O Boavista travou o F.C. Porto no regresso do dérbi da cidade, sete anos após o último duelo. A expulsão prematura de Maicon comprometeu as aspirações portistas, com Julen Lopetegui a manter-se fiel ao jogo de posse e passe, rejeitando o futebol direto. Ponto saboroso para o Boavista (0-0).

A equipa de Petit, com nítida diferença de qualidade, resgatou um ponto no Estádio do Dragão. No final, os seguidores axadrezados fizeram-se ouvir no recinto azul e branco.

O F.C. Porto não conseguiu acompanhar a reviravolta do Benfica frente ao Moreirense e deixou a formação encarnada isolada na frente da Liga. Segue-se o clássico frente ao Sporting.

O dérbi da Invicta regressou em dia de tempestade, um quadro apoteótico a ditar leis no Estádio do Dragão. As forças na natureza motivaram um atraso de quarenta e cinco minutos no início do encontro.

Após uma tarde com clima ameno no Porto, uma mudança drástica no cenário: nuvens carregadas a cobrir o céu, chuva torrencial e trovoada a acompanhar. Falhas elétricas, relvado alagado, jogo em risco.

A equipa de arbitragem orientada por Jorge Ferreira adiou por duas vezes o pontapé de saída. Quis esperar pela melhoria das condições. A dada altura, já perto das 21 horas, Petit subiu ao relvado para dar a sua opinião favorável à realização do encontro. A equipa técnica do FC Porto, sobretudo o espanhol Julen Calero, parecia ter maiores dúvidas. Houve jogo, ainda assim.

O tapete verde do Estádio do Dragão apresentava condições suficientes para o arranque do dérbi, embora fosse visível um enorme charco na grande área virada a sul. Seria essa poça de água, ironicamente, a negar o golo a Brahimi.

Bola ao charco na área do Boavista

À passagem do primeiro quarto-de-hora, Tello ganhou uma bola a meio-campo e correu sem oposição para a baliza do Boavista. Do outro lado vinha Brahimi, completamente isolado, e o espanhol fez o passe exigido. Porém, a bola parou no charco e a defensiva axadrezada fez o resto.

Cristian Tello foi uma das novidades no onze de Julen Lopetegui, desta vez com forte influência espanhol. Foram quatro jogadores do país vizinho a surgir de início, entre eles os estreantes Andrés Fernández e Ivan Marcano. José Ángel substituiu Alex Sandro (poupado para o clássico). Nota ainda para as titularidades de Rúben Neves e Evandro. Demasiadas mudanças numa aposta de risco que não deu certo.

O Boavista, por seu turno, apostava nas caraterísticas dos seus jogadores para montar uma teia e travar o futebol ofensivo do F.C. Porto. Anderson Correia, lateral esquerdo de raíz, subiu no terreno e deixou Carlos Santos a fechar aquele flanco. O terreno pesado favorecia as pretensões axadrezadas, em teoria. 

Maicon a esquecer o manual 

As regras eram claras, como as leis de jogo, mas Maicon terá esquecido uma parte do manual. Num lance aparentemente inofensivo, perto da linha do meio-campo, o sub-capitão portista foi imprudente e entrou de forma dura sobre Anderson Correia, precisamente. Jorge Ferreira não teve dúvidas.

Maicon afastou-se do clássico frente ao Sporting. Petit respondeu de imediato com a troca de um defesa (Carlos Santos) por um extremo (Brito).

O Boavista sentiu dificuldades para aceitar o novo papel, frente a um F.C. Porto abnegado e incisivo, procurando compensar a inferioridade numérica com o apoio de Rúben Neves a Marcano e a velocidade dos seus extremos. Tello foi apanhado por duas vezes em posição irregular mas ficam dúvidas no segundo lance, já que a bola parece vir de Beckeles, e não de Herrera.

Já perto do intervalo, a equipa de Petit fez finalmente o seu primeiro remate. Logo depois, esteve mesmo perto do golo. Zé Manuel recebeu no limite da área e abriu para Anderson Correia na esquerda mas este, pressionado por Andrés Fernández, atirou às malhas laterais.

Julen Lopetegui sentiu que o F.C. Porto podia chegar à vitória, mesmo com dez elementos, e manteve a defesa a três (mais um). Para a segunda parte, Casemiro surgiu no lugar de Evandro e libertou Rúben Neves para missões ofensivas, ficando o brasileiro no apoio a Marcano. Curiosamente, Rúben Neves caiu de rendimento.

Sem vias abertas para a vitória 

Os dragões entraram melhor na etapa complementar - já com o relvado seco - e criaram algumas oportunidades interessantes, sobretudo ao minuto 59. Cristian Tello surgiu na área em boa posição mas atirou de pé esquerdo por cima. O relógio corria a favor do Boavista, satisfeito com o ponto e mantendo o ligeiro apetite por algo mais. Ligeiro, saliente-se.

Ricardo Quaresma entrou quando o cansaço começou a ser evidente na formação azul e branca. Não foi particularmente feliz. Em outras alturas, um cruzamento de letra para o pontapé de bicicleta de Jackson encantaria plateias. Timing errado. Na sequência, Herrera desperdiçou a oportunidade e atirou por cima.

Jackson Martínez ainda cabeceou à figura de Mika, em nova ocasião de golo. Julen Lopetegui preferiu manter-se fiel aos seus princípios, determinando a continuidade do futebol pelo chão. Na última cartada, preferiu Adrián López a Aboubakar, fugindo ao jogo direto.

O Boavista, coeso e de linhas recuadas, segurou o empate. Podia ter feito mais, ainda assim, mas faltou experiência para tirar proveito de um cenário vantajoso.