Cavani e Neymar a quererem bater o mesmo penalty, pelo meio Dani Alves a tirar a bola ao uruguaio para o dar ao amigo brasileiro num livre. Não um, mas dois casos no mesmo jogo. As imagens correram mundo e ainda estão por perceber as consequências que terão no equilíbrio de egos no PSG, onde Neymar chegou com o rótulo de mais caro da história. E onde ainda há Mbappé, embora o jovem francês já se tenha demarcado da confusão, com humor. «É uma fonte de problemas», como diz Mbappé, e não dá ideia que este incidente vá ficar por aqui. Mas em absoluto está por outro lado longe de ser inédito. 

Companheiros de equipa a desentenderem-se em campo é contra-natura, mas acontece. Normalmente a questão de quem bate os penáltis e os livres até está pré-definida, mas nem sempre é respeitada, seja por uma fezada de momento, seja por outra razão qualquer. E isto quando não parte do treinador... Ainda recentemente, por cá, Jorge Jesus entrou em campo no Feirense-Sporting, quando os «leões» ganharam um penálti mesmo no fm. E explicou depois que foi para interferir na ordem dos penáltis, porque achou que Bruno Fernandes estava em melhores condições para o bater do que Bas Dost. Mas o holandês quis marcar, e não falhou.

Adiante. Na maior parte dos casos o desentendimento cinge-se aos jogadores e fica-se apenas uma troca de palavras, precisamente para decidir quem bate uma bola parada, mais frequentemente um penálti. Noutros, frequentemente mais acalorados, o motivo da discussão é uma falha defensiva. Muitas vezes resolve-se com um abraço no fim, outras nem por isso. O Maisfutebol puxou pela memória para recordar outras histórias de discussões internas em campo. Também nos relvados portugueses.

Podemos começar por aí, com paragem em Alvalade. A primeira a 13 de fevereiro de 2005. Era um jogo com o Rio Ave, para a 21ª jornada da Liga. Pouco depois da meia hora de jogo, já o Sporting vencia por 1-0, o árbitro assinalou penálti sobre Sá Pinto. Liedson avançou para a bola, mas Sá Pinto tirou-lha. E marcou ele mesmo. O «Levezinho» virou costas e nem festejou o 2-0. Continuaram ambos em campo, Liedson marocu o terceiro até fez uma assistência para o próprio Sá Pinto marcar o 4-0. Mas não festejou.

O avançado que viria a naturalizar-se português já não voltou do intervalo e Sá Pinto continuou em campo, até fez uma assistência para o 5-0 final. O incidente não teve consequências de maior na altura. Mas toda a gente se lembrou dele cinco anos mais tarde, quando Sá Pinto e Liedson chegaram mesmo a vias de facto no balneário, depois de um Sporting-Mafra para a Taça de Portugal. Liedson ainda jogava, Sá Pinto era diretor para o futebol profissional dos «leões». O desentendimento terá começado por causa de uma reação de Liedson em campo dirigida aos adeptos e descambou. Acabou com Sá Pinto a pedir a demissão.

Passaram sete anos e Alvalade voltou a assistir a um caso com um penálti que teve consequências para lá do relvado. Desta vez o protagonista foi Valeri Bojinov. 19 de janeiro de 2012, o jogo era com o Moreirense para a Taça da Liga. Com o jogo empatado a uma bola, Jeffren caiu na área, penalty. Matías Fernandez preparava-se para bater, mas Bojinov avançou e empurrou o chileno. Bateu, mas não marcou. Ricardo Ribeiro, o guarda-redes do Moreirense, defendeu. O avançado búlgaro acabaria por ser suspenso pelo clube e, após vários empréstimos em Itália, rescindiu.

Ainda por cá, há dos últimos anos outro episódio famoso de discussão interna. Neste caso não por causa de um golo, mas de uma situação defensiva. Bonfim, 5 de janeiro de 2008, V. Setúbal-Benfica. A certa altura há um lance de ataque da equipa da casa em que Luisão se vê obrigado a cometer falta. O capitão do Benfica criticou alto e bom som Katsouranis pelo seu posicionamento no lance. E o grego respondeu, ainda num tom mais alto. A discussão não dava sinais de abrandar, com dedos no ar e jogadores pelo meio a evitar que a coisa se tornasse mais física. O treinador Jose Antonio Camacho resolveu a questão tirando ambos os jogadores de campo. Depois, foram suspensos pelo clube. Acabaram por fazer as pazes e voltariam a jogar juntos mês e meio depois.

A memória do futebol guarda cenas que tomaram proporções bem mais épicas. Uma delas, clássica, aconteceu na estreia do Blackburn Rovers na Liga dos Campeões, frente ao Spartak Moscovo. Uma discussão entre David Batty e Graeme Le Saux, também por causa de um posicionamento defensivo, deu nisto.

E que dizer deste combate entre o holandês Fernando Ricksen, conhecido pelo seu mau feitio, e o russo Vladimir Radimov durante um jogo de pré-época do Zenit, em 2007, por causa de um cabeceamento a um canto?

É mais frequente chegar a uma discussão mais acesa depois de uma situação de risco defensivo do que numa simples disputa sobre quem vai bater uma bola parada. Mas também aconteceu.

Veja no que deu esta discussão sobre um penalty num jogo entre o Bury e o Yeovil, em Inglaterra.

É um caso extremo. Às vezes o desentendimento resume-se a uma troca de palavras. Às vezes nem isso.

Aqui, num jogo do Inter Milão, Balotelli tenta a sorte, mas não levanta cabelo quando Javier Zanetti o afasta, para dar lugar a Etoo. O respeitinho é bonito.

Este momento também está no vídeo que se segue. E não é o único a envolver Balotelli, como pode ver. Mas há muitos mais. Incluindo Cristiano Ronaldo, num interessante «debate» com Xabi Alonso, quando estavam ambos no Real Madrid.