O FC Porto saiu com vida de um edifício em chamas e tem uma história para contar. De sobrevivência, pois então, num dérbi cheio de incêndios e pequenos golpes entre amigos.
 

No Bessa, a taxa de incidência criminal pediu meças às mais problemáticas urbes latino-americanas. E não nos referimos apenas à expulsão de Maxi Pereira, longe disso.

Dérbi para gente dura, granítica, à moda do Porto. Decidido pelo suspeito do costume, o goleador Soares, e a recolocar os azuis e brancos a apenas um ponto do líder Benfica.

O golo de Soares, de resto, é um dos momentos que escapam à fúria e onde prevalece a fantasia e o génio. Individual e coletivo.

A forma como Óliver segura e roda sobre um axadrezado - antes de servir Jesus Corona - e o passe rasteiro e cirúrgico do mexicano para Tiquinho encostar são duas formas belas e simples de futebol.


FICHA DE JOGO DO BOAVISTA-FC PORTO

Aos sete minutos, com muito por jogar e ainda mais para contar, o selvagem dérbi da Invicta estava resolvido, fechado e lacrado por um paraíbano que se alimenta de golos (cinco de dragão ao peito!) e balizas. Sétima vitória consecutiva dos homens de Nuno na Liga.

O início do FC Porto levou tudo à frente, até mesmo um Boavista ao velho estilo de comanche investido de pinturas de guerra e danças capazes de fazer chover.

Há muito não se via um Óliver tão inspirado e um Brahimi tão desafiador. Os dois apresentaram um rendimento notável, altíssimo, bem acompanhados por um André André finalmente a reaparecer e um Danilo com a autoridade de um xerife conservador.

Corona também estava bem, muito bem, mas foi afastado da segunda parte por uma entrada violentíssima de Talocha. Criminosa? Andou por aí. O lateral viu amarelo quando devia ter sido expulso e provocou a ira azul e branca.


DESTAQUES DO JOGO: Brahimi a mover peças de xadrez

Ao intervalo, Corona procurou vingar-se, viu o amarelo e atirou para a arena de combate Nuno Espírito Santo e Alfredo Castro. Sim, a atmosfera no Bessa atingiu preocupantes níveis de agressividade e nem o habitualmente pacato NES escapou. Foi expulso (tal como Alfredo) e mandado para a bancada.

Por essa altura, o FC Porto já devia ter o dérbi resolvido a favor. É verdade que Iker Casillas fez uma defesa miraculosa a pontapé de Anderson Carvalho, mas antes e depois os dragões dispuseram de ocasiões tão boas ou melhores.

Brahimi (35 minutos), Soares (36) e novamente Brahimi (38) tiveram a baliza de Vagner à mercê e não foram capazes de sentenciar mais cedo o duelo.

No regresso ao 4x3x3 – André Silva ficou pela primeira vez no banco para a Liga! -, os azuis e brancos reencontraram as boas sensações, a intensidade e a qualidade na posse de bola, muito por culpa, lá está, de Óliver.

O segundo tempo teve mais Boavista - Schembri podia ter empatado, não fosse a decisiva ação do centenário Ivan Marcano -, sim, embora a melhor defesa de Iker Casillas já tivesse ficado para trás no filme do jogo.

Nos próximos dias vai falar-se muito do árbitro Fábio Veríssimo, da complacência com algumas entradas violentas do Boavista, da não expulsão de Talocha, do vermelho a Maxi, mas no Bessa houve um grande espetáculo de futebol, mais agressivo do que artístico, mais explosivo do que… clássico.

O FC Porto sai rejuvenescido, intocado pelas chamas de um despique escaldante, e reforça a legítima candidatura ao título nacional.

Na Cidade Invicta, os maiores emblemas estão de boa saúde, mesmo que só se consigam encontrar num edifício a arder de rivalidade.