O dia 11 do Mundial-2014 em cinco pontos (excecionalmente às 19.30h, para antecipar o Portugal-EUA de Manaus):

1. Numa situação normal,
Portugal vence os EUA. Tem melhores jogadores, está muito melhor no ranking FIFA, os últimos anos mostraram, em sucessivas competições internacionais, uma dimensão da Seleção portuguesa bem superior à norte-americana. O problema é que o jogo em Manaus não se realizará num quadro de normalidade. Portugal foi triturado, no passado dia 16, pela Alemanha, em Salvador. As marcas do massacre ainda estão muito presentes: a pior derrota de sempre da «equipa das quinas» em mundiais ou europeus; a expulsão de Pepe; as lesões graves de Coentrão e Almeida; a lesão, ainda não muito bem explicada, de Rui Patrício. O problema de Bruno Alves, que pode redundar numa quinta baixa. As dúvidas (talvez pouco fundamentadas) quanto a uma adequada preparação para o clima de Manaus (alta temperatura e humidade muito elevada). Quadro terrível. Pior cenário de adversidades seria difícil de imaginar. Bom, só talvez se Cristiano Ronaldo piorasse e também não pudesse jogar. Salvo seja.

2. Tantos contras retiram-nos o sonho? Claro que não. E este «claro que não» nem sequer é daquelas respostas de circunstância. Não é um «otimismo oficial». É uma leitura mais distanciada do momento. Portugal continua a ter a chave do apuramento na sua mão. Tem-na ainda mais depois do empate simpático da Alemanha com o Gana: duas vitórias, nem que sejam por 1-0, garantem-nos a passagem para os oitavos. A derrota com a Alemanha foi humilhante? Ok, mas esqueçam. Isso já foi há seis dias. E é perfeitamente possível que a nossa Seleção vença, de forma tangencial ou por muitos não interessa, norte-americanos e ganeses. A primeira jornada mostrou uma seleção dos EUA disciplinada, inteligente, forte a sair para o contra-ataque (hoje felizmente sem Altidore), mas convém lembrar que correu mesmo tudo bem aos americanos no jogo com o Gana. O triunfo, na verdade, não foi merecido. Poderão os EUA repetir diante de Portugal o feito de 2002? Não me parece.

3. Portugal levou quatro da Alemanha, os EUA ganharam ao Gana. Ontem, o Gana fez um excelente jogo com a Alemanha: empatou e podia perfeitamente ter vencido. Se o futebol seguisse uma lógica literal, Portugal corria o risco de ser goleado pelos Estados Unidos. Entre tantas coisas que adoro no futebol, uma das que mais gosto é mesmo essa: uma enorme imprevisibilidade. E como este Mundial está a ser rico em surpresas e grandes momentos. Acredito que Portugal vai aparecer bem em Manaus e que irá ganhar o jogo. Estamos a duas vitórias dos oitavos. Está na nossa mão. As quatro (ou cinco, se Bruno Alves não estiver mesmo apto) baixas até podem ter um lado positivo: é que os resquícios do massacre de Salvador passam a ser ainda menores. Será um 11 diferente, refrescado, esperemos que de cara levada e, como prometeu Paulo Bento, «de espada na mão». Convém que seja, porque o duelo com os americanos tem tudo para vir a ser um combate duro, que exigirá coragem. Mas também muita paciência e equilíbrio. Em 90 minutos, há coisas que correm mal, outras que correm bem. O que conta é o resultado final e este Mundial até já nos mostrou (por oito vezes e em sete jogos diferentes, com duas no Holanda-Austrália) que as reviravoltas são um elemento frequente do jogo. Paulo Bento tem razão quando afirma que «explicar a derrota frente à Alemanha com o calor é não perceber muito disto». Neste Mundial, apesar do clima estar a ser um dado influente, geralmente quem jogou melhor, ganhou. Quando isso não aconteceu, o motivo até foram as más arbitragens, não as condições climatéricas. O caminho para vencermos os EUA é difícil, mas não é assim tão estreito. Há que esgotar todas as possibilidades. Eu acredito.

4. A Bélgica está nos oitavos, confirmando-se como seleção a seguir com atenção nesta Copa brasileira. Ganhou à Rússia com golo que foi exemplo de contra-ataque, mas voltou a deixar a ideia de ser mais uma equipa «de resultados» e não «de espetáculo», como muitos desejavam. Num jogo taticamente interessante, mas sem grandes rasgos de arte, a Rússia pôs-se em situação complicada de garantir a segunda vaga. Até agora, os russos mostraram pouco futebol neste Mundial. Eles mesmo, os que ganharam o nosso grupo de apuramento e nos obrigararam ao playoff. 

5. Messi anda triste, talvez um pouco assustado com o problema de saúde não totalmente esclarecido, por certo desanimado com a época que o Barcelona fez. Mas mesmo triste, mesmo assustada, mesmo desanimada, a «Pulga» continua a ser o único elemento capaz de fazer a diferença numa Argentina dececionante. A «albiceleste» mostrou, nos dois jogos já realizados com vitórias tangenciais, que a soma de vários jogadores talentosos não dá forçosamente uma grande equipa. Mas o golpe genial de Messi a resolver o jogo de ontem com o Irão provou, uma vez mais, a importância do «melhor jogador» numa seleção. Luis Suarez tinha provado o mesmo, dois dias antes, na forma como foi capaz de «ressuscitar» o Uruguai (de desilusão com a Costa Rica a candidato ao apuramento, depois do triunfo sobre a Inglaterra). Será que Cristiano Ronaldo fará o mesmo daqui a umas horas, em Manaus? Ou Portugal, como equipa, será capaz de não ter que recorrer à sua superestrela?

«Do lado de cá» é um espaço de opinião da autoria de Germano Almeida, jornalista do Maisfutebol, que aqui escreve todos os dias durante o Campeonato do Mundo, sempre às 23.30h. Germano Almeida é também responsável pelas crónicas «Nem de propósito» e pela rubrica «Mundo Brasil», publicadas na MF Total. Pode segui-lo no Twitter ou no Facebook.