No centro do deserto verde da Mordovia, que durante o inverno se cobre de gelo e isola a cidade, fica situada Saransk. Até há pouco tempo quase desconhecida do mundo.

É uma localidade com ligeiramente menos de 300 mil habitantes, o que para a realidade russa é muito pouco, e que durante o tempo soviético era aquilo que se chamava uma cidade fechada: só podia entrar-se nela com uma autorização especial e um visto do governo.

Porquê? Porque era uma cidade militar. Basicamente albergava várias fábricas de material militar, que alimentavam as megalomanias do império soviético durante o período estalinista.

Com a Perestroika muitas dessas fábricas fecharam ou foram convertidas para produção de outras coisas, mas as pessoas ficaram, pelo que 85 por cento da população são russos caucasianos, que viajavam dos territórios mais ocidentais da União Soviética para trabalhar nas fábricas militares.

A desmilitarização da cidade tem aliás provocado a diminuição aos poucos da população, que de acordo com a última contagem já está ligeiramente abaixo das 300 mil pessoas.

Pouco habituada por isso ao cosmopolitismo de Moscovo, Saransk teve de ser praticamente reconstruída para o Mundial 2018.

Gastaram-se mais de 500 milhões de euros para construir uma novidade cidade, aliás: à semelhança do que foi feito em Sochi, para os Jogos Olímpicos de Inverno, também fora de Saransk nasceu uma nova Saransk, com prédios, centros comerciais, estradas e até um novo terminal de aeroporto queainda não está totalmente terminado e só vai servir o Campeonato do Mundo.

O estádio do jogo, o Arena Mordovia – que vai receber apenas quatro jogos e todos da fase de grupos -, tem 45 mil lugares que após o Mundial serão diminuídos para 27 mil, e fica precisamente nesta parte nova da cidade, com ruas largas e prédios de cores berrantes, para onde se deve mudar a classe média e média alta da cidade.

No fundo é uma nova cidade do outro lado do rio, ao lado da velha cidade, ela sim, muito bonita, sobretudo no centro histórico, onde ficam os serviços públicos nos habituais prédios centenários.

Ora apesar do forte investimento do governo na construção de novas infraestruturas, a escolha de Saransk para sede do Campeonato do Mundo foi muito polémica. Sobretudo porque deixou de fora do Mundial cidades muito mais indicadas para o serem. Como Krasnodar, por exemplo.

O que se diz na Rússia, em conversa com os locais, é que Saransk só foi eleita para sede do Campeonato do Mundo por causa da amizade de Vladimir Putin com Nikolai Merkushin, antigo governador da Mordovia e pai de Alexei Merkushin, o atual governador da região.

Vale a pena dizer, aliás, que Mordovia foi a segunda região de toda a Rússia que mais apoiou Putin nas últimas eleições, tendo votado no atual presidente cerca de 87 por cento da população.

Ora por isso já se percebe a eleição de Saransk para cidade do Mundial.

Mas não é só o Mundial que tornou Saransk famosa: antes disso, em 2013, já tinha andado nas bocas do mundo por causa de Gerard Depardieu. O ator francês zangou-se com o governo socialista de Paris, por causa da polémica lei de tributação às grandes fortunas, e pediu nacionalidade russa.

O pedido foi atendido por Putin e Depardieu recebeu passaporte russo e uma casa oferecida pelo governo em... Saransk. Desde então já batizou até um centro cultural, que ele próprio organizou.

Apesar da residência registada de Depardieu ser de facto Saransk, diz-se que o ator francês raramente está na cidade.

O que se percebe. Além de extremamente pequena e isolada, a cidade tem geralmente nove meses de inverno rigoroso. Não é o caso agora: as temperaturas estão acima dos 30 graus.