E tudo gira à volta do cognome «Talisca» e, no final de contas, do que vai para além dessa alcunha por que é conhecido. O baiano Anderson Sousa Conceição é hoje famoso como Anderson Talisca, um nome que assim ficou. É um nome que aponta para fragilidade. Mas que só pôde vingar – como diria alguém… – pela força da técnica.

Já com muitas linhas escritas no que respeita aos jogadores em estreia na Liga, com discussões sobre a sua posição em campo, etc. Talisca fez o primeiro hat-trick do campeonato e é a figura da 4ª jornada. E confirmou que as discussões sobre o futebol que tem para dar fazem sentido.

Porque Talisca, de facto, quando começou a jogar era médio defensivo. Mas mostrou capacidade para jogar mais à frente. Reforçando, mostrou que devia ser utilizado mais frente em campo. E foi essa capacidade, inclusive, que lhe permitiu seguir com o sonho de ser futebolista.

Os factos são contados ao Maisfutebol pelo treinador da formação de base do Bahia, o clube que recebeu Talisca aos 15 anos. «Eu conheci-o desde início. Ele veio quando era sub-15, do Astro de Feira de Santana. E foi aprovado um mês depois da avaliação», contou Edson Fabiano.

«A posição em que jogou mais comigo foi como médio mais defensivo, o volante. Mas, aqui, também jogou como meia atacante – o que vocês chamam médio ofensivo – que é onde ele poderia render mais. E até jogou como avançado na equipa principal», resume o técnico dos sub-15 do clube nordestino.

«Quando jogou comigo, em 2009, como volante, sobressaiu, mas como não é um jogador de muita força, é mais de técnica, precisou de avançar para segundo volante», explica Edison Fabiano sobre o médio que aos 18 anos já estava na quipá principal do Bahia.

E precisou mesmo de avançar no terreno. Para mostrar onde podia render mais. Porque mostrar que era craque, já o tinha feito, mesmo mais atrás, mesmo com o nome de Talisca às costas.



Talisca é uma vara de pau, fina, bem delgada. «O apelido de Talisca não foi por acaso. Ele chegou pior do que vocês estão vendo. Ele era muito magro, mesmo. Se não fosse a técnica não tinha ficado. Não tinha força, a condição física era muito precária», recorda o técnico contando como essa falta de músculo foi compensada «Em uma semana, 15 dias, a qualidade técnica, a visão de jogo, a batida na bola» mostraram que ele «era um garoto que merecia ter as condições para se desenvolver».

Edson Fabiano destaca que os «chutos de fora da área, o passe com precisão e a visão de jogo» são as suas principais caraterísticas que o fazem vingar em campo. E vê no seu antigo pupilo um «garoto comprometido, focado na profissão dele». «Como todos os brasileiros gosta de samba, é divertido, com alto astral», mas é também «altamente comprometido, humilde, ligado à família e também religioso», pois «tornou-se evangélico, agora».

«É bom como pessoa e como profissional», garante o seu antigo treinador nos sub-15 do Bahia lembrando o que lhe disse em tempos: «Eu disse-lhe que não perdesse o foco e mantivesse o profissionalismo.» «Isso ficou comprovado agora», referiu-se o técnico ao destaque que Talisca já ganhou na liga portuguesa.

E que pode ganhar ainda mais. «Concordo com Jorge Jesus e com Mourinho. O Benfica vai ter muito trabalho para conservá-lo. O Benfica vai ter retorno desse investimento: retorno desportivo e financeiro», disse o técnico brasileiro, que sentiu no seu país os ecos da exibição do seu antigo jogador, desde «as redes sociais» aos « media nacionais».