O dia 26 do Mundial-2014 em cinco pontos:

1.
Di Maria não fará tanta falta à Argentina como Neymar vai fazer ao Brasil: mas quase. O futebol da alviceleste, nos primeiros cinco jogos deste Mundial, ficou abaixo do que a Argentina pode valer e das expectativas que uma seleção com tanto talento sempre gera. Duas peças destoaram… pela positiva. Messi, claro, que jogo após jogo resolveu em momentos de génio o que a equipa foi adiando; e Di Maria, um caso muito especial nesta seleção de Sabella e no próprio futebol internacional. Raro encontrar um elemento de tanto talento, quase a rivalizar nesse aspeto com os supercraques Neymar/CR7/Messi, que reúna um sentido coletivo tão grande e uma capacidade de saber recuar nos momentos em que é preciso. Se fica difícil imaginar como Scolari vai compensar, no Brasil, a perda da Joia, Sabella também vai ter que dar muitas voltas à cabeça para encontrar a fórmula certa que possa, de algum modo, fazer esquecer «angelito» nos últimos dois jogos da prova. Será possível?

2. E o Brasil sem Neymar? Ponto prévio: o «estado de negação» nunca é um bom princípio. A partir do momento em que o departamento médico da CBF foi claro ao assumir que Neymar está obviamente fora dos últimos dois jogos, dado que a lesão sofrida no lance com Zuñiga tem recuperação nunca inferior a três semanas (e talvez exija entre um mês e seis semanas), tudo o que tenha a ver com «recuperações milagrosas de última hora» entram na ordem do
«wishful thinking». Basta lembrar o que sucedeu com Diego Costa, na final da Champions pelo At. Madrid: a recuperação também parecia «milagrosa», depois de intervenção de «especialista» um pouco duvidosa, e Diego acabou por ter que sair aos nove minutos, «queimando» uma substituição que condicionou o resto do jogo da equipa de Simeone.
Seria completamente irresponsável que Scolari e Parreira enveredassem pela via de tentar «recuperar Neymar para a final com infiltrações». Prejudicaria a preparação do jogo de amanhã com a Alemanha (e sem uma vitória em Belo Horizonte, não há Brasil, com ou sem Neymar, na final de domingo, no Maracanã). Retiraria confiança a quem substituir Neymar no onze. E quem será, então? Olhando para as conferências de domingo, Bernard e Willian talvez sejam mesmo as hipóteses mais fortes. Com Bernard, haveria uma mera reposição de unidades, colocando o jovem do Shakhtar numa ponta, Hulk noutra, Fred no meio e Oscar a aumentar importância como «10». Se for Willian, isso implicará uma alteração tática, talvez num esquema mais próximo do 4x4x2. Mas Hernanes e Ramires também serão hipóteses a ter em conta. Seja quem for, ninguém chega sequer perto de Neymar. E isso é o dado mais importante na antecipação do Brasil-Alemanha desta terça.

3. O caso extraordinário da troca de Cilessen por Tim Krul ao minuto 120 (sem dúvida, um dos momentos que vão ficar registados na história deste Mundial) volta a colocar a questão? O desempate por penalties é mesmo «uma lotaria»? Que percentagem de «mérito» há de quem vence e de «demérito» de quem perde? Dá para antecipar assim tanto o cenário, como supostamente fez Van Gaal, que poupou uma substituição, mesmo em jogo tão desgastante como aquele com a Costa Rica? Mesmo tendo corrido tão bem, será que a potencial vantagem de meter o guarda-redes mais habilitado para as grandes penalidades não teria sido risco demasiado, em prejuízo da possível resolução do problema durante o prolongamento? Futebol é risco e Van Gaal assumiu ao máximo com esta jogada, para uns de génio, para outros… de louco. Foi, talvez, um um pouco das duas coisas. Correu bem e está a colher os louros. Mas… e se tivesse corrido mal? Não teria a Holanda a obrigação de ter tentando eliminar a Costa Rica nos 120? E ainda sobre o desempate por grandes penalidades: nenhuma dúvida que é forma mais justa de resolução de impasses, se comparada com o «golo de ouro» (isso sim, cruel) ou por sorteio ou moeda ao ar (um torneio que premeia o mérito não deve acolher tal cenário). Mas basta lembrar a final de Turim da Liga Europa para nos recordarmos como uma equipa pode jogar muito mais (Benfica) e a outra possa festejar no final (Sevilha). Até melhor solução, que se mantenha esta fórmula: mesmo que nem sempre seja justa, é sempre emocionante.

4. Final europeia (Alemanha-Holanda), final sul-americana (Brasil-Argentina), ou mista (Alemanha-Argentina ou Brasil-Holanda)? Qualquer das quatro formulações serão interessantes, mas sem dúvida que significarão coisas bem diferentes. Um duelo Alemanha-Holanda (solução um pouco mais provável sem Neymar no Brasil e Di Maria na Argentina) seria a suprema ironia, depois de semanas de anúncios de um suposto «mundial sul-americano e de fracasso europeu». Um Brasil-Argentina seria a tal «final de sonho», pela rivalidade máxima, eterna, entre brasileiros e argentinos. Mas sem a Joia do escrete, faltaria, de facto, o lado mais gracioso de quem está a jogar em casa. Entre as hipóteses «mistas», um Alemanha-Argentina será talvez mais provável que um Brasil-Holanda. E seria, também, a reedição das finais de 86 e 90. Depois do triunfo argentino de 86 e da vitória alemã, quatro anos depois, como seria esse desempate? Sem Neymar e Thiago Silva, o Brasil não terá mais que 45% de hipóteses com a Alemanha. No Argentina-Holanda, o maior talento alviceleste colocará a coisa nuns 53/47, mesmo sem Di Maria. Dê por onde der, estão garantidos a emoção e o interesse competitivo para a final de domingo, no Maracanã. Quanto ao espetáculo, já não é tão seguro assim. Veremos.

5. Não há surpresas relevantes nos quatro semifinalistas (um «penta», Brasil, um «tri», Alemanha, um bicampeão mundial que tem Messi, Argentina, e o finalista vencido do Mundial de há quatro anos, Holanda). Mas há quem considere que nenhuma das quatro pretendentes ao título está a convencer por completo. E que talvez houvesse outros semifinalistas mais estimulantes (tipo Costa Rica surpresa total, ou Bélgica pelo talento, ou a França pelo ataque, ou a Colômbia pela qualidade de James e amigos). Tudo bem. Mas convém não esquecer que Mundial é também tradição. Mesmo que não joguem muito mais que os outros, as seleções mais cotadas, nos momentos certos, aparecem. É o que está a acontecer.

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na revista MF Total . Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.