Oito longos anos. Foi o tempo que a Inglaterra teve de esperar para voltar a celebrar uma vitória na fase final de um Campeonato do Mundo. Aconteceu esta segunda-feira frente à Tunísia, graças ao oportunismo de Harry Kane.

A exibição da Inglaterra empolgou no primeiro tempo, mas por pouco não virou desilusão no segundo. Mas já lá vamos.

O desenho tático de Southgate empolgou os mais céticos e surpreendeu os tunisinos. Alli, Kane, Sterling e Lingard procuraram jogar dentro do bloco contrário, num futebol de toque curto e movimentações constantes. A largura era oferecida por Young e Trippier, enquanto Henderson raramente abandonava a zona central, de forma a evitar eventuais contragolpes tunisinos.

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A fórmula resultou durante os primeiros quarenta e cinco minutos. A seleção dos «Três Leões» criou oportunidades suficientes para chegar ao intervalo com o jogo resolvido. Logo aos três minutos, Lingard – o homem mais perdulário do conjunto inglês – atirou para excelente defesa de Hassen.

À segunda, a Inglaterra não perdoou. Canto batido por Young para a cabeça de Stones que viu Hassen realizar uma excelente estirada. Contudo, na recarga, o guarda-redes da Tunísia foi impotente: Kane surgiu à boca da baliza e encostou para o primeiro da noite na Volvograd Arena.

Os festejos ingleses contrastaram com as dificuldades físicas do guarda-redes Hassen. O número das «Águias de Cartago» foi forçado a sair devido a lesão, deixando o relvado em lágrimas.

A Inglaterra dominava a Tunísia a seu bel-prazer e não se fartava de encontrar espaço para provocar estragos. Lingard, servido por Young, falhou o remate em zona privilegiada (25’) e, cinco minutos mais tarde, Maguire – alvo de todos os lances de bola parada – atirou para defesa segura do recém-entrado Farouk.

Um tímido disparo de Sassi tinha sido tudo o que a seleção africana tinha conseguido até à passagem da meia hora. Uma exibição de contraste absoluto em comparação com o que mostrou nos jogos de preparação. Porém, um erro tremendo de Kyle Walker – atingiu com um braço Fakhreddine Ben Youssef na área – atirou Sassi para a marca de grande penalidade. O médio não tremeu no duelo com Pickford e fez a igualdade.

A Inglaterra não deu sinais de sentir o golo sofrido. Continuou a jogar de forma tranquila e desinibida, criando chances para regressar à vantagem. Lingard viu Bronn impedir que o seu remate acabasse no fundo das redes e Syam Ben Youssef evitou, em cima da linha de baliza, o golo de Dele Alli.

Em cima do apito para o intervalo, o poste negou o 2-1 a Lingard, após um desvio subtil na cara de Farouk.

Um regresso da Inglaterra à vantagem parecia ser uma questão de tempo. Contudo, na segunda parte, a Tunísia apresentou-se mais organizada, mais rigorosa e coesa, roubando espaço aos ingleses. Os comandados de Southgate começaram a acumular perdas de bola. Seguiram-se inúmeros passes errados e, por conseguinte, uma diminuição brutal no número de oportunidades de golo. Enfim, um espetáculo pobre a recordar a Inglaterra, por exemplo, de 2014.

Se a Tunísia raramente chegou perto da baliza de Pickford na etapa complementar, o mesmo se pode dizer da Inglaterra. Um livre de Ashley Young, que nem chegou a assustar Farouk, foi o melhor que a Inglaterra conseguiu em largos trinta e cinco minutos.

Southgate apercebeu-se das dificuldades da sua equipa e lançou Rashford para o lugar de Sterling. De seguida, não caiu na tentação de colocar os avançados que tinha no banco – como Vardy ou Welbeck – e introduziu Loftus-Cheek na partida. O futebol inglês ganhou outra fluidez e desenvoltura, e os homens de vermelho passaram a jogar bem dentro do meio-campo adversário.

Já depois de uma decisão horrível de Rashford – decidiu simular quando estava em excelente posição para rematar –, a Inglaterra chegou ao golo da vitória. Mais uma vez, através de um lance de bola parada semelhante ao que deu origem ao primeiro. Canto de Trippier, Maguire ganhou o duelo a Bem Youssef e Kane surgiu, oportuno, ao segundo poste a cabecear para o 2-1.

O príncipe Harry salvou a Inglaterra, devolveu-lhe a esperança e manteve-lhe intacto o sonho de repetir o título de 1966. Uma vitória com contornos dramáticos, mas inteiramente justa.