* e Henrique Mateus

P - Passados quase 14 anos sobre o início da carreira, e quase ano e meio sobre o regresso a Londres sente-se hoje um homem mais sereno?

- Sou um homem feliz, isso sim. Neste meu percurso por diferentes países e clubes nunca escondi que Inglaterra era especial para mim. Gosto de viver aqui, e consegui, com este regresso ao Chelsea, juntar o útil ao agradável, que é gostar de tudo aquilo que me rodeia. O clube, a Liga, as pessoas, as emoções, a cidade. Estou feliz, sim, e estou tranquilo.

- Dá a ideia de, pela primeira vez, estar a pensar numa etapa de longo curso...
R - Pelo menos é a única etapa onde não estou a pensar na próxima. Em todas as outras estava sempre a pensar num passo seguinte. E sem ter sido preparado e planeado, acaba por parecer que foi. Tem a etapa de Portugal, depois saio para Inglaterra que era para onde queria mesmo sair, depois Itália, que me despertava uma curiosidade muito especial. Depois faltava-me Espanha, fui para Espanha. Agora, por fim, regresso ao meu local preferido nesta conjugação de trabalho e de vida familiar e social. Regressei com o objetivo de ficar, porque o próprio clube tem um projeto completamente diferente. Na minha primeira etapa não existia fair-play financeiro. Havia um jovem e novo dono que queria investir fortemente, e nessa altura isso podia fazer-se. Procedeu-se à construção rápida de uma equipa que durou dez anos. Basicamente, a equipa que construímos em 2004 durou dez anos e só acabou recentemente.

- Sente-se a começar de novo?
- Agora a situação é diferente. O dono já não é o «novo dono» que acabou de chegar ao futebol. É uma pessoa que como gestor e dono do clube tem uma estabilidade completamente diferente. Por outro lado, o fair-play financeiro proíbe o investimento massivo e a construção de uma nova equipa que possa durar outros «dez anos» é feita de uma maneira diferente. Essa nova realidade fá-la precisar da estabilidade dada por um treinador que está e quer continuar a estar.

- O processo de reconstrução do Chelsea implicou a sua participação no afastamento de alguns nomes marcantes. Foi difícil lidar com isso?
- Decisões difíceis, mas profissionais. Tive de preparar-me para elas, e não é fácil falar de um Frank Lampard, de um Ashley Cole ou Essien. Encontrar a parte final desses jogadores a quem fiz grandes e que me fizeram grande também, foi doloroso em muitos aspectos. A começar pelo ponto de vista futebolístico, porque Frank Lampard há só um e não acredito que vá aparecer tão rapidamente outro. Mas são situações profissionais, o próprio clube sentiu necessidade dessa mudança. Até para os próprios jovens jogadores se poderem assumir e crescer a uma determinada velocidade, era importante o desaparecimento destas grandes figuras. Estamos numa fase completamente diferente, mas também apaixonante, que é a de dar continuidade a um processo iniciado por mim há muitos anos. É mesmo o iniciar de uma nova fase.

- O título inglês é objetivo assumido para este ano?
- Neste novo campeonato inglês, se queres terminar no top-4 e assegurar uma posição na Champions League, tens de pensar em ser campeão. Se pensas no top-4, acabas no top-8 e não jogas Champions na época seguinte. Tem de pensar-se em ser campeão, e mesmo assim, pelo menos um dos que pensam dessa forma acaba por ficar fora. Nesta dimensão somos cinco, já para não incluir equipas de um patamar ligeiramente inferior, como o Tottenham e o Everton. Três qualificam-se para a Champions, um quarto vai ao play-off e o quinto joga na Europa League. Umas vezes mais do que outras, o clube foi sempre ganhando coisas nestes oito, nove, dez anos. Agora temos de construir para voltar a ganhar, mas esta é uma Premier League diferente da que encontrei em 2004. Aí tínhamos três equipas que jogavam para o título e, apesar de a competitividade ser sempre tremenda, havia uma diferença qualitativa importante entre os três e os outros. Neste momento não são três, são cinco. E a diferença desses para os outros é muito menor do que no período em que estive aqui, de 2004 a 2007/08.