Dificilmente poderia ter corrido pior o regresso de Rio Ferdinand a Old Trafford. É verdade que no primeiro jogo como visitante, no estádio que foi seu durante 12 anos, o central recebeu uma placa das mãos de Bobby Charlton e uma ovação arrepiante dos adeptos. Mas, depois, assim que a bola começou a rolar, o pesadelo para a defesa do seu novo clube, o Queens Park Rangers, só acabou passados 90 minutos, e quatro golos que poderiam ter sido bem mais.

Ao quinto jogo, depois de duas derrotas e dois empates que prolongaram o pesadelo vivido na era Moyes, o Manchester United mostrou finalmente um pouco daquilo que será capaz de fazer sob as ordens de Van Gaal. Ou será melhor dizer sob a batuta de Di María? O argentino chegou viu e venceu: no primeiro jogo perante os seus adeptos, marcou o primeiro golo de livre direto – algo que nunca tinha conseguido em Madrid onde, valha a verdade, não terá sido autorizado a tentar a sorte em muitas oportunidades – assistiu Mata para o quarto e saiu com o público a seus pés, assinando uma estreia com um impacto talvez só comparável à de outro número 7, de nome Cristiano Ronaldo, já lá vão onze anos.

Enquanto o público dos «red devils» encontrava o seu ídolo, a equipa, essa, encontrava um novo sistema tático. Louis Van Gaal pode ser teimoso, mas é também um homem inteligente: com Blind, Rojo e Di María aptos a mostrar-se aos adeptos, o técnico decidiu abdicar do seu 3x5x2 fetiche e apresentar uma linha com quatro defesas – com a particularidade de o internacional holandês ter dado mais uma prova da sua polivalência, atuando como médio defensivo numa espécie de 4x4x2 losango.

A transfiguração foi imediata: mesmo descontando a fragilidade de um adversário que vai sofrer para manter-se no escalão principal, o Man. United não teve nada a ver com a equipa intranquila e sem identidade própria das primeiras semanas: ao golo de Di María, outro reforço deste ano, seguiu-se o de Herrera, que apontou o seu primeiro golo no futebol inglês e acentuou a ideia de uma nova era.

Os minutos seguintes reforçaram as tréguas entre os adeptos e a equipa, sublinhadas com os golos de Rooney e Mata, um nome sob fogo cerrado nos últimos meses. E Van Gaal ainda tinha outro triunfo emocional para jogar, com o batismo de Radamel Falcao nos minutos finais. Sem condição para estar muitos minutos em campo, o colombiano até poderia ter assinalado a estreia com um golo, não fosse a grande defesa do veterano internacional Robert Green. Mas pouco importa: para já, como o próprio Van Gaal reconheceu no fim da partida, a temporada começou a sério, em Old Trafford, ainda que com um mês de atraso.

«Temos sempre de analisar aquilo que fazemos. O resultado é fantástico, mas podemos fazer muito melhor. Este foi um bom princípio», resumiu o técnico holandês, que deixou um primeiro objectivo assumido para os seus jogadores: «Acho que todas as equipas que treinei tiveram os melhores ataques do campeonato. Acredito que no fim desta Liga isso vá acontecer também», sublinhou, acrescentando: «Quero ser o treinador do campeão inglês. Se não agora, no próximo ano». Para já, com um Angelito que os faz sorrir, os adeptos voltaram a acreditar. Títulos, não se sabe. Golos, muitos golos, isso é quase certo.