O caminho de Lopetegui é feito de propostas irrecusáveis e olhar fundamentalista. O novo dragão é um intelectual interessado em contos de aventura e narrativas de felicidade. A fórmula tem, porém, tanto de belo como de arriscado.

Os três pontos e o capítulo escrito na Mata Real prometem sequelas de encanto, lá mais para a frente. Por ora, os gritos de heróis e as ações perfeitamente concertadas somam seguidores e crentes, todos cientes do grau de exposição ao dano.

O FC Porto joga bem e não abdica do bom estilo e do convite para o futebol bon vivant. O lado bom desta opção existencial ficou bem patente no único golo do jogo: as receções e toques perfeitos até ao pé esquerdo de Quintero; o erguer dos olhos e o cruzamento cirúrgico para a definição de primeira de Jackson. Tudo bonito.

Grande jogo e compromisso de Jackson, aliás; bela entrada de Quintero para a direita; exibição regular e convincente de Casemiro do princípio ao fim. No Paços, o artista Minhoca merece atenção, bem como Seri, um ex-portista.

FICHA DE JOGO E OS LANCES AO MINUTO


Recuemos e insistamos na ideia: Julen Lopetegui tem um plano de jogo atraente e vincado. Irresistível, até, quando é bem executado. Como se viu no primeiro tempo.

Nessa fase, o FC Porto dominou todos os momentos do jogo, como se tivesse montado a famosa Vespa de Nanni Moretti e percorrido em suave deleite cada canto, cada detalhe, cada instante da partida.

O Paços recuou, jamais foi capaz de ter bola e sofreu, sofreu, sofreu, até cair com o golo de Jackson.

Sem esforço suplementar, sem uma expressão de desconforto, o dragão levantou o chapéu e disse os bons dias à vitória. Buongiorno principessa e a magia de Benigni espelhada no cavalheirismo e boas maneiras de uma equipa de futebol.

Até ao intervalo o FC Porto foi francamente bom. As quatro mexidas no onze inicial não fizeram nenhum mal (boas respostas de Ricardo, Evandro e Adrián, Tello saiu lesionado muito cedo) e o encaixe entre o bloco de notas e os executantes foi perfeito.

OS DESTAQUES NA MATA REAL: perfume colombiano


O Paços estaria, no entanto, farto de cinema italiano e de ver o dragão jogar sem limites. Reentrou bem, teve 15/20 minutos fortes e duas oportunidades para empatar: Cícero, de cabeça, e Hélder Lopes na conclusão de um canto à Fonseca (vejam as imagens) ameaçaram Fabiano.

Reagiu bem Lopetegui com a aposta em Herrera e, mais tarde em Óliver, para reconquistar a fleuma e o bem-estar no jogo. Ouviram-se palmas, Maria, la chiave, e a segunda vitória consecutiva na Liga a cair direitinhas nas mãos do FC Porto. 

As derradeiras cenas não trouxeram o tanque de guerra em forma de recompensa, como na fantasia de Benigni, mas deixaram mais certezas do que dúvidas.

O dragão 2014/15 traçou uma estratégia, uma ideia, um caminho e tem gente mais do que capaz para segui-los (Brahimi, veja-se, foi suplente não utilizado): seja à boleia de Moretti, Benigni ou Lopetegui, três cineastas interessados tanto na forma como no conteúdo.