Moussa Marega. A improvável figura maior do título portista. O avançado maliano passou de patinho feio a jogador mais decisivo rumo ao campeonato que fugia há quatro anos, com Sérgio Conceição a conseguir potenciar ao máximo as suas características.

Mas, como é óbvio, o FC Porto campeão foi obra de muitos mais. Passa pelo golo de Herrera na Luz, pela forma como Sérgio Oliveira colou a equipa quando perdeu Danilo, pelos golos de Aboubakar, pelas assistências de Alex Telles, pela segurança de Casillas ou da dupla Felipe-Marcano. Uma mescla que resultou na reconquista do título e lançou a euforia entre as hostes azuis e brancas.

-Quem és tu Marega?

Estávamos em agosto e os adeptos faziam contas. Os reforços não chegavam, Sérgio Conceição apresentava um esquema de jogo que indiciava dar espaço a dois avançados na frente e a dedução era simples: falta gente. Parecia, não era? Ninguém estava era a adicionar Marega à equação. Muito provavelmente, só mesmo Conceição percebeu que o maliano, a regressar de empréstimo após uma primeira passagem para esquecer no Dragão, ainda poderia ser feliz de azul e branco vestido.

Na primeira jornada, Marega saltou do banco para render o lesionado Soares e marcou dois golos. O que começou por ser visto como uma espécie de «sorte de principiante», aos poucos foi-se transformando em constante. Os golos sucederam-se, as exibições convenceram e quando, após a vitória caseira com o Sporting, se lesionou, a equipa sentiu muito a sua falta. Voltou a tempo de, na Madeira, marcar o golo que deixou tudo mais claro. Foi o jogador mais decisivo na época do FC Porto, virando, completamente, a imagem do avesso.

-Herrera: um título serve de pedido de desculpas?

É verdade que, não sendo um jogador consensual, também não tinha sobre si um espectro pessimista tão grande quanto Marega. De qualquer forma, havia sempre o fantasma do jogo com o Benfica, no Dragão, na época passada, em que cedeu de forma inusitada o canto que viria a resultar no empate para lá da hora. Que melhor forma de se redimir do que fazer o FC Porto renascer para o título em pleno estádio da Luz, com um golaço?

Começou a época na sombra da dupla Danilo-Oliver mas rapidamente ganhou o lugar ao espanhol e tornou-se indiscutível no miolo. Quando o português se lesionou, ganhou companhia de Sérgio Oliveira e conseguiu formar uma dupla coesa, fazendo com que o FC Porto não se ressentisse da ausência e empurrando os colegas para uma reta final que, pese os tropeções de Paços de Ferreira e Restelo, acabou por dar o tão desejado título.

-Brahimi, porque a magia faz sempre falta

Numa equipa que foi, quase sempre, direta ao assunto e sem grandes curvas no caminho até ao golo, Brahimi foi a exceção necessária. A magia faz falta a qualquer equipa quando o plano A ameaça falhar.

O mago argelino consegue, à quarta tentativa, o título que buscava desde que aterrou em Portugal e começou a mostrar a sua classe nos relvados lusos. Viveu, por ventura, a mais regular das épocas em Portugal, com lampejos da primeira amostra, do verão de 2014, marcando ainda o decisivo golo na vitória com o Sporting. O jogo com o V. Guimarães, em casa, quando fez um dos golos do ano, será a melhor amostra daquilo que Brahimi dá ao jogo do FC Porto: o seu lado imprevisível.

-Alex Telles, precisa de assistência?

Há uma brincadeira que já passou por vários jogadores e que os compara a uma seguradora: quando for preciso assistência, ele está lá. Alex Telles é mais um que encaixa neste perfil.

O rei das assistências do plantel e da Liga confirmou no segundo todas as qualidades que já tinha mostrado no primeiro. É mais um na linhagem de bons laterais esquerdos do FC Porto, numa posição onde não há muito tempo havia Alex Sandro ou Álvaro Pereira. Também deu o seu contributo decisivo com o golo de livre que iniciou a reviravolta no Estoril, num dos jogos mais marcantes da temporada.

-Casillas: ora diga 23!

Na mais conturbada época de dragão ao peito, em que chegou a perder o lugar para José Sá durante um largo período, Iker Casillas pode sair de cabeça erguida. Não só recuperou o posto à custa do seu trabalho e de uma postura irrepreensível mesmo quando assistiu a vários jogos no banco de suplentes, como ainda consegue o 23.º título da carreira, o primeiro em Portugal.

No currículo de um dos jogadores mais titulados da história do futebol, passa a constar a Liga portuguesa, ao lado de cinco campeonatos espanhóis, duas Taças do Rei, quatro Supertaças de Espanha, três Ligas dos Campeões, duas Supertaças Europeias, uma Taça Intercontinental, um Mundial de Clubes, um Mundial de Seleções, dois Europeus de seleções e um Mundial sub-20. Ufff...

Agora fica a dúvida: o contrato termina. Iker despede-se ou renova?

-Marcano e Felipe: se calhar Pinto da Costa não exagerou assim tanto...

Foi na época passada que o presidente do FC Porto colocou um rótulo pesado em Marcano e Felipe: «uma das melhores duplas de sempre» do clube e do futebol português. Será mesmo? A verdade é que os números encarregaram-se de colocar a sentença do presidente portista debaixo de uma capa que parecia exagerada, mas se calhar não é assim tanto.

Já ninguém se lembra do Marcano hesitante e errático que chegou à Invicta em 2014, sendo que com Felipe as dúvidas dissiparam-se bem mais rápidos. É difícil separá-los nesta análise, embora seja de salientar que o espanhol viveu, este ano, a mais goleadora temporada da carreira: seis golos, quatro deles na Liga. Felipe marcou quatro, mas foi, sobretudo, na segurança defensiva, claro está, que a ação de ambos se revelou decisiva, secundados por Reyes, que se mostrou à altura para suprir ausências, mas nunca ousou contestar o estatuto dos dois titulares.

-Sérgio Oliveira: dos jogos grandes aos jogos todos

Mónaco-FC Porto, 26 de setembro. Cerca de uma hora antes do início do jogo, a notícia cai como uma bomba: Sérgio Oliveira titular. O médio não tinha qualquer minuto de competição até àquele dia. O sucesso no Principado ajudou a validar a aposta e Sérgio Conceição passou a repeti-la em jogos de maior grau de dificuldade. Os primeiros jogos do médio a titular foram, por esta ordem, contra Mónaco, Sporting, Leipzig, Besiktas e Benfica. Um percurso caricato que, contudo, a partir da 19.ª jornada alargou-se a tudo o resto.

A lesão de Danilo, abriu uma vaga no miolo e Conceição não perdeu muito tempo a apostar a tempo inteiro em Oliveira. Passou de jogador dos jogos grandes a jogador dos jogos todos.

-Ricardo Pereira: cresceu quando recuou

Um bom exemplo de como uma sustentada política de empréstimos pode ser útil a um clube. Ricardo Pereira passou dois anos em França, deixou de ser extremo e passou a lateral. Recuou no terreno e cresceu imenso como jogador. Partiu menino, voltou homem.

Desde o início da época que a lateral direita da defesa foi dele e Ricardo transformou-a numa autêntica passadeira em vaivém defesa ataque. Passadeira bloqueada, claro, porque a segurança também lá esteve nas doses certas. Jogou a extremo quando o treinador precisou, foi lateral no resto do tempo, foi útil de início a fim.

-Danilo: guerreiro travado pelo combate

Decisivo no início, afastado depois. Danilo foi, por ventura, a ausência mais prolongada da época, depois da lesão sofrida na meia final da Taça da Liga, seguindo-se outra, logo no regresso, em Belém, naquele que foi o ponto mais baixo da temporada portista.

Antes disso, contudo, Danilo foi indiscutível como sempre, desde que chegou ao FC Porto. Demorou um pouco a perceber as ideias de Sérgio Conceição para o seu lugar, mas quando tudo encaixou foi o guerreiro do costume, marcando ainda golos importantes ao Rio Ave, em Vila do Conde, ou ao Leipzig, para a Liga dos Campeões. A lesão roubou-lhe a ponta final e o Mundial, mas Danilo pode ser o primeiro reforço para o campeão na época que aí vem.

-Aboubakar: para quem não queria vir...

A presença de Vincent Aboubakar no plantel portista foi, por si só, uma surpresa. O avançado chegou a afirmar, durante a passagem pelo Besiktas, que não tinha intenções de voltar a vestir a camisola portista. Sérgio Conceição mudou tudo. Convenceu-o, motivou-o e tirou dele a melhor temporada da carreira!

A sua importância pode ser mais discreta agora, pois os problemas físicos obrigaram-no a uma quebra notória de rendimento a partir de janeiro: apenas três dos 26 golos que somou este ano, em todas as competições, foram em 2018. Mas a época dura dez meses e não cinco e, por isso, ainda hoje, Aboubakar é o melhor marcador portista somando todas as provas, o que, por si só, realça a importância que conseguiu ter no grupo. É caso para dizer: para quem não queria vir, nem se saiu nada mal...