A Fórmula 1 sempre viveu, para além de grandes pilotos, de personalidades muito fortes. Nomes como Niki Lauda, James Hunt, Ayrton Senna ou Nelson Piquet marcaram a sua era e tornaram-se referências para milhares. Pelo que faziam em pista, mas também pelo que diziam ou, fa ziam, fora dela. 

A evolução tecnológica, o constante controlo nas comunicações e o afastamento dos pilotos do grande público leva a que, cada vez mais, seja difícil encontrar uma personalidade com a qual os fãs se identifiquem e sirva de inspiração para as massas.

Kimi Raikkonen será, na atualidade, o piloto que foge mais aos padrões comuns e se equipara aos nomes citados no início. Excêntrico, desbocado e famoso pela «alergia» aos contactos com a imprensa, o finlandês ganhou desde cedo a alcunha de IceMan [ndr. Homem de gelo]. Não só porque vem do frio da Finlândia mas, acima de tudo, pelo feitio peculiar, daqueles que ou se ama ou se odeia.

O piloto da Lotus é conhecido pelas declarações telegráficas nas conversas com jornalistas, pelas festas polémicas aquando das vitórias, pelas peculiares comunicações via rádio durante as corridas, por dizer o que pensa sem discursos trabalhados e pelo gosto...por dormir.

David Coulthard, que foi companheiro de Kimi Raikkonen na McLaren entre 2002 e 2004, conta um episódio curioso.

«Estávamos os dois a fazer testes com o mesmo carro, alternadamente. Quando terminei a minha vez fomos encontrá-lo a dormir na parte de trás do camião. Acordou, ainda meio ensonado entrou para o carro, completou o teste e foi dormir outra vez. Fez melhor tempo que eu», atira, entre risos.

Este ano, na Austrália, prova que abriu a temporada, a chuva adiou a qualificação para a manhã da corrida. Raikkonen lamentou: «É pena, preferia ficar a dormir até mais tarde». Mas ganhou a corrida.

Sim, porque Raikkonen, para além de todo este aparato à sua volta, é, também, um excelente piloto. Campeão do mundo em 2007, pela Ferrari, equipa que vai defender novamente em 2014, talvez tenha ficado a dever a um carro mais fiável na McLaren, antes, e a uma maior motivação, depois, mais títulos no curriculo.

Chegou a estar afastado da Fórmula 1, por dois anos, mas regressou em 2012, para a Lotus onde voltou aos triunfos em Abu Dhabi, precisamente a pista que acolhe o Grande Prémio deste domingo.

Foi aí que escreveu mais uma página na sua bizarra história. «Deixem-me em paz que eu sei o que estou a fazer», respondeu ao engenheiro, via rádio, que lhe passava instruções durante a corrida.



No final dessa corrida, de resto, viu-se novamente envolvido em polémica. Apareceu de cerveja na mão durante os festejos conjuntos da equipa. As bebidas alcoólicas são proibidas em Abu Dhabi...

A verdade é que Raikkonen, conhecido por ser o piloto que bebe primeiro e só depois festeja com o champanhe, pouco se importou.

No último fim-de-semana voltou a estar em evidência por uma comunicação pouco comum. Durante o GP da Índia, a Lotus pediu a Raikkonen para deixar passar Romain Grosjean, seu colega de equipa, já perto do final da corrida. O francês poderia chegar ao pódio e o Iceman, com os pneus em mau estado, estava a atrasá-lo.

A conversa, no entanto, foi caricata. « Kimi, get out of the fucking way!» (Kimi, sai da frente!), gritou Alan Permane, diretor de operações pelo rádio. Raikkonen respondeu à letra: « Don’t shout fucking! I get out of the way when I have a chance, but not during fast corner» (Não grites, ***! Saio quando tiver uma oportunidade, não durante uma curva rápida).  



O incidente adensou o clima que já era tenso entre o piloto e a equipa. Raikkonen garante que recebeu «zero euros» esta época e ameaça não correr nas últimas corridas, nos EUA e no Brasil. É melhor levá-lo a sério.

Ou levar na desportiva, como Sebastian Vettel que não se coibiu de o imitar durante uma cerimónia de entrega de prémios da FIA em 2011.



Raikkonen também não gosta, aliás, destas cerimónias formais. Na temporada passada chegou a dizer que “se não for campeão do mundo” preferia acabar em quarto ou quinto. “Assim não tenho de ir à festa de entrega dos prémios”, explicou. Está bem...

E se mais provas não houvesse do feitio peculiar do piloto, o Maisfutebol deixa aqui mais algumas.

Entrevistar Raikkonen: o pior emprego do mundo?

Basta uma pesquisa rápida pelo Youtube para encontrar vários vídeos com declarações curiosas de Kimi Raikkonen em conversas com jornalistas. Quem o conhece já sabe o que esperar. Quem anda mais desatento ficará a saber que é sempre um risco entrar em direto com o finlandês ao lado.

Seja porque ele fala demais, como quando lhe perguntaram o que estava a fazer durante a cerimónia de despedida de Michael Schumacher, no Brasil, com Pelé, em 2006.



Seja porque tem declarações telegráficas.



Ou simplesmente...porque não fala.



As táticas em pista (e fora dela)

Se nos bastidores Raikkonen dá que falar, em pista também tem os seus momentos caricatos. Foi o caso do Grande Prémio da Bélgica de 2005. Quando a chuva apareceu durante a corrida e todos os pilotos correram para as boxes, Raikkonen, então na McLaren, apercebeu-se que o seu colega Juan Pablo Montoya já lá estava.

Solução? Reduzir imenso a velocidade atrasando toda a gente que ficou atrás de si para dar tempo à troca de pneus.



No ano passado, na última prova do campeonato, no Brasil, também ficou famoso um momento em que tentou resolver um despiste com uma saída por um atalho da pista de Interlagos. O problema é que...não tinha saída.



Em 2006, no Mónaco, depois de mais um abandono na temporada, resolveu deixar as boxes ainda com a corrida em andamento. Foi filmado no seu iate no decorrer da prova. Hilariante, claro está.



Para o final, e porque Raikkonen é muito mais do que momentos divertidos, um momento em que brilhou na pista. Na temporada passada, por exemplo, ficou famosa uma ultrapassagem a Michael Schumacher em Spa, considerada por muitos a melhor do ano. Um craque, em suma.