Weltmeister!!!+!

Disseram ao que iam. Chegaram com um sorriso e partiram com outro ainda maior. A Alemanha não enganou ninguém no Brasil 2014. E, claro, no final de muitos onze contra onze venceu.

Assim que aterrou, avisou o que queria. Ser campeã do mundo. Noutros tempos, seria uma afirmação arrogante. Afinal, o torneio era em casa do pentacampeão Brasil. Mas desde o jogo com Portugal até ao último, com a Argentina, a Mannschaft deu consecutivas demonstrações de força.

Perante o melhor jogador do mundo em 2013, e o resto da seleção portuguesa, os germânicos fizeram a primeira dessas demonstrações: goleada por 4-0. Seguiu-se o empate com o Gana, mas nem por isso Joachim Low retirou a candidatura. A vitória sobre os EUA foi apenas lógica. Nos oitavos de final, a Argélia foi difícil, complicada, o triunfo sofrido, num dos jogos mais empolgantes do torneio.



A França foi despachada com um golo de Hummels e o Brasil foi trucidado nas meias-finais. Por fim, a Argentina. O rival de duas finais, uma de tristeza em 1986, outra de alegria em 1990. Higuaín perdeu uma ocasião de ouro quando havia 0-0 e, nestas coisas, a sentença germânica é normalmente dura: golo de Mario Götze, no prolongamento, o ponto final de um processo iniciado em 2000.

No fundo, foi o pensamento alemão após o Europeu da Holanda e Bélgica que venceu no Brasil. Trabalho semeado durante anos e apanhado por fim no mítico Maracanã. A Alemanha é tetra. Com toda a lógica.

Holandês voador

Provavelmente, o momento mais refinado deste Mundial 2014. Foi, com certeza, o primeiro ponto alto do torneio, aquele que pela primeira ocasião deixou os fãs de boca aberta. Aquele golo de Van Persie à Espanha. Podemos recordá-lo apenas assim. Porque quem o viu jamais o esquecerá. Um holandês voador, numa cabeçada épica, no início da derrocada espanhola.

O lance é perfeito. Um cruzamento (passe, melhor dito) longo, de Daley Blind. Van Persie corre na direção da área para o encontrar, com Sergio Ramos a não entender nada do que vinha dali. A conexão da cabeça do holandês com a bola é sublime, frente ao guarda-redes campeão do mundo em título, desta vez desamparado, a ver a trajetória da bola, enquanto Van Persie aterrava de um golo sonhado.



James olha, para e chuta para Madrid

Golaço, golaço a valer uma transferência milionária. Ali, naquele momento, o menino que Colômbia, Argentina, Portugal e França conheciam mostrou-se ao resto do mundo. Num pontapé do meio do Maracanã, James Rodriguez transferiu-se para o colosso Real Madrid,

Claro que não terá sido bem assim, mas ajudou e muito. Frente ao Uruguai, nos oitavos de final, James Rodriguez deu a derradeira prova de que era uma das figuras deste Mundial 2014. O esquerdino já tinha apontado três golos na prova, distribuídos por outros tantos encontros. Mas ali, frente a uma rival sul-americana, o Maracanã foi de James.

Bola no ar, o 10 da Colômbia olha por cima do ombro, para ver quem está. Para no peito e atira de pé esquerdo. O Real Madrid ficou sem dúvidas, e nem terá precisado que James Rodriguez tivesse marcado mais dois golos (um ao Uruguai, outro ao Brasil), num total de seis, para ficar convencido.



A invasão chilena

Um ano antes, havia os protestos dos brasileiros. Durante o torneio, foram praticamente irrelevantes. Ainda assim, nem tudo correu bem no Brasil 2014. A principal prova é a invasão chilena ao centro de imprensa do Maracanã.

O caos provocado pelos adeptos daquela seleção sul-americana antes do encontro com a Espanha foi alarmante. Dezenas de fãs vestidos com as réplicas do Chile protestaram da pior forma o facto de não terem possibilidade de obter bilhetes para o jogo frente à campeã do mundo. Causaram danos, provocaram medo. Mostraram uma enorme falha de segurança na organização.

¿Que viva España?

Por eso se oye este refrán
«Que Viva España»
Y siempre la recordarán
«Que Viva España»
La gente canta con ardor
«Que Viva España»
La vida tiene otro Sabor,
Y España es la Mejor

Não, já não é a melhor. A Espanha caiu ao segundo jogo do Mundial 2014. Frente ao Chile, La Roja terminou um período belo da história do futebol e ficou sem possibilidades de chegar aos oitavos de final do torneio.

Nunca uma seleção terá sido tão dominante como a espanhola entre 2008 e 2014, mas a verdade é que, no palco gigante do Maracanã, o Chile venceu a campeã do mundo em título e carimbou-lhe o bilhete de regresso a casa.

Quando um campeão cai, qualquer que seja, em qualquer modalidade, o barulho da queda ouve-se. Quando uma campeã como a Espanha cai, o estrondo ecoa pelo planeta.

A 18 de junho, o mundo sabia que ia ter um novo campeão do mundo de futebol.

Os 16 de Klose

Miroslav Klose chegou com duas missões ao Brasil: ajudar a Alemanha ser campeã do mundo, passar o brasileiro Ronaldo Fenómeno como melhor marcador de Mundiais. Conseguiu ambas e, por isso, ficou na história.

Oito anos depois de Ronaldo chegar aos 15 golos, Klose chegou aos 16. O brasileiro tinha passado o alemão Gerd Müller em solo germânico. Klose devolveu na mesma moeda. Não só em solo brasileiro, como frente à canarinha na mãe de todas as goleadas.

Os americanos são bons com as mãos

Um Mundial com um grande número de golos, mas também com guarda-redes em destaques. O Brasil 2014 teve grandes goleiros, mas nenhuma exibição terá sido tão grande como a de Tim Howard frente à Bélgica.

Ochoa brilhou frente ao Brasil, Keylor Navas foi porto seguro da Costa Rica ao longo do torneio, Neuer foi Neuer. Howard foi simplesmente recordista frente aos Diabos Vermelhos.

Os EUA sucumbiram no prolongamento, mas Howard levou-os até lá com 16 defesas na partida. Desde que há registos destas coisas, é o número mais alto de sempre. Algumas das difíceis defesas foram com os pés, mas o número 1 dos USA provou que os norte-americanos são mesmo bons a jogar com as mãos.

Van Gaal acaba com a sensação da prova

Foi preciso uma jogada de mestre para a Costa Rica cair neste Mundial 2014. A equipa centro-americana foi a maior sensação do Campeonato do Mundo. Limpou aquele que era tido como o grupo mais difícil, passou os oitavos de final e encontrou-se com a Holanda.

A equipa de Van Gaal defrontou uma das melhores defesas do torneio e não a quebrou. Foi preciso recorrer às grandes penalidades para se encontrar o vencedor e instantes antes desse momento, uma daquelas coisas que vai ficar para sempre ligada ao agora técnico do Manchester United.

Na baliza estava Jasper Cillessen e o público ficou em suspenso quando viu a Holanda a fazer a substituição: era o guarda-redes que saía. O plano foi escondido do titular, com Tim Krul a entrar para defender as grandes penalidades. Resultado: sempre que algum treinador se lembrar de fazer o mesmo, Van Gaal será recordado. A Holanda venceu nos penáltis com Krul a ser o herói e avançou para as meias-finais.

As mandíbulas de um uruguaio

Luis Suárez foi uma figura incontornável de 2014. No Liverpool foi brilhante, no Mundial os uruguaios esperaram por ele, gritaram com ele os golos à Inglaterra e, por fim, indignaram-se por ele. Pior ficou o italiano Chiellini, no entanto.



Com o registo «criminal» já com alguns pontos assinalados, Suárez atirou-se ao ombro do defesa transalpino e mordeu-o. Não era a primeira vez, não era a segunda, mas foi a última vez que o ponta de lança foi visto no Mundial 2014. A suspensão foi imediata, o castigo pesado, mas ficará para sempre como um dos momentos do Campeonato do Mundo do Brasil em 2014: os vários produtos, as tatuagens, as piadas que se fizeram por causa dele assim o indicam.

O Mineirazo

Claro que o ponto alto de um Campeonato do Mundo é sempre a consagração da equipa vencedora. Mas o Mundial 2014 do Brasil vai ecoar na eternidade também por causa disto. O único pentacampeão da história do futebol até ao momento joga em casa. A partida é referente à meia-final. Ou seja, uma nação inteira está à beira de um sonho. Não é uma qualquer nação. É nação do futebol bonito, dos craques, aquela que nunca falhou um torneio e que entra nele sempre como favorita. Por isso, os 7-1 que a Alemanha aplicou ao Brasil não foram apenas a diferença entre dois mundos. Foi muito mais do que isso. Sim, a Mannschaft será recordada como campeã mundial de 2014. Já o Brasil como o grande derrotado, com um vexame no Mineirão. E sempre que alguém disser, a qualquer momento, «gol da Alemanha», um brasileiro sentirá um arrepio na espinha.