Momentos complicados exigem medidas extremas. Jorge Jesus, por isso, não fez por menos: quatro dias depois de os receber de braços abertos, lançou os quatro campeões europeus no onze leonino.

A partir daí, é preciso dizê-lo desde já, nada mais foi igual.

Rui Patrício enche a baliza e não defende só as bolas que é suposto defender: defende aliás muitas que é suposto não defender. William Carvalho traz ordem e critério ao meio campo. Adrien Silva acrescenta-lhe intensidade, agressividade e vivacidade. João Mário é classe na ponta das botas.

Todos juntos mudam o futebol do Sporting e explicam-nos tintim por tintim por que o futebol leonino não está tão mau como os seis jogos anteriores pareciam querer convencer-nos que estava.

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No fundo faltava-lhe apenas o essencial: aquela espinha dorsal que faz a diferença. Porque é especial. Faz a diferença ao ponto de o Sporting, por exemplo, ter finalmente começado a ganhar jogos contra adversários de inquestionável valor: aquela vitória sobre o Stade Nyonnais não conta.

É claro que pode haver quem diga que não, que não foi nada disso, que o segredo deste triunfo esteve em apelar à memória do Cinco Violinos.

Afinal de contas o Sporting tem uma tradição de vencer este troféu.

Ora a esses convém dizer que sim, que também têm razão. Só não são cinco: são quatro violinos, formados em Alcochete, com os genes leoninos no corpo e o conhecimento de um código que diferencia esta casa. Quatro violinos que tornam a música diferente e o burburinho muito bom: como cantavam, por exemplo, os Tribalistas, curiosamente também eles uma orquestra afinada.

Ora com os violinos a dar o tom, portanto, o Sporting desde cedo que assumiu o comando do jogo e empurrou o Wolfsburgo para o meio campo defensivo. O que já era alguma coisa.

Com a bola nos pés as intenções não mudaram muito relativamente à última época, houve dinâmica no ataque, mudança de posição, combinações ao primeiro toque e procura de criação de espaços. O Sporting era uma equipa ofensiva, positiva e otimista.

Por isso, e com alguma naturalidade, chegou ao golo, numa jogada que começou em Adrien Silva, continuou no cruzamento de Bruno César e terminou no remate de Slimani, após falha de Dante.

Logo a seguir o mesmo Bruno César atirou a centímetros do poste, num aviso para o que viria a seguir: o brasileiro combinou com João Mário, entrou na área e sofreu falta, que Adrien converteu da marca de onze metros. Alvalade sossegava: afinal o velho Sporting ainda anda por aí.

Curiosamente, porém, antes do intervalo o Wolfsburgo ameaçou por duas vezes a baliza de Rui Patrício, na segunda das quais obrigou até o guarda-redes a enorme defesa. Foi também um aviso.

Muitos parabéns, senhor Comendador: veja os destaques

Na segunda parte, e sobretudo após as muitas substituições de Jesus, a exibição leonina foi caindo a pique, até permitir a Donkor reduzir o marcador. Pelo meio ainda voltou a ser Rui Patrício a salvar o golo dos alemães e a segurar a vitória, que Aquilani, no fimzinho, podia ter tornado mais gorda.

Não tornou e não faz mal: no fundo está bem assim. Sobretudo enquanto houve a memória do passado, o Sporting provou que pode ser outra vez candidato.

O desafio agora é não mexer muito: porque as segundas linhas não chegam a comparar-se, sequer, e porque, claro, nunca é bom mexer na memória de sorriso rasgado nos lábios.