* enviado-especial ao Brasil

Foi como se a goleada sofrida pelo Brasil na meia final tivesse virado uma página na relação do Rio de Janeiro com este Mundial. O clima ameno, num inverno em que são frequentes temperaturas de 30 graus, deu lugar nos últimos dois dias ao frio e à chuva intensa. E foi num cenário bem mais agreste do que nas anteriores semanas de Copa que a Cidade Maravilhosa se preparou para lidar com a invasão argentina – o tema de fundo na maior operação de segurança alguma vez efetuada nesta cidade. Ou mesmo no país, como garantiu o secretário de Estado da Segurança Pública, José Mariano Beltrane, em conferência de imprensa.

Quem passa pelo Sambódromo da Marquês de Sapucaí, a escassos quatro quilómetros do Maracanã, pode pensar por momentos estar num festival de música muito alternativo, na versão mais benigna, tal a quantidade de tendas de campanha, barbas hipsters, roulotes e carrinhas pão de forma de saúde mais do que precária. O repertório de canções é mais limitado, e quase monotemático: com os mais variados embrulhos, acaba sempre por pretender provar que Maradona é maior que Pelé, como no omnipresente cântico que tomou o Mundial de assalto: «Brasil, decime que se siente, tener en casa a tu papa/ te juro que aúnque pasen los años/nunca nos vamos a olvidar/Que el Diego gambeteó/El Cani vos vacunó/Están llorando desde Italia hasta hoy.»

O acampamento é ornamentado em tons de azul-celeste e branco, que nem a lama das últimas chuvadas consegue disfarçar. Um pouco mais à frente, o cenário repete-se no Terreirão do Samba, onde até o enorme palco já foi tomado pelas tendas. O local foi escolhido pela prefeitura do Rio, para desanuviar a pressão dos visitantes sobre Copacabana, que se tinha transformado em acampamento improvisado antes do jogo com a Bósnia, que marcou a estreia da Argentina no Mundial.

Ao certo, ninguém sabe quantos são, embora as estimativas mais ambiciosas apontem para cem mil até domingo. O máximo, até agora, tinha sido cerca de 40 mil, nos quartos e na meia final, mas é certo que o número será superado no Rio. E já se sabe que a grande maioria não tem bilhete, nem hipótese de consegui-lo – os números oficiais da FIFA referem que cada federação teve direito a apenas 13 mil bilhetes, e a lotação total do estádio vai rondar os 74 mil. Esse é, pois, o grande motivo de preocupação que levou as autoridades brasileiras a destacarem para domingo quase 26 mil agentes dos vários ramos das forças policiais: 15 mil polícias militares, 9300 soldados, 800 polícias de elite, além de 1600 seguranças privados contratados pela FIFA, que estarão no interior do estado.

Para além de potenciais incidentes entre adeptos, a operação visa também acautelar a segurança dos vários chefes de Estados e políticos que vão povoar a tribuna VIP do Maracanã, entre eles Angela Merkel, Vladimir Putin e Dilma Rousseff, que participará na entrega do troféu, num previsível clima de contestação.

Mais uma vez, as autoridades vão tentar impedir a venda de álcool nas imediações do estádio pelo menos nas duas horas que antecedem o pontapé de saída. A venda de álcool continuará, porém, a ser permitida no interior do estádio, por exigência da FIFA. O Maracanã ficará rodeado por um cordão de segurança já a partir do final da noite de sábado, com as vias de acesso bloqueadas a trânsito, e sucessivos controlos de bilhetes.