Houve um tempo em que Márcio Sousa não era Márcio Sousa: era Maradona. Há muitas alcunhas no futebol, mas a de Márcio Sousa era mais do que isso: era quase um nome. Nos treinos, nos jogos, nas palavras até de Mourinho quando o chamava a treinar com o F.C. Porto, ele era Maradona.

Uma alcunha que justificava pelas promessas. Era a estrela, por exemplo, da seleção nacional de sub-17 que foi campeã europeia em Viseu. Mais do que Miguel Veloso, Paulo Machado ou João Moutinho. Ele era a estrela. Marcou os dois golos que valeram o triunfo sobre a Espanha na final.

Este Maradona, hoje, é capitão do Tondela. Este Maradona hoje já não é Maradona: é apenas Márcio Sousa. «As coisas aconteceram assim. A alcunha já vem de muito cedo. Há algumas pessoas no mundo do futebol que ainda me conhecem por Maradona, mas eu sempre me chamei Márcio.»

«Até comecei a dizer aos meus colegas que queria que me chamassem por Márcio, porque Maradona só houve um. É o meu ídolo desde sempre, admiro-o muito, mas como Maradona não há mais ninguém. Eu tenho o meu nome e quero ser conhecido por ele», conta ao Maisfutebol.

Quem o viu em 2003, a encher os relvados do Europeu de fintas, passes geniais e golos, estranha que Márcio Sousa tenha andado perdido na II Divisão. Esta época chegou à Liga de Honra, é certo, mas mesmo isso é demasiado curto. «A alcunha nunca me prejudicou», garante Márcio Sousa.

«A vida de futebolista é mesmo assim, temos altos e baixos no futebol, nunca tive oportunidade de jogar na primeira divisão». A subida à Liga de Honra foi feita aliás a pulso. Começou no F.C. Porto, passou por Sp. Covilhã e Vizela, chegou a ir parar aos distritais. A partir teve de começar de novo.

V. Setúbal-Tondela, 1-0: veja como foi o jogo

«Este ano estou na II Liga, estamos a fazer um excelente campeonato e vou fazer tudo para que as pessoas vejam, e espalhem, que o Márcio que foi campeão de sub-17 está aqui, está vivo, tem valor e vamos fazer qualquer coisa de engraçado porque ele tem qualidades para chegar cá acima.»

A ambição continua a ser grande: chegar alto. «Tenho apenas 25 anos. Gosto muito do Tondela, admiro-o, respeito-o e faço qualquer coisa por este clube. Mas tenho ambições de chegar mais longe. Se for com o Tondela, ótimo, se não for, tenho de olhar pela carreira e pela minha vida .»

Ora nesta altura a conversa chega ao Tondela. Apesar de ainda desconhecido da maior parte das pessoas que seguem o futebol superficialmente, o pequeno clube mostrou em Setúbal excelentes princípios. Foi eliminado, é verdade, mas foi quase sempre melhor e ameaçou fazer uma surpresa.

«Criámos seis ou sete oportunidades de golo, mas na hora chave a bola não entrava», lamenta. «Não é por atacar muito ou criar muitas oportunidades que se ganha jogos e o V. Setúbal provou isso mesmo: foi eficaz e ganhou. Nós jogámos bem, fizemos vários remates, só faltou a bola entrar.»

Agora é altura de trabalhar para uma montra maior. «Não é por termos subido este ano que vamos dizer que não podemos subir. Não, claro que não: podemos subir. Mas o campeonato é longo e muita coisa vai acontecer». O caminho do clube, com o de Márcio Sousa, está só a começar.