O Barcelona pôs em cima da mesa um plano para substituir o Camp Nou por um estádio novo. O futuro do mítico palco catalão está completamente em aberto. Pode ser remodelado, pode ser feito de raíz. Ou até pode ficar na mesma se os adeptos assim o entenderem, diz a atual direção do Barça, que lançou a discussão e prometeu fazer um referendo junto dos sócios para chegar a uma decisão. O objetivo é essencialmente fazer crescer mais ainda aquele que já é o maior estádio da Europa.

Mudar o Camp Nou não é assunto novo. A anterior direção do Barcelona, liderada por Joan Laporta, já tinha tentado fazê-lo. Na altura lançou um concurso internacional que foi ganho pelo arquiteto norte-americano Norman Foster. O projeto chegou a ser apresentado com pompa e circunstância em 2007, mas a sua execução foi sendo adiada. E quando Sandro Rosell chegou à presidência, em 2010, ficou mesmo na gaveta.



A atual direção deixa a ideia que não pretende basear-se no projeto de Norman Foster, lembrando que esse plano implicava vender os terrenos onde está o Miniestadi do Barça. Também diz que estão fora de hipótese remodelações superficiais. A fazer, será em grande. Ou um melhoramento profundo do atual Camp Nou ou a construção de um novo, em terrenos junto à avenida Diagonal que pertencem à Universidade de Barcelona. Em qualquer dos casos pretende-se aumentar a atual capacidade de 99 mil para 105 mil espectadores e passar a ter o estádio coberto.

Os dirigentes do Barcelona dizem que pretendem acrescentar um legado «patrimonial» àquela que é uma era de ouro do clube em termos desportivos. «Demos um passo em frente a nível desportivo e de gestão, mas o objetivo da junta diretiva é dar um passo em frente do ponto de vista patrimonial», explicou à RAC1 Javier Faus, o vicepresidente económico do Barcelona, alegando que o atual estádio tem problemas de visibilidade e que um recinto novo e maior pode aumentar as receitas em 30 ou 35 milhões.

«Temos 20 mil sócios que não veem futebol de forma digna, não veem o campo todo, só o relvado porque têm a estrutura da bancada por cima. Isto tem de se resolver, defende Faus. O plano passa por aumentar também o número de lugares VIP, que são mais caros: «Somos o estádio da Europa que menos lugares VIP tem, dois por cento, enquanto noutros campos é de sete ou oito por cento.»

As estimativas dos dirigentes do Barcelona, que decidirão em janeiro os próximos passos e quais as perguntas que irão fazer aos sócios no referendo, apontam para custos de 300 milhões no caso de ser feita uma remodelação e 600 por um estádio novo. Nenhuma das opções, garante Faus, implica pedir dinheiro aos adeptos: «O dinheiro há-de sair de recursos próprios. Não pediremos nenhuma contribuição aos sócios e assumimos o compromisso de não subir os preços das assinaturas até ao final do mandato. Em 2016 deixaremos a dívida em menos de 200 milhões. Demonstrámos que podemos gerar 100 milhões de tesouraria todos os anos e que podemos reduzir 50 milhões por ano à dívida.»

Faus também vai alertando os adeptos para os transtornos que causará a opção pela remodelação do Camp Nou. Seriam três anos de obras, mesmo tentando diminuir os danos. Pretende-se que a equipa nunca deixe de lá jogar. «A remodelação absoluta implica uma complexidade de construção muito grande e incómodos elevados para os adeptos. No pior dos casos passaríamos de 99 mil a 87 mil espectadores no período mais crítico. O Barça continuaria a jogar no Camp Nou. As obras no interior seriam durante o verão e as do exterior durante o inverno.»

Quanto à opção pelo estádio novo, ainda parece ter muita pedra para partir. Nesta quarta-feira a Universidade de Barcelona emitiu um comunicado a dizer que não houve qualquer contacto do Barcelona pelos terrenos em causa, ocupados nesta altura por equipamentos desportivos, e que «não faz negócios imobiliários». Mas Xavier Trias, o autarca de Barcelona, veio por outro lado dizer que lhe parece bem a opção do local para o estádio novo e mostrou-se disponível para colaborar «ao máximo» com o Barça para encontrar uma solução.

Entretanto, Faus abriu também a janela para que o Barcelona venha a adotar um nome comercial para o estádio. Não mudar o nome completo, mas acrescentar um «apelido», nas suas palavras. «Mudar o nome podia representar um ganho de 250 milhões a longo prazo, mas nós não o defendemos. Acrescentar um apelido seria um mal menor que podemos avaliar. Podiam conseguir-se uns 100 milhões, mas são contratos de 25 anos.»

O Barcelona pode estar assim a caminho de ter a sua quarta casa. O primeiro estádio propriedade do clube foi o Camp del Carrer Indústria, a que chamavam «A Cuspideira», por causa das suas reduzidas dimensões. Tinha capacidade para 6000 espectadores e o Barça jogou lá entre 1909 e 1922. Fundado em 1899, o clube utilizou diversos campos alugados nos primeiros dez anos de vida.

Seguiu-se o Camp de Les Corts, onde o Barça viveu entre 1922 e 1957. Foi lá que cresceu, foi lá que viveu os primeiros períodos de hegemonia no futebol espanhol, com Kubala como a grande figura da equipa.

O Camp de Les Corts chegou a ter capacidade para 60 mil adeptos, mas já era pequeno para a dimensão do Barcelona. O clube decidiu construir um novo recinto, inaugurado em setembro de 1957 e a que os adeptos se habituaram a chamar Camp Nou. Campo Novo, por oposição ao velho de Les Corts. Embora o nome não fosse originalmente oficial, foi Camp Nou que ficou, para os adeptos do Barça e de todo o mundo.

Tinha originalmente capacidade para 90 mil espectadores, aumentada por ocasião do Mundial 1982 para 120 mil. Nos anos 90, para passar apenas a ter lugares sentados, viu a capacidade novamente reduzida. As obras incluíram baixar o nível do relvado, para tentar limitar o mais possível a perda de lugares, e a lotação ficou nos atuais 99.354.

O Camp Nou foi casa da Dream Team de Johan Cruijjf e da equipa de Pep Guardiola que encantou o mundo nos últimos anos. Já recebeu jogos de um Europeu, o de 1964, de um Mundial, o de 1982, e de uns Jogos Olímpicos, em 1992. Já teve duas finais da Liga dos Campeões e jornadas sem fim de grande futebol. É história.