O regresso do Lokomotiv à Liga dos Campeões - após 14 anos de ausência - não está a correr de feição. O campeão russo somou por derrotas os encontros disputados na prova e ocupa a última posição do grupo D. 

Nas provas internas, a equipa orientada pelo experiente Yuriy Semin também evidenciou dificuldades no arranque. Perdeu a Supertaça para o rival CSKA e não venceu os primeiros três jogos do campeonato. No total das competições em que está inserido o Lokomotiv tem cinco vitórias, três empates e seis derrotas.

A formação da capital russa está estruturada em 4x2x3x1, embora Semin já tenha experimentado o sistema de 5x3x2 na visita a Istambul, 1.ª jornada da Liga dos Campeões. Acima de tudo, o Lokomotiv gosta de jogar em ataques rápidos, procurando sempre que possível as costas da defesa contrária. Sabe ter bola, mas também convive bem sem ela para, como se disse, explorar a profundidade.

Onze mais utilizado:




O Lokomotiv é uma equipa que aposta numa constante procura pela profundidade. Sente-se confortável a jogar dessa forma como confirmou o próprio Manuel Fernandes recentemente em entrevista. A velocidade e mobilidade de jogadores como Eder, Farfán ou Smolov são características importantes para esta abordagem.

Pese embora sentir-se confortável em conceder a iniciativa de jogo inclusive contra adversários teoricamente inferiores - como por exemplo fez no jogo contra o Anzhi -, o campeão russo também sabe ter bola. Por norma, escolhe o corredor lateral esquerdo para atacar onde joga preferencialmente Manuel Fernandes, principal organizador de jogo da equipa.

 

Exemplo de procura de profundidade: Krychowiak recupera a bola e, ao invés de tocar curto e construir apoiado, faz o passe longo para Smolov. O internacional russo, curiosamente, acaba por marcar.

Quando é obrigado a construir, o Lokomotiv gosta de colocar muita gente do lado da bola. Por norma, o extremo recebe e tem o apoio do lateral (Ignatyev dá bastante largura e profundidade na direita), e do segundo avançado. Acaba por ser um dos médios, sobretudo Krychowiak, e o extremo do lado oposto a surgir dentro da área.

 

Superioridade no corredor lateral: Ignatyev tem como apoio Barinov, Manuel Fernandes e Miranchuk; Eder está sozinho na área, enquanto o extremo do lado contrário (Anton Miranchuk) está na entrada da área.

Outra das características desta equipa russa prende-se com o facto de colocar muita gente no corredor central em função dos jogadores que costumam jogar. Manuel Fernandes parte do corredor esquerdo, mas tem tendência a ocupar terrenos mais interiores. Do lado oposto, Aleksey Miranchuk faz procura o pé esquerdo pelo que é possível vê-lo também no corredor central.

 

Jogo interior: Farfán veio buscar jogo (à esquerda na imagem), Manuel Fernandes está por dentro, Krychowiak aproxima-se do avançado Smolov e Aleksey Miranchuk também procura zonas interiores. O corredor direito fica liberto para Ignatyev, enquanto na esquerda Idowu não sobe tanto.

Apesar de ter muita gente no corredor central, o conjunto da capital russa acumula más decisões o que origina muitas perdas de bola. No fundo, não aproveita a superioridade que consegue ter. De forma a alargar o jogo, é comum Semin trocar Farfán com Aleksey, passando este a jogar no apoio ao ponta de lança.

Outros dos factores a ter em conta o envolvimento de Krychowiak no processo ofensivo. O antigo médio do PSG surge com frequência ao lado do homem mais adiantando, abrindo espaço para o recuo do segundo avançado.

 

Manuel Fernandes com a bola na zona interior; Aleksey Miranchuk recua ligeiramente para receber e o internacional polaco surge em diagonal (assinalado com a imagem).

Em suma, a organização ofensiva não é o ponto forte do Lokomotiv. Prefere jogar em transição, sente-se confortável e tira dividendos dessa forma de atuar.

Momento defensivo

A forma de atacar está associada à de defender. O facto de colocar muita gente no corredor central e no lado da bola deixa a equipa de Senin permeável nos corredores laterais. O Schalke 04 tentou explorar essa lacuna: ganhava a bola e saía pelo corredor oposto. Muitas vezes, os laterais do Lokomotiv enfrentam situações de inferioridade numérica. 

A facilidade com que a dupla de médios do Lokomotiv perde noção do espaço é outra das fragilidades que pode ser explorada pelo FC Porto. A equipa russa tem como referência o homem, o que muitas vezes leva a que os seus jogadores do corredor central abram «clareiras».

 

Denisov e Krychowiak preocupados com o jogador que está mais próximo, permitindo que o passe entre na zona central no avançado adversário.


 

Manuel Fernandes pressiona o adversário juntamente com Aleksey Miranchuk. O ponta de lança mantém-se junto aos centrais, enquanto Krychowiak e Barinov (assinalados na imagem) marcam ao homem, abrindo espaço na zona central que o Schalke 04 vai aproveitar.
Uma vez mais os médios arrastados pelos movimentos dos adversários. Krychowiak sai na marcação, apercebe-se do espaço que deixou nas costas e tenta recuar. A bola acaba por entrar no homem que surge dentro mais à direita.



A mesma situação é recorrente nos laterais: facilmente são arrastados pelos movimentos do adversário, abrindo espaço para a rotura dos médios no espaço entre central e lateral. A linha defensiva do Lokomotiv, em especial os centrais, não são particularmente rápidos. Por isso, quando os russos querem pressionar alto não o fazem em bloco, visto que a linha defensiva tem receio que, caso haja uma saída do adversário, não consiga depois acompanhá-la.

Bolas paradas
 
Pequenas notas: em quase todas as situações de bola parada ofensiva o Lokomotiv procura a zona do primeiro poste, colocando sempre um homem nessa zona. Por vezes, varia e tenta bater para o segundo poste, onde surge apenas um homem (Corluka, Howedes ou Kverkvelia).

No capítulo defensivo, Semin monta a sua equipa para uma defesa mista: dois homens entre o primeiro poste e a marca de grande penalidade, enquanto os restantes marcam homem a homem.

 

Manuel Fernandes é a figura da equipa e o homem responsável pela cobrança de praticamente todos os lances de bola parada.



Em suma, o Lokomotiv está perfeitamente ao alcance do FC Porto. Brahimi e Otávio - se recuperar - podem explorar o espaço que certamente os médios vão abrir no corredor central. A velocidade dos avançados, com Marega à cabeça, deixam os dragões confortáveis para explorar a alguma lentidão dos centrais contrários. O importante, na perspetiva dos azuis e brancos, será ter paciência com bola, procurar sair das zonas de pressão pelos laterais e criar superioridade numérica nos corredores. Ao mesmo tempo devem ter controlar a profundidade e fechar o corredor central, zona predileta dos russos para construírem em ataque organizado.

Nota: Farfán, Smolov, Corluka, Krychowiak e Rybus estavam limitados fisicamente e falharam as últimas partidas.