«As coisas não são todas boas, mas também não são todas más. Num ambiente difícil, perdemos 2-1», resumiu Artur Jorge: «Agora vamos trabalhar.»
Artur Jorge chegou a Argel na segunda-feira para assinar por 18 meses. Para trás tinham ficado vários dias de contactos com o MCA (Mouloudia Club de Alger), um clube com ambições mas muito aquém das expectativas no campeonato. Sete vezes campeão argelino, a última das quais em 2010, o MCA tem o maior orçamento entre as 16 equipas da Liga, mas um péssimo arranque de época deixou a equipa com apenas nove pontos no último lugar, à 11ª jornada.
Ao afastamento há duas semanas do anterior treinador, Boualem Charef, seguiu-se a busca por um novo técnico. E a escolha recaiu no treinador que foi campeão europeu com o FC Porto. Um nome de referência da história do futebol português, antes do mais como jogador. Depois como treinador, numa carreira que começou no início dos anos 80 e teve o ponto alto em Viena, a 27 de maio de 1987: o título europeu ganho ao Bayern Munique, numa vitória que começou no calcanhar de um certo Rabat Madjer, figura maior do futebol argelino.
A referência não passou em claro na Argélia, a propósito da chegada de Artur Jorge.
Sans la moustache et dégarni, choqué de voir Arthur Jorge, on était restés bloqué à 1987 et la talonnade de Madjer http://t.co/AcLLDNhXGy
— DZFoot (@DZFootcom)
November 24, 2014
Três vezes campeão nacional com o FC Porto, o homem a quem uma dia chamaram Rei Artur tem em França o outro país de referência da sua carreira. Primeiro no Matra Racing, no intervalo de um segundo regresso ao FC Porto, depois no PSG, para onde levou os ex-benfiquistas Valdo e Ricardo Gomes.
Campeão francês em 1994 com um PSG ainda a sonhar em tornar-se grande, muito longe da chegada dos milhões arábes dos tempos modernos, rumou de seguida ao Benfica. A passagem pela Luz, num período conturbado do clube, ficou marcada por um problema de saúde no início da primeira época que o manteve afastado por meses. Foi afastado na época seguinte, substituído por Mário Wilson.
Para Artur Jorge seguiram-se uma série de experiências diferentes. A seleção da Suíça, também a Seleção Nacional, numa segunda passagem, depois de uma primeira experiência no cargo em 1990/91. Depois o Tenerife, o Vitesse, um regresso ao PSG antes de uma experiência na Arábia Saudita, a seguir o último regresso a Portugal, para treinar a Académica, em 2002/03. Ainda o CSKA Moscovo, a seleção dos Camarões e por fim, em 2007, um regresso a França, para o Creteil-Lusitanos.
Desde então não voltou a treinar. Mas não era uma reforma, diz. «Neste período não trabalhei, mas não deixei de ter vontade de trabalhar», disse ao Maisfutebol, quando questionado sobre o que o motivou a regressar ao ativo, depois de tanto tempo afastado: «Vim para um bom campeonato, estou convencido que as coisas vão correr bem.»
A insistência do MCA na contratação de Artur Jorge foi grande, tinha também revelado o treinador. «Eles telefonam-me todos os dias, querem que eu vá lá», dizia o treinador ao jornal «Record» há uma semana. Acabou por viajar e foi recebido com aparato no aeroporto de Argel, onde chegou acompanhado do seu advogado.
Nesta quarta-feira a agência de notícias argelina avançava com a oficialização da contratação por 18 meses, citando o presidente do clube a enfatizar o currículo de Artur Jorge, o primeiro campeão europeu a treinar um clube argelino.
«Escolhemos um treinador com provas dadas. Penso que, com ele, o MCA poderá começar de novo. Artur Jorge é o homem do momento e vamos garantir-lhe todos os meios para que possa levar a bom termo a sua missão», disse Hadj Taleb: «Espero que com a chegada de Artur Jorge os resultados apareçam.»
«Estava tudo mais ou menos combinado há uns dias. Está a correr bem», diz Artur Jorge. E que lhe pediram os responsáveis do clube? «O que as pessoas querem é que o clube consiga bons resultados. Temos tempo para equilibrar o que não está bom», confia o treinador português, que diz ter já estudado o plantel e a equipa, antes de assumir o comando: «Estou mais ou menos dentro da equipa, do que tem feito.»
Ao seu lado, Artur Jorge deverá ter Valdo. O antigo internacional brasileiro, agora com 50 anos, deixou de jogar em 2004 e teve algumas experiências no banco, mas também como empresário. Artur Jorge ainda não dá a sua chegada como certa, mas diz que está bem encaminhada, admitindo vir a contar também com Raúl Águas, que o acompanhou como adjunto em muitos momentos da carreira. «Valdo? Em princípio sim. O que a gente quer é pessoas e jogadores que nos vão ajudando cada vez mais», diz: «São pessoas capazes de ajudar um bocado nisto tudo.»