O universo benfiquista ficou de aviso com os cinco pontos de atraso para a liderança do campeonato. A derrota no Bessa atrasou os encarnados em relação ao FC Porto e ao Sporting.

Na pesquisa dos campeonatos desde que o triunfo vale três pontos (1995/96), já várias equipas conseguiram superar esse deficit e ser campeãs. E todas as que o conseguiram estavam mais apertadas de tempo (leia-se jogos) do que esta águia 2017/18.

A vitória de Vitória

FC Porto e Sporting lideram, com vantagem azul e branca na diferença de golos. É um dado importante para a ambição encarnada: tem de recuperar cinco pontos a dois rivais. Mas também é verdade que na memória estão ainda frescos os acontecimentos de 2015/16, o primeiro de Rui Vitória na Luz.

No final da 13ª jornada e com 22 jogos por disputar nesse campeonato (havia o encontro com o U. Madeira em atraso), o Benfica estava a seis pontos do FC Porto e a oito do Sporting.

Depois de empatar com os madeirenses, reduziu um ponto para cada rival e a 21 partidas para o fim tinha ainda uma distância considerável (sete para o leão, cinco para o dragão). Conseguiu-o e Rui Vitória provou a primeira conquista de um campeonato.

Essa edição teve várias peculiaridades, como por exemplo o facto de os encarnados terem vencido um clássico apenas. No entanto, no que a uma recuperação de cinco pontos diz respeito, ninguém bate o recorde do FC Porto, mesmo que ela diga respeito a um só rival para ultrapassar.

O tetracampeonato até começou assim

Dos seis títulos que o Benfica venceu desde a introdução dos três pontos por vitória, em dois foi necessário fazer uma recuperação de um mínimo de cinco pontos para o líder.

No primeiro título do tetracampeonato, o Benfica estava em situação parecida. À terceira jornada, o FC Porto tinha já vantagem de cinco pontos. À sexta também e assim seguiu até à entrada da nona.

Quer aquilo dizer que, com 21 jogos para o final, os encarnados, liderados por Jorge Jesus, ainda tinham os tais cinco pontos de atraso.

Comparando com agora, as águias dispõem nesta edição de mais sete partidas (28) do que então para chegar ao primeiro lugar.

Adriaanse, Jesualdo e o recordista portista

Há oito campeões em 22, desde 1995/96, que recuperaram desvantagem de cinco pontos para o líder. Três deles foram equipas do FC Porto.

Co Adriaanse em 2005/06 tinha essa desvantagem a 25 encontros do final; Jesualdo Ferreira o mesmo com duas dezenas de jogos por disputar em 2008/09.

No entanto, o recorde de recuperação é de outro técnico dos azuis e brancos: Vítor Pereira.

É certo que naquela época de 2010/11, o FC Porto tinha apenas um dos rivais a cinco pontos, mas o espaço para a recuperação era muito mais apertado do que agora. Com 11 partidas para jogar, os azuis e brancos já dependiam de terceiros, ao contrário do que sucede com esta equipa de Rui Vitória.

Havia um jogo com o Benfica no horizonte temporal, o que perspetivava o encurtar da distância em caso de vitória.

No entanto, os dragões fizeram-no antes do jogo da Luz e até foram campeões com seis pontos de vantagem. De novo, conseguiram-no com 11 jogos para o fim do campeonato. Este Benfica tem 28.

Os anos de Sporting e Boavista

Ora, três vezes o FC Porto (2005/06, 2008/09 e 2011/12), duas o Benfica (2013/14 e 2015/16). Falta o outro trio de ocasiões em que o campeão recuperou desvantagem de um mínimo de cinco pontos.

Pois bem, a viragem do século trouxe uma sequência de três títulos assim alcançados. O Sporting com Augusto Inácio entrou para a jornada 11 de 1999/00 com atraso de cinco pontos para o líder Benfica. Tinha 24 partidas para recuperar e fê-lo.

Na época seguinte, o Boavista de Jaime Pacheco. Os axadrezados chegaram a ter oito pontos a menos do que o líder FC Porto. Tinham cinco de desvantagem com 19 jogos por fazer. Terminaram campeões.

O Sporting de Lazlo Boloni, João Vieira Pinto e Mário Jardel acabou campeão com cinco pontos sobre o Boavista, sete do FC Porto e 12 do Benfica. Mas a 23 jogos do final do campeonato estava com mão cheia de pontos atrás do campeão em título: o Boavista. Sublinhe-se, terminou com mais cinco do que os axadrezados.

Com os dois rivais na liderança

O argumento é válido: na maioria dos casos havia apenas um líder. Outros houve em que ele não era um dos ditos grandes do futebol português (Leixões em 2008/09 e Sp. Braga em 2005/06). O Boavista de 2001/02 tem de ser entendido noutra categoria, porém, pois era candidato ao título.

Assim, com os dois rivais à frente e um mínimo de cinco pontos para recuperar, alguém o conseguiu? Sim, já lhe dissemos, com Rui Vitória em 2015/16.

Assim, mais do que a diferença pontual a 28 partidas do final deste campeonato serão os sinais que a equipa encarnada - e os rivais - dão em campo que mais causam apreensão do que uma diferença que, diz a história recente, é difícil, mas não ultrapassável.