O Benfica ficou mais perto das estrelas, ou neste caso da estrela de campeão, no fim de uma tarde que nem foi encarnada nem amarela: foi cor de laranja.

Um cor de laranja vivo, é verdade.

Sobretudo mérito do Estoril, que tirou cor ao encarnado forte que o Benfica costuma ser em casa. Deu a curva numa história que parecia feita e alimentou a incerteza até ao fim.

Nesta altura, e para início de conversa, vale a pena abrir um parêntesis para falar de Mattheus: o filho de Bebeto tem coisas de craque. Esta tarde, por exemplo, e depois de uma primeira parte pobre, pegou no jogo e empurrou o Estoril para a frente com talento.

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A formação de Pedro Emanuel encostou então o líder às cordas de uma maneira que poucos adversários podem orgulhar-se de ter feito neste Estádio da Luz.

Entre o início da segunda parte e a hora de jogo, só deu Estoril. Rematou duas vezes com perigo, falhou isolado na cara de Ederson, obrigou o guarda-redes encarnado a grande defesa e atirou duas vezes aos ferros antes de fazer o golo que já justificara merecer.

Tudo, repete-se, em apenas quinze minutos. Parecia uma tortura.

Até que Kléber, na terceira oportunidade isolado frente a Ederson, marcou mesmo, colocando o líder do campeonato sob aviso amarelo, lá está.

Nessa altura imaginou-se o pior, mas durou pouco tempo. Foi só o prazo de Jonas pegar outra vez na bola e fazer um golaço do meio da rua, num remate violento.

O que nos obriga a falar de uma variável fundamental neste jogo: o talento individual.

O Benfica não ganhou porque foi melhor como equipa ou porque jogou o suficiente para isso: ganhou por obra e mérito do talento individual. Primeiro foi Nelson Semedo a ganhar uma bola a Licá, antes de sofrer falta para penálti, depois foi Jonas a inventar um golo.

Ja no dérbi de há uma semana, recorde-se, foi o talento individual a fazer o empate.

Nesta altura pode pensar-se que Rui Vitória tem a sorte de ter o génio dos jogadores a decidir quando tudo o resto falha, mas convém reconhecer que retirar o melhor de cada atleta é também uma virtude. E nesse aspeto o treinador do Benfica nunca falhou.

Bons olhos o vejam, senhor Jonas: veja os destaques do jogo

Já o Estoril foi o oposto: uma equipa com ideias claras, sobretudo no segundo tempo, com fluidez de pensamento e com capacidade de descobrir linhas de passe.

Surgiu no Estádio da Luz com a intenção de jogar à bola e nunca hipotecou os princípios  a troco de nada. Um grande trabalho de Pedro Emanuel, portanto.

O que não justifica tudo, e não justifica uma exibição tão cinzenta do Benfica. Mesmo na fase em que foi melhor, o Benfica fartou-se de perder bolas, de fazer maus passes, de engasgar o futebol. Parece que foi displicente quando tinha a obrigação de capitalizar os bons resultados da semana passada, até porque tem via aberta para o título.

Continua a ter, é verdade, se calhar agora ainda mais, mas este sábado ficou um amargo de boca. Até nos jogadores, que foram os primeiros a abanadonar o relvado cabisbaixos.

Mas enfim, para lá disso fica a notícia essencial: o sol pôs-se sobre Lisboa.

Não foi o final de tarde em tons encarnados que os adeptos queriam, mas mais um dia passou e o Benfica está cada vez mais perto do título.