Segunda-feira à noite, pontapé de saída às 21h15, meia centena de adeptos visitantes no Estádio do Bessa e uns milhares de axadrezados a resistir a um horário inglório. Com bancadas meio despedidas e um mau relvado, Boavista e Casa Pia proporcionaram ainda assim um bom espetáculo de futebol, não obstante a ausência de golos (0-0).

As aparências, de facto, iludem. Quem esperava um jogo insonso, iludiu-se. Quem previa um Casa Pia superior, olhando para a posição de ambas as equipas na tabela classificativa, iludiu-se. Quem viu a primeira meia-hora da formação local e apontou para um triunfo incontornável das panteras, equivocou-se.

A expulsão de Seba Pérez ao minuto 65 – o médio falha o jogo da próxima jornada com o Benfica – colocou um travão às investidas axadrezadas.

FICHA DE JOGO

O Estádio do Bessa recebeu um Boavista que apresenta fortes argumentos em casa (18 dos 25 pontos como visitado) e um Casa Pia que está entre as melhores da Liga como visitante, pontuando até mais nessa condição do que a jogar no «seu» reduto (16 pontos contra 14).

A equipa de Filipe Martins queria responder aos triunfos de V. Guimarães e Arouca para manter-se na linha da frente da corrida pelo 5.º lugar na tabela classificativa, embora a reconhecida consistência defensiva estivesse em causa devido a ausência de duas unidades importantes nesse setor.

João Nunes e Vasco Fernandes foram expulsos num amargo duelo com o Nacional da Madeira nos quartos de final da Taça de Portugal. O Casa Pia, vindo de um desaire para a Liga frente ao Boavista, ficou condicionado pelo cartão vermelho prematuro de João Nunes e despediu-se da Taça com nova derrota (2-5), após prolongamento.

O Boavista, vindo igualmente de um resultado negativo – derrota na visita ao Estoril -, procurou tirar partido da eventual intranquilidade do adversário e entrou a todo o gás. A formação orientada por Petit arrancou para 30 minutos de grande qualidade, com enorme mobilidade entre o meio-campo e o ataque, criando diversas oportunidades de golo.

Seba Pérez surgiu à frente de um quarteto defensivo e tudo o mais era liberdade completa para trocas posicionais e imprevisibilidade nas aproximações à área visitante. Assim, aparecia Bruno Onyemaechi da esquerda para o centro, Makouta à esquerda ou ao lado de Yusupha, Bruno Lourenço a dez ou na direita, Agra e Mangas em constantes deambulações na frente de ataque.

Foi, repete-se, meia-hora de muito bom nível do Boavista, dos melhores períodos da equipa axadreza nesta temporada 2022/23. Faltou apenas maior eficácia para materializar o ascendente das «panteras». Yusupha (4m) e Ricardo Mangas (24m) viram a trave da baliza do Casa Pia abanar nas melhores oportunidades axadrezadas na etapa inicial.

Ora o Casa Pia, com a defesa remodelada, balançou sem cair e sujeitou-se à pressão com um esquema tático que se aproximou do 5x4x1 durante essa fase de sufoco. Os laterais e os extremos baixavam para fechar linhas e Rafael Martins ficava sozinho na frente, a ver jogar.

Ainda assim, quando conseguiu respirar, a equipa de Filipe Martins ainda logrou balançar as redes do Estádio do Bessa, por Diogo Pinto (22m), num lance prontamente anulado por fora de jogo de Rafael Martins. O golo anulado aos visitantes e as duas bolas no ferro por parte dos visitantes foram de facto os lances mais emotivos de uma etapa inicial que decaiu consideravelmente no derradeiro quarto de hora.

A saída para o intervalo reservou ainda um episódio caricato, já que Manuel Mota apitou para o descanso segundos antes de uma entrada perigosa de Afonso Taira. Ainda assim, o árbitro não hesitou e mostrou o cartão amarelo ao médio do Casa Pia, que viria a ser substituído por Filipe Martins no reatamento.

O treinador dos «gansos» procurou mexer no seu tabuleiro para equilibrar os pratos da balança – quatro substituições até ao minuto 64 -, vendo o Boavista desperdiçar mais uma oportunidade soberana, por intermédio de Yusupha (57m), que cabeceou em excelente posição para defesa de Ricardo Batista.

O Boavista, que estava por cima do jogo, viria a dar um enorme tiro nos pés quando Seba Pérez viu o segundo cartão amarelo (65m). O médio ficou irritado com uma carga de Yuki Soma e vingou-se pouco depois, acertando de forma imprudente no internacional japonês. Um erro tremendo de um dos jogadores mais experientes dos axadrezados, comprometendo as aspirações da sua equipa.

O Casa Pia agradeceu e assumiu naturalmente as despesas do jogo, aproximando-se da baliza de Bracali como raramente tinha feito até então. Yuki Soma assume-se como uma mais-valia para a equipa de Filipe Martins, que pressionou a formação local até ao derradeiro apito, sem contudo lograr quebrar o nulo.

Do outro lado, já ao minuto 90, Ricardo Batista ameaçou estragar a pintura com um desvio deficiente para o poste da própria baliza, após cruzamento na direita de Martim Tavares. Ainda assim, o 0-0 manteve-se até final. Desfecho justo no Estádio do Bessa, embora o Boavista tivesse feito mais para garantir os três pontos. Fica a dever a si mesmo - e a Seba Pérez - o desperdício parcial do trabalho realizado.