Uma vitória, três pontos e um pequeno jackpot de 2,7 milhões de euros.  Mais do que um jogo, o FC Porto ganhou esta noite uma batalha diante dos turcos do Galatasaray e subiu à liderança do Grupo D, juntamente com o Schalke, que venceu o Lokomotiv na Rússia (também por 1-0).

O Dragão, que nem sempre é o Coliseu (aquele da Rua de Passos Manuel), como Sérgio Conceição fez questão de frisar no último jogo da Liga, hoje mais parecia a tal arena romana.

Na Europa vence-se assim: com sangue, suor e lágrimas.

Há pouco espaço para o teatro de revista do Sá da Bandeira ou para a ópera do tal Coliseu da baixa da cidade.

No grande palco europeu, o filme é outro e esta noite o suspense durou até final, com um herói consagrado a roubar a cena aos avançados Galatasaray: Iker Casillas. SAN IKER. Letras maiúsculas para colocar em destaque no cartaz do grande espetáculo da Liga dos Campeões – onde ele já é protagonista há 20 temporadas.

No sábado, aquele que um dia se considerou antigaláctico (por ser de Móstoles) recebeu um prémio na gala dos Dragões de Ouro, no passado sábado, e hoje colheu os frutos em campo frente ao Gala ao brilhar no triunfo do FC Porto, embora bem coadjuvado em campo por um elenco que mostrou trabalho e talento.

LC: FC Porto-Galatasaray, 1-0: filme e ficha do jogo

Se pelos portistas havia um herói em campo. Do lado dos turcos, surgiu um vilão: ao contrário de Fernando, que também se reencontrou com um público que conhece bem, e saiu sob aplausos nos minutos finais, Maicon foi apupado a cada toque na bola.

A história começa lá atrás: naquele empate contra o Arouca, em abril de 2016, em que Maicon, de braçadeira de capitão, comprometeu num golo e de seguida alegou uma lesão para sair do relvado pelo próprio pé sem esperar sequer pela substituição. Foi esse o último jogo no Dragão, até esta noite, em que regressou do outro lado da barricada e com uma série de inimizades desde a bancada.

Mas voltemos ao jogo de hoje e a uma primeira parte equilibrada com oportunidades nas duas balizas, seis remates para lado e ligeiro ascendente portista na posse de bola (55%-45% ao intervalo).

Os dragões, num 4-3-3 com Marega em cunha, à falta do lesionado Aboubakar e do não inscrito Soares, controlaram largos momentos do jogo. Porém, as desconcentrações perante um adversário perigoso nas transições ofensivas sucederam-se e as ofertas também.

Em cima do intervalo o Dragão ficou sem pinga de sangue, quando Nagatomo, aos 38’, e Sinan Gumus, aos 45’, surgiram na cara de Casillas com tudo para fazer o golo.

Já antes, o FC Porto também havia tido os seus momentos altos: Corona e Brahimi protagonizaram um momento artístico, aos 26’, com o mexicano a driblar e a cruzar para um remate acrobático à meia-volta do argelino que só parou nas mãos de Muslera. (Espetáculo como o público gosta!)

LC: FC Porto-Galatasaray, 1-0: destaques do jogo

Marega, com velocidade e força fundamentais para esticar o jogo ofensivo do FC Porto, também havia de ter o golo nos pés, quando aos 34’, isolado por Brahimi, preferiu passar quando o golo estava à distância de um remate certeiro.

O franco-maliano haveria de marcar sim, de cabeça, e já no início da segunda parte, aproveitando uma falha de marcação num canto para surgir solto na área a desviar para o golo portista.

Momento feliz (e decisivo) no Dragão. Também para Alex Telles, que fez a assistência no seu 100.º jogo com a camisola do FC Porto.

Por falar em espetáculo, houve Óliver em campo (além do árbitro inglês homónimo – Michael Oliver –, que teve uma boa exibição). Depois de quatro jogos no banco, o espanhol substituiu Corona para dar consistência nos vinte minutos finais a um meio-campo em que Danilo voltou a estar em desta. E neste regresso aos relvados recebeu um aplauso ainda mais sonoro do que os apupos a Maicon.

Com Conceição a apostar na contenção, Fatih Terim arriscou nos minutos finais para chegar ao empate (lançou o médio Selçuk Inan e os extremos Feghouli e Yunus Akgun) e o Gala voltou a estar muito perto do golo. O FC Porto também. E houve suspense até às cenas finais, até porque Marega (85’) e André Pereira (90’) não sentenciaram o desfecho quando tinham tudo para o fazer.

Não foi preciso esse acerto para que o «The End» pelo apito de Michael Oliver e o Dragão celebrasse um final feliz e de algibeira recheada: 2,7 milhões já são um belo blockbuster.

Segue-se a dupla missão frente aos russos. A aventura do FC Porto europeu prossegue dentro de momentos.