A 17 dias de completar 60 anos, Fernando Santos vai formalizar nesta quarta-feira um grand slam de carreira, repetindo a proeza de Otto Glória – o único, antes dele, a treinar os três grandes de Portugal e a seleção nacional. O seu desafio imediato, ainda antes de se conhecer o desfecho da batalha jurídica em torno da suspensão da FIFA, será concluir com êxito o apuramento para o Euro 2016.

No fundo, o novo selecionador terá de repetir os sucessos nas duas campanhas de qualificação que cumpriu com a seleção grega, nos últimos quatro anos. Um percurso que concluiu com duas presenças em fases finais, superando as fases de grupos, tanto no Euro 2012 como no Mundial 2014. E, principalmente, com um rendimento de 69 por cento, número inédito para os padrões gregos, mas recorrente na sua carreira, já que iguala os melhores registos conseguidos no FC Porto e no Sporting.

Quando assumiu o comando da Grécia, em julho de 2010, Fernando Santos tinha pela frente uma das heranças mais pesadas no panorama internacional de seleções. Afinal, o seu antecessor, Otto Rehhagel, tinha assinado uma das grandes proezas da história do futebol, ao conduzir a Grécia ao título europeu de 2004. Em nove anos, o alemão tinha ainda levado a Grécia a mais duas fases finais (Euro 2008 e Mundial 2010), falhando apenas a qualificação para o Mundial 2006. Mesmo que a conquista de um novo título estivesse desde o início fora da equação, parecia impossível medir-se com o registo de Rehhagel - tanto mais que a geração campeã da Europa estava a sair de cena. E no entanto...

E no entanto, se nada poderá desalojar Rehhagel dos livros de história, é justo sublinhar que Fernando Santos acabou por ter um rendimento global superior ao do técnico alemão, dando à Grécia um lugar consistentemente mais alto no ranking internacional. 

Em 30 jogos oficiais, o técnico português conquistou 69 por cento dos pontos possíveis, contra 61% de Rehhagel em 61 encontros. Aliás, considerando apenas os jogos oficiais, o desempenho da Grécia nos quatro anos em que foi comandada por Fernando Santos deixa-a num quinto lugar de entre todas as seleções europeias. O rendimento dos gregos é apenas superado pelos de potências como a Alemanha, Espanha, Holanda e Bélgica – e a seleção belga beneficia do facto de ter menos jogos, visto que falhou, nesse período, a qualificação para a fase final do Euro 2012.

Rendimento em jogos oficiais, de agosto de 2010 a setembro de 2014

1- Alemanha 30 vitórias, 2 empates, 1 derrota (93% dos pontos possíveis)
2- Espanha, 23-5-3 (80%)
3- Holanda, 23-3-5 (77%)
4- Bélgica, 16-5-4 (71%)
5- Grécia, 18-8-4 (69%)
6- Itália, 20-11-4 (68%)
7- Rússia, 16-6-5 (67%)
8- Inglaterra, 14-10-2 (67%)
9- Portugal, 18-7-6 (66%)
10- França, 16-7-6 (63%)
11- Croácia, 16-6-8 (60%)
12- Suíça, 12-5-6 (59%)

O rendimento da Grécia é ligeiramente superior ao da seleção portuguesa no mesmo período, incluindo os dois jogos de arranque para o Euro 2012, realizados sob o comando interino de Agostinho Oliveira. Já sob o comando de Paulo Bento, o rendimento da seleção portuguesa em jogos oficiais foi... de 69 por cento dos pontos possíveis, exatamente o mesmo conseguido por Fernando Santos na Grécia. Dito de outra forma, o desafio que se segue ao «engenheiro do penta» é superar a barreira dos 70 por cento pela primeira vez no seu percurso de treinador. Com a dificuldade acrescida de, pelo menos nos primeiros jogos do mandato, não poder ir para o banco.

Rendimento de Fernando Santos nas equipas por onde passou nos últimos 15 anos

FC Porto (69%)
Sporting (69%)
Benfica (67%)
AEK (67%)
PAOK (58%)