Falei anteriormente na gestão de recursos pós-apuramento. Humberto Coelho fê-la. O mérito da decisão é seu e dos seus colaboradores. Como treinador, felicito-os pela sensibilidade, pela crença em todos os jogadores e principalmente por um resultado histórico.

A equipa técnica viu aumentar os seus problemas relativamente às opções, como consequência do super rendimento de alguns jogadores, mas por outro lado ganhou ou incrementou o respeito e a harmonia de futebolistas que por não serem opção primordial se sentiam certamente submergidos em frustração e expectativas. Fantástica vitória, mas a Alemanha deu pena.

Pena, um sentimento que não gostaria que sentissem por mim, um sentimento que em futebol simboliza desastre. Sim, a selecção alemã foi futebolística e psicologicamente caótica, um deserto de ideias, uma laranja sem sumo, um produto que se comercializa fora do prazo. Deu pena. E, repito, em futebol isso é o pior que se pode sentir por um adversário.

Turquia versus Galatasaray

A euforia invade as casas e as mentes dos portugueses. Normal, é a lógica consequência do que andamos a tramar pelos incrivelmente bem tratados relvados holandeses. Obviamente, todos pensamos que frente à Turquia a vitória será nossa. Somos melhores individualmente, temos mais experiência internacional, mais energia acumulada pelo descanso de grande parte dos titulares, o grupo transmite cooperação e comunhão de objectivos.

A minha pergunta com objectivos reflectivos é esta: que inglês pensaria que o Galatasaray venceria o Arsenal na final da Taça UEFA?

Recordar Popescu

Gica Popescu foi meu jogador no «Barça» e foi vendido ao Galatasaray. Fiquei com saudades de um fabuloso profissional e os contactos entre nós mantiveram-se. Lembro-me de ele me ter dito uma vez: «Mister, no dia em que os turcos conseguirem ser fora do seu país aquilo que são na Turquia, cuidado...». Lembrava ele a fantástica capacidade física, o espírito de superação, a coragem, a agressividade, a qualidade técnica e a disciplina táctica. Penso e analiso esta selecção e sinto-a capaz de nos oferecer um jogo difícil.

Porquê? Eis algumas razões:

- Flexibilidade táctica para se adaptar ao sistema de dois ou três centrais;

- Alas sempre bem cobertas e equilíbrio posicional;

- Duplo pivot defensivo com capacidade de marcação e ritmos de transição após perda de bola;

- Hakan Sukur demolidor e Rustu insuperável.

Creio que Portugal voltará ao seu modelo básico. A defesa zonal terá uma tarefa mais ou menos facilitada de acordo com a forma como pressionarmos as primeiras fases de construção dos turcos. De posse da bola voltaremos a ter (ou não) problemas similares aos do jogo com a Roménia, caso insistamos em centralizar as nossas acções.

Repito: a única forma de desequilibrar uma defesa zonal de duas linhas onde a distância entre as mesmas é quase nula é provocar, pela alta circulação de bola e pelas simetrias e equilíbrios posicionais, a basculação adversária. Circular a bola mantendo posições não desgasta. Bascular defensivamente provoca asfixia.

É um aspecto que me parece fundamental e que não me canso de transmitir aos meus jogadores antes dos jogos de alta intensidade emocional: quem melhor controlar as suas emoções, maiores possibilidades terá de vencer