Viver num mundo de fantasia - inconsciente e despreocupado - perder a noção do essencial e encontrar a salvação precisamente nesse caminho da perdição. É a história estranha, porém real, da vitória do FC Porto sobre o Moreirense.

Expliquemo-nos: enquanto o FC Porto não equilibrou os direitos e os deveres de um meio-campo cheio de criativos (Óliver e Brahimi lado a lado) a equipa teve de pagar despesas a mais. Não teve rumo, apenas sobreviveu, jogando muito para o lado e demasiadas vezes para trás.

Nesse período, só um convincente Danilo e o regressado Ricardo Quaresma pareciam perceber que a Liga portuguesa não é o lugar certo para a ilusão. Descabido e insensato.

Curiosamente, foi agarrado a essa fórmula selvagem que os dragões se libertaram da aflição e saíram a esmagar o adversário. Bastou retirar Casemiro do filme, colocar Rúben Neves a dar ordem na casa e libertar Brahimi para a vida que mais gosta, sem horários a cumprir nem contas para pagar.

Julen Lopetegui encontrou nessa primeira substituição o equilíbrio exigido. Quatro minutos depois, a 20 do fim, surgiu o primeiro golo. Como? Brahimi a fugir, a entrar na área e a servir de Óliver para a finalização simples.

FICHA DE JOGO, NOTAS E A PARTIDA AO MINUTO


Por essa altura, já o dragão era um respeitável anfitrião, mandão e agressivo, naquilo que a expressão tem de bom.

O resto – três golos – veio por acréscimo, como uma normal consequência de quem encontra o ponto de equilíbrio num estilo repleto de risco.

Até José Ángel e Adrián López – encolhidos e tímidos no primeiro tempo – encontraram tempo e coragem para participarem na avalanche ofensiva dos últimos 20/25 minutos.

A assistência para o 2-0 é do lateral ex-Roma, aliás, e a do terceiro golo saiu dos pés do avançado ex-Atlético Madrid. Os dois momentos tiveram um ponto em comum: foram finalizados pela qualidade venial de Jackson, um homem que por vezes parece pagar em demasia pelos erros dos outros dentro da equipa.

OS DESTAQUES DO JOGO: antes de Jackson, Danilo e Quaresma


A última imagem do FC Porto, a que fica e importa, é de facto muito boa. Intensidade, criatividade, bom futebol, tudo na proporção certa e com a eloquência necessária. Até deu para Juan Quintero falhar um penálti depois de entrar.

De qualquer forma, vale a pena dar uns passos atrás e olhar um pouco mais para o (mau) primeiro tempo dos dragões. Brahimi e Óliver? Ótimos jogadores. Lado a lado no meio-campo? Temos dúvidas, grandes, sobre a harmonia da relação.

É como entregar o cartão de crédito de plafond ilimitado a uma (ou um) fashion victim e esperar que a personagem regresse a casa de mãos a abanar. Pode correr bem, sim, mas é improvável.

Mais três notas:
. muito bem o Moreirense até aos 55/60 minutos, consolidado pelo bom trabalho dos dois médios mais defensivos (Filipe Melo e André Simões) e no entendimento perfeito entre o guarda-redes Marafona e os centrais Danielson e Marcelo;
. preocupação por Óliver Torres no FC Porto. O menino espanhol saiu com problemas num ombro e poderá ter de parar algumas semanas;
. FC Porto sem sofrer golos em jogos oficiais: e vão cinco partidas assim.