O Rio Ave vive hoje um dos momentos mais altos da sua história, ao disputar o play-off de acesso à Liga Europa.

A partir das 18h de Lisboa, 19h locais, a equipa vila-condense inicia uma disputa a duas mãos com o Elfsborg, clube de Boras, na Suécia, que poderá valer uma vaga na fase de grupos da prova europeia.
 
Para adeptos de sempre do Rio Ave, que cresceram no antigo Campo da Avenida, «ainda parece um sonho tipo «twilight zone». A expressão é de Álvaro Costa, homem da comunicação, que tem o Rio Ave no coração desde criança.

Cresceu em Vila do Conde e, em miúdo, chegou a marcar o campo do estádio e ajudava, com amigos como João Malheiro, na própria construção do estádio «a carregar baldes e participar em tudo o que tivesse a ver com o clube».

João Malheiro confirma a história da marcação do campo pelos «miúdos insurretos» e conta mais: «Desde os cinco anos que andei por lá. Vivia o clube intensamente. E na minha infância, na juventude, jamais imaginei, em tempo algum, ver o Rio Ave a disputar o acesso a uma fase de grupos de uma prova europeia. Era algo do domínio do sonho».

Aquele Campo da Avenida…

O Campo da Avenida, pela localização que tinha, desenvolvia uma atração especial nos adeptos vila-condenses.

João Malheiro recorda: «Estava o Rio Ave nos distritais e corria lá, com oito, nove, dez anos… Eram jogo com o Oliveira do Douro, o Aliados do Lordelo... Ficávamos muito próximos na baliza. Lembro-me que atrás da baliza poente fazia uma espécie de redondo, parecia o terceiro anel».

Álvaro Costa, divertido, lembra que «a proximidade com as balizas permitia que influenciássemos o jogo. Atirávamos moedas aos guarda-redes adversários e até me lembro de um Rio Ave-Boavista em que havia um jogador baixinho, o Pinto, que ia marcar um canto. E nós: «Não marcas, que és um matraquilhos, quem marca vai ser o Quim. O Quim marcou e o lance deu golo!»

«As caxineiras insultavam o árbitro ainda o jogo não tinha começado, 'já estás a roubar!!'... Aquele campo ganhava jogos!»

O 25 de Abril foi o ponto de viragem

«Dois anos antes do 25 de abril, com Lima Pereira que mais tarde seria campeão da Europa pelo FC Porto, o Rio Ave estava a I Divisão distrital da AF Porto. Aquele clube beneficiou muito do 25 de Abril, esse foi o ponto de viragem. Antes disso, Vila do Conde era uma terra adormecida pela ditadura. A partir daí, descobriu a sua identidade», nota João Malheiro.

Vila do Conde tem uma forte componente bairrista. João Malheiro confirma e explica: «É uma terra de gente dedicada, trabalhadora. E é um alfobre de grandes jogadores: Quim, que foi campeão europeu no FC Porto; Paquito, internacional; Alfredo, que foi anos consecutivos guarda-redes do Boavista; André, que foi júnior do Rio Ave; Paulinho Santos, Fábio Coentrão e, já agora, também Hélder Postiga, que é natural da terra».

João Malheiro nota que «o Rio Ave tem poucos sócios e tem sido fruto de excelentes gestões». «Tem adeptos muito arreigados, uma mística especial, mas algumas limitações, evidentemente», reforçou.

«Vila do Conde adora futebol», reforça João Malheiro. «Mas com 2500 sócios pagantes, não é fácil pensar que a aventura europeia se possa repetir muito mais vezes».

Os Arcos, outra era

A passagem para os Arcos não foi fácil. Da proximidade do Campo da Avenida passou-se para um estádio maior (e mais moderno à altura), mas mais distante. «Foi por 84. A inauguração foi com o Sporting, ficou 2-3. Mal entrámos, ficámos com uma noção «noveau bourgois»… Não fazia sentido no início. Foi uma necessidde crescimento, tinha a ver com os conceitos dominantes na altura a nível de arquitetura», aponta Álvaro Costa.

O radialista confessa ter um sonho, «se calhar não concretizável nesta altura», de se fazer uma «réplica século XXI do Campo da Avenida. «Dez mil, em cima, ninguém ganhava lá! O Rio Ave precisava de um estádio tipo Gil Vicente»