O desemprego do pai quase afastava o futebol da vida de Fransérgio, aos 15 anos. «As condições financeiras não eram boas e com três irmãos, dois no futebol, e o pai sem trabalho, a minha família não tinha possibilidades para ter dois a jogar. Um tinha de trabalhar», conta o médio do Marítimo, em declarações ao MaisFutebol.

A solução encontrada para escolher qual dos irmãos teria de desistir foi questionar o treinador de então. «Os meus pais perguntaram qual de nós teria mais potencial no futuro e o treinador respondeu que era eu. E assim foi. O meu irmão deixou o futebol para sempre e foi trabalhar», realça Fransérgio.

Antes, nos escalões de formação, o médio que agora é figura de destaque no Marítimo, já tinha sido ponta de lança. «O meu pai queria que fosse avançado para marcar muitos golos e ainda joguei na frente mas não era grande goleador», revela, sorrindo, o jogador, sublinhando que no Brasil jogou também a lateral direito e a defesa central.

O profissionalismo chegou e com ele a posição natural de Fransérgio: o meio-campo. Em terras de Vera Cruz, o Atlético Paranaense foi o clube onde mais aprendeu a crescer como futebolista e foi lá que foi colega de Kléberson, internacional A pelo Brasil, que jogou com Cristiano Ronaldo no Manchester United.

Mas o ponto alto no Brasil foi mesmo o 2º lugar na Série B em representação do Criciuma, que valeu a subida do clube brasileiro ao escalão principal, em 2012. Seguiram-se empréstimos a dois clubes, o que correspondeu a uma fase menos boa. «Um dia, estava de férias, e o meu empresário ligou-me a dizer que tinha um clube para mim fora do Brasil», recorda Fransérgio que aterrou no Aeroporto Internacional da Madeira pela primeira vez em Janeiro deste ano.

Com a temporada a meio, e a necessária adaptação ao ritmo do futebol europeu, a época passada não chegou a revelar as suas qualidades. «Foram quatro meses nem sempre fáceis porque o processo de adaptação não é imediato, mas trabalhei muito e aprendi muito com o Pedro Martins», elogia o jogador que se transcendeu em 2014/2015. 

«Não esperava tantos golos»
    
Esta época, Fransérgio tem sido um dos jogadores em maior destaque no Marítimo, com quatro golos marcados e grandes exibições. É o próprio a reconhecer que não esperava tanto. «Sinceramente, não esperava, à sexta jornada, ter tantos golos marcados. Mas está a ser muito bom. O Leonel Pontes é muito estudioso, lê muito rápido o jogo, e as coisas estão a correr muito bem para nós», exalta, elogiando o plantel «muito maduro» e com «muita qualidade», embora deixe um aviso aos colegas:  «O campeonato está no início e temos de manter a humildade e os pés no chão, mas sempre com muita confiança no futuro para continuar a fazer bons resultados», garante o médio que no último domingo bisou na goleada frente ao Vitória de Guimarães. 

À espera do primeiro filho, Fransérgio já homenageou a mulher num dos quatro golos que marcou, mas em todos os quatro revelou um ritual: beija o emblema, desloca-se à bandeirola de canto e…dança!
«Como sou de Mato Grosso, gosto muito de música sertaneja, e no balneário, com a equipa, costumo cantar e às vezes dançar. Um dia, o Gegé desafiou-me a fazer o mesmo nos jogos e é isso que faço», explica, sorrindo.

E a boa disposição é mesmo uma imagem de marca de Fransérgio: «É um bom companheiro. Está sempre bem-disposto e brincalhão, ajudando assim a criar um bom ambiente no balneário. Há quem lhe chame o novo Danilo Dias, mas isso tem a ver com a forma exuberante como festeja os golos», disse ao MaisFutebol um colega de equipa de Fransérgio. 
 
Empresário prevê saída já no fim da época 

Marcelo Lipatin, ex-jogador do Marítimo e do Nacional, é um dos principais responsáveis pela chegada à Madeira de Fransérgio e não se diz surpreendido pelo grande arranque de época do jogador. «Não é surpresa para mim porque sei do grande potencial que ele tem. Ele sabe fazer golos, tem muita dinâmica e porte físico. É jovem, tem 23 anos e, em breve, não vai ter como os grandes clubes do futebol português e europeu não o quererem», sublinha o antigo avançado, deixando uma certeza em relação ao jogador.
«O tempo dele no Marítimo será muito curto para bem de todos. Gostava muito de ajudar o Marítimo, conseguir transferi-lo e ajudar todos. Estou certo que ele termina essa época e depois pode mesmo sair», conclui, Lipatin, confiante no futuro.