. William mostrou-se muito atento à verticalidade de Rakitic e Brozovic, ajudando os centrais. André Gomes e João Mário foram importantes quando foi preciso ter a bola e estiveram em campo. Nani e Ronaldo, sempre muito vigiados, mais uma vez seriam decisivos. Adrien apareceu a espaços, não acrescentou roturas, salvo o passe alto para Nani – derrubado por Strinic sem que o árbitro tivesse visto –, mas trabalhou imenso e saiu esgotado.

Do lado da equipa de Ante Ancic, Modric mostrava dificuldades em quebrar linhas, fosse com passes ou movimentos, e Rakitic estava, tal como os outros, muito apertado. As equipas anulavam-se.

Renato, aquece!

Durante o intervalo, Fernando Santos mandou aquecer Renato Sanches e Rafa. Queria tê-los prontos para serem lançados no momento em que decidisse partir o jogo, mas destes só o primeiro entrou. No regresso, começaram os mesmos, mas por pouco tempo. André Gomes teve apenas mais cinco minutos, era preciso tapar Strinic e isso foi feito com o desvio de Nani para o flanco. O médio do Valencia saiu visivelmente inferiorizado fisicamente.

Não foi imediato, mas, com o passar do tempo, Renato começou a crescer e Nani (e depois Quaresma) chegou para o lateral-esquerdo croata.

Brozovic, com a defesa lusa desatenta num canto, atirou por cima, antes de Sanches combinar com João Mário e acertar mal na bola, atirando ao lado.

Da defesa croata, a bola também começou a sair longa dos pés de Corluka e Modric, procurando as movimentações de Mandzukic (depois Kalinic) e Brozovic (depois Pjaca). Mas era quase sempre de bola parada que a Croácia ameaçava. Vida, entre a segunda parte e o prolongamento, falhou três grandes oportunidades, a última já depois do golo de Portugal, perto do apito final.

Aos 64, muito antes, Nani tinha pedido penálti de Strinic, depois de uma bola alta de Adrien, com alguma razão. Estava dado o mote para os jogadores portugueses voltarem a empurrar os croatas para trás: bolas nas costas.

Aguentar no prolongamento

Verdade seja dita, a Croácia quis mais não ir aos penáltis. Fonte quase borrou a pintura, mas Kalinic – que entrou para o lugar de Mandzukic – não aproveitou, Patrício tropeçou no pé de um croata e Vida falhou a segunda, de cabeça, sem ninguém na baliza.

Chegou o momento do jogo.

Perisic subiu mais alto que todos e quase de costas cabeceou ao poste, e a bola chegou rápida a Renato Sanches. O miúdo correu, hesitou, colocou em Nani, que terá tentado o remate sem sucesso e a oportunidade chegou a Ronaldo. Subasic defendeu, mas Quaresma já estava lá. Xeque-mate!

A Croácia ainda tinha Vida, mas esgotou-se pouco depois, nos descontos, no terceiro remate torto, com Subasic então também no meio do desespero.