Mais longe e mais alto é uma rubrica do Maisfutebol que olha para atletas e modalidades além do futebol. Histórias de esforço, superação, de sucessos e dificuldades.

Pedro Sousa está na iminência de tornar-se no sexto tenista português da história a figurar no top 100 mundial, depois de Nuno Marques, Frederico Gil, Rui Machado, João Sousa e Gastão Elias.

O tenista natural de Lisboa está aos 29 anos a praticar o melhor ténis da carreira. Três vitórias em torneios do circuito «Challenger» valeram-lhe, entre abril e esta semana, uma respeitável ascensão do 219.º para o 105.º lugar do ranking mundial.

A pergunta que se impõe. Que Pedro Sousa é este em comparação com aquele que até há pouco mais de um ano mal tinha conseguido furar o top-200?

«Fui operado duas vezes ao pulso esquerdo no início e no final de 2014 e perdi bastante ranking. A motivação não era muita, tive de recomeçar do zero e foi bastante difícil reabituar-me à exigência da competição e dos treinos quando voltei», explica em conversa com o Maisfutebol poucos dias após ter representado Portugal na Taça Davis contra a Alemanha.

Pedro Sousa fala de uma rotura do ligamento triangular do pulso esquerdo que o afastou do circuito durante quase um ano e meio. «Depois de recuperar da primeira operação ainda fiz dois ou três torneios, mas o pulso não estava bom e tive de ser operado outra vez: 2015 foi um ano muito difícil, mas no ano passado consegui jogar bem e ganhar bastantes jogos em torneios ‘Future’.»

Foram mais de 80 vitórias materializadas em seis torneios conquistados e o regresso ao top 200, onde não estava desde o princípio de 2014, altura em que o azar começou a bater-lhe à porta.

Azar para trás e um 2017 de sucesso, a confirmar os bons sinais deixados no ano anterior. Na última atualização do ranking, Pedro Sousa atingiu a melhor posição da carreira e não está fora de hipótese que daqui a uns dias – apesar de não estar em competição nesta semana – o leitor volte a ler uma notícia deste género.

«Desde abril que me tenho sentido cada vez melhor. Tenho trabalhado bem e os resultados estão a aparecer. Se estou surpreendido com o meu ranking? Não estou muito surpreendido, porque sei que se continuar nesta linha os resultados aparecem mais tarde ou mais cedo» diz.

Ainda assim, Pedro Sousa reconhece que no início do ano não esperava estar agora tão perto de quebrar a barreira dos cem melhores tenistas do mundo. «A ideia era terminar a época dentro do top 150 para atacar o top 100 só em 2018. A verdade é que já estou perto e espero chegar ao fim do ano com ranking suficiente para entrar direto no Open da Austrália em janeiro: 101, por aí, é o meu objetivo.»

Morrer na praia, Pedro? Não seria uma desilusão fechar a época fora dos 100 melhores?

«Não! Obviamente que agora estou mais perto e que gostava de ser top 100, mas se não chegar lá vou continuar a tentar», garante.

As semelhanças com João Sousa e a melhor geração da história do ténis português

Atualmente, Pedro Sousa é o segundo melhor tenista nacional da hierarquia. À frente dele só João Sousa, o melhor português de sempre e o único a conseguir vencer torneios de categoria ATP. Pedro Sousa diz que já se habituou a ser confundido fora de Portugal com o número 1 luso. «Somos parecidos fisicamente, temos o mesmo nome e somos do mesmo país. É normal perguntarem se somos irmãos», brinca.

Pedro e João Sousa são por estes dias os porta-estandartes da representação portuguesa no mundo do ténis, que tem, pela primeira vez, quatro portugueses em simultâneo no top 200: Gastão Elias e João Domingues são os restantes. «Esta é capaz de ser a geração mais forte de Portugal, se bem que a do Frederico Gil e a do Rui Machado, que também apanhou a minha, a do João e a do Gastão, também foi forte. Espero que no próximo ano possam estar ainda mais jogadores no top 200 e, quem sabe, no top 150 ou top 100. O Domingues e o [Gonçalo] Oliveira (231.º) são dois miúdos que estão a jogar bem e a subir. Acho que o ténis português está em forma, não sou só eu», aponta.                                                                              

Crescer nos courts e o sonho de defrontar referências

A ligação de Pedro Sousa ao ténis é tão antiga que nem se lembra de quando começou a praticar. «Devia ter quatro ou cinco anos. Os meus pais têm clubes de ténis e eu jogo desde sempre», conta.

Sousa cresceu a admirar Guillermo Coria e Marat Safin: o primeiro um especialista em terra batida (tal como o português); o segundo, campeão de dois torneios do Grand Slam e antigo número 1 mundial. Durante a infância praticou outros desportos. Experimentou o judo, andou pela natação e pelo futebol, mas nada que fosse levado tão a sério como o ténis. «A partir dos 13/14 anos comecei a participar em torneios internacionais e passei a encarar isto de forma natural.»

O top 100, objetivo de carreira que traçou quando chegou ao circuito, ainda não foi alcançado mas está aí ao virar da esquina, a caminho dos 30. «Claro que no início não esperava que demorasse tanto tempo [risos], mas nem sempre é quando nós queremos. Passei por fases menos boas, por lesões, mas isso já está ultrapassado e vamos ver como será daqui para a frente.»

Agora, Pedro Sousa está na iminência de trocar os torneios de categoria «Challenger» pelos ATP. Na fronteira de uma espécie de segunda divisão do ténis com a entrada direta num torneio do Grand Slam, reservada aos melhores 104 tenistas da hierarquia, privilégio que o português ainda procura ter pela primeira vez.

Para breve, tal como o top 100, podem estar confrontos com os melhores do mundo: Federer, Nadal, Djokovic ou Murray. «Seria engraçado jogar com um deles, mas primeiro tenho de chegar lá e falta esse pequeno passo ainda para sonhar um bocadinho mais a sério com isso. Tenho-os a todos como grandes referências, mas o Federer e o Nadal… aos 30 e tal anos já ganharam tudo e mais alguma coisa e este ano mostraram que ainda estão aí para as curvas e fizeram das melhores épocas das carreiras», remata.

Que o sonho se torne realidade em janeiro na Austrália.