De regresso à fase de grupos da Liga dos Campeões após três anos de ausência - pelo meio foi finalista da Liga Europa -, o Ajax partilha a liderança do grupo com o Bayern, depois de uma sólida vitória sobre o AEK (3-0) e um empate moralizador em Munique (1-1).

Já com 18 jogos disputados – mais três do que o Benfica -, a equipa de Amesterdão averbou apenas uma derrota, frente ao PSV (3-0), num jogo em que pagou pelos repetidos erros defensivos. Como já tinha consentido um surpreendente empate caseiro com o Heracles, logo na abertura da Liga holandesa (1-1), o Ajax tem já cinco pontos de atraso para o rival de Eindhoven.

Erik ten Hag é o treinador da equipa de Amesterdão desde dezembro de 2017, altura em que foi recrutado ao Utrecht. Antes comandou a equipa B do Bayern de Munique, curiosamente, e (como não podia deixar de ser) é um técnico que segue o ADN do clube, apostando num futebol de posse, dominador, com recurso à prata da casa.

O Ajax está normalmente estruturado em 4x2x3x1, ou porventura em 4x4x1x1, sobretudo quando joga com Tadic nas costas do ponta de lança.

Uma questão de posse

Como já se sabe, é uma equipa que aposta numa construção apoiada, logo a partir dos elementos mais recuados, e não tem problemas em usar frequentemente o guarda-redes como apoio. Onana até já fez um autogolo esta época, após atraso de De Ligt (frente ao Standard de Liège), mas nenhum erro vai alterar esta abordagem.

Frenkie de Jong, de apenas 21 anos, assume um papel crucial nesta primeira fase de construção. O médio formado no Willem II teve exibições para esquecer quando teve de ser adaptado ao centro da defesa, mas é um dos elementos mais influentes. Elegante, com uma leitura de jogo acima da média, destaca-se pela tranquilidade com que assume a construção em zonas recuadas, mesmo quando está sob pressão. É muito forte a «queimar linhas» com passes verticais, ou até quando percebe que tem possibilidade de avançar no terreno em condução. Tanto pega no jogo à frente dos centrais como recua para o meio destes para uma saída a três, algo também se vê muitas vezes quando Eiting ou Blind estão a jogar à frente da defesa e abrem na esquerda.

Mobilidade e criatividade

Os laterais têm liberdade para assumir posições mais adiantadas no corredor, até porque os homens de ataque tendem a procurar a zona central. Tadic, Neres e Ziyech gozam de muita liberdade e estão constantemente a trocar de posições, muitas vezes procurando até partilhar o mesmo espaço para criar situações de superioridade. Em todo o caso, mesmo dentro desta dinâmica, nota-se que Ziyech tem tendência para partir mais do lado direito, procurando depois zonas interiores. Tadic tanto alinha mais encostado à esquerda, com Neres pelo meio, como depois aparecem com papéis trocados no jogo seguinte.

Mobilidade: Tadic começou o jogo com o AEK na esquerda, mas aqui já está numa posição mais central, a dividir a frente de ataque com Huntelaar, e Neres aparece pela esquerda.

Recrutado esta época ao Southampton, Tadic até já foi ponta de lança de serviço no jogo de Munique. Já com nove golos e sete assistências esta época, o internacional sérvio tem revelado enorme cumplicidade com Ziyech, o grande criativo da equipa (sete golos e três assistências). Esta sintonia nota-se não só quando procuram a mesma zona do terreno, como também à distância, através de passes de uma lateral para a outra, ou cruzamentos venenosos do marroquino, cortados em direção ao segundo poste, para a entrada de Tadic.

O ponta de lança mais utilizado – e melhor marcador da equipa, com dez golos - é Klaas-Jan Huntelaar, mas o jovem dinamarquês Kasper Dolberg, que esteve lesionado e só começou a competir em meados de setembro, tem quatro golos em oito jogos.

A organização ofensiva é mesmo o momento mais forte do Ajax, ainda que por vezes a equipa deixe adormecer demasiado o jogo, algo associado à fraca oposição que encontra em muitos jogos internos.

Habitualmente dominadora, ainda mais em jogos da Eredivisie, a equipa de Amesterdão acaba por ter um aproveitamento mais residual das transições, mas a verticalidade de Neres, Ziyech ou mesmo Tadic pode fazer a diferença também neste capítulo.

A outra face

As transições defensivas causam alguns calafrios, sobretudo quando o adversário usa o futebol direto como arma para chegar rapidamente ao lado contrário. Esta intranquilidade sente-se principalmente na ausência de Matthijs de Ligt, o central de 19 anos que já enverga a braçadeira e que lidera a defesa, mesmo na presença do regressado Daley Blind.

Em organização defensiva o Ajax procura frequentemente condicionar o adversário logo à saída da sua área, assumindo referências individuais que podem depois gerar desequilíbrios à retaguarda, até porque o controlo da última linha defensiva não costuma ser muito harmonioso.

Muito espaço entre a linha defensiva e a intermédia, que o avançado do AEK tenta explorar, "obrigado" Blind a acompanhar essa movimentação
Último golo sofrido frente ao PSV: Bergwijn explora o espaço nas costas de Mazraoui e Schöne. De Ligt demora a ler a situação para compensar o posicionamento, e até Tagliafico está demasiado aberto na esquerda.